A pergunta está equivocada. Estas três modalidades de investimento, no final, não devem ser vistas como concorrentes, mas como produtos complementares que compõem uma carteira diversificada. Mesmo com a alta dos juros, que podem chegar em breve à casa dos dois dígitos, os brasileiros não devem – e nem podem – voltar a deixar todos os ovos num cesto só, como acontecia num passado recente. Afinal, nos últimos anos, temos visto a difusão da educação financeira e, com maior conhecimento em mãos, além da maior acessibilidade a diversos ativos, é possível ter um portfólio que priorize os ganhos de curto e longo prazo, com as mais variadas estratégias. Para isso, é preciso conhecer as características de cada uma das modalidades.
Muito se falou da migração dos investidores da renda fixa para a variável, no momento em que a taxa básica de juros (Selic) era reduzida a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A meta da Selic, que se manteve praticamente todo o ano de 2018 em 6,5%, passou a recuar a partir do final de julho de 2019, quando os cortes ficaram, em média, em 0,5 p.p. a cada reunião até que o patamar atingiu 2% ao ano em agosto de 2020 e por lá ficou até janeiro de 2021.
Todo esse movimento provocou uma enxurrada de ingressantes na bolsa, que passou de 835.217 CPFs registrados ao fim de 2018 para os atuais cerca de 4 milhões. O crescimento se arrefeceu com o retorno da alta da Selic para o atual patamar de 9,25%, mas sua continuidade comprova que há um maior apetite em diversificar os investimentos.
Não é à toa. Ainda há uma grande maioria de brasileiros que está aprendendo a lidar com novas opções em carteira. Para se ter uma ideia, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostram que as cadernetas de poupança são o destino de 56,7% dos investidores do varejo tradicional, o que equivale a R$ 820 bilhões. Para estes, a poupança é um porto seguro, mas o custo é obter uma baixa rentabilidade.
Neste caso, dar o primeiro passo é importante, colocando um pequeno percentual da poupança em outros investimentos. Primeiro vem as novas modalidades de renda fixa, basicamente, tesouro direto, fundos de investimentos prefixados etc. Depois se começa a ousar um pouco mais adicionando fundos imobiliários e um pouco de ações para passar a olhar para novos negócios e é aí que vem o crowdfunding.
A modalidade foi regulamentada pela CVM em 2017 e permite que as pessoas físicas invistam em startups com faturamento anual de até R$10 milhões comprando participações nestas empresas através de plataformas cadastradas na autarquia. Esta é uma forma de o investidor estar exposto à economia real sem ficar limitado às ações listadas na Bolsa, buscar empresas diversificadas menos maduras e com alto potencial de crescimento. Como aplicação, os investimentos deste tipo devem ser vistos como de longo prazo e, portanto, bem avaliados antes de qualquer aporte.
Ao mesmo tempo, mesmo que seja possível que o investidor faça aportes baixos, a partir de R$ 1 mil, o ideal é que o valor inicial seja mais significativo. Ora, ao participar de uma oferta de equity crowdfunding, ele está comprando uma parte do negócio (ações) por acreditar na startup e com o objetivo de vender sua participação no futuro. Neste sentido, quanto menor o aporte, menor a participação no negócio e o retorno absoluto obtido. Por outro lado, por ser de baixíssima liquidez, é preciso lembrar que o investimento é de longo prazo e, portanto, o investidor deve estar ciente de que não poderá resgatar o recurso caso precise para alguma emergência a não ser que encontre um comprador.
Renda fixa, ações e investimentos em startups não são mutuamente excludentes. Pelo contrário, devem ser encarados como complementares, assim como muitas opções que o mercado oferece. O primeiro, mesmo com a alta dos juros, oferece menor rentabilidade, mas em contrapartida a segurança e a liquidez. Assim deve compor um percentual da carteira voltado para emergências. As ações podem compor uma estratégia de longo prazo, quando se olha as boas pagadoras de dividendos, ou de curto prazo para aqueles que preferem aproveitar a volatilidade do mercado.
Por fim, o equity crowdfunding é uma forma de participar de um novo negócio com alto potencial de crescimento sem ter que se preocupar em pôr a mão na massa. Deve ser visto como uma forma de apoiar o empreendedorismo sem precisar empreender.
* Igor Romeiro é sócio fundador da plataforma de investimentos Efund