A taxa de juros americana provavelmente é o assunto mais falado do mercado financeiro mundial nos últimos dois anos. Com juros historicamente altos, na busca por conter a inflação persistente do pós-pandemia, os títulos do tesouro americano se tornaram muito mais atraentes para investidores do mundo inteiro em relação ao que representavam no passado recente. Esse fenômeno também reprecificou taxas da renda fixa de emissão privada, classe que apresenta oportunidades que há muito não eram vistas no mercado americano.
Para ajudar nessa leitura, realizamos uma análise comparativa dos rendimentos de diversos índices de renda fixa em relação ao seu histórico de 10 e 20 anos. Utilizamos índices de crédito privado de curto e longo prazo, com títulos de grau de investimento (high grade, com menor risco de calote) e alto rendimento (high yield, que compensam o maior risco com taxas de retorno mais elevadas), assim como índices que têm como benchmark (referência) títulos do tesouro norte-americano de curto prazo (até 12 meses) e longo prazo (mais de 15 anos).
(rendimentos refletem as taxas de fechamento do dia 16/05)
Para índices compostos por títulos corporativos, observamos que os rendimentos atuais variam entre 5,48% e 5,81%. Naturalmente, o índice de títulos corporativos de alto rendimento, representado pelo ICE BofA US Corporate & High Yield , apresenta o maior rendimento, pois é composto por títulos com maior risco de default. Em seguida, temos o ICE BofA (NYSE:BAC) US Corporate, que representa títulos com grau de investimento. Atualmente, o rendimento de ambos os índices de títulos corporativos estão no percentil 90º ou maior em comparação com os últimos dez anos. Isso significa que os rendimentos atuais desses índices estão entre os 10% mais altos registrados na última década.
Em uma análise mais abrangente, com uma janela de 20 anos, vemos que os dois índices ainda ocupam percentis relativamente altos: 77º e 72º, embora abaixo dos percentis dos últimos 10 anos. É importante destacar que, nesse período, houve um evento extraordinário, a crise das hipotecas subprime, que impactou significativamente os rendimentos. Durante esse período, títulos investment grade chegaram a render 9% a.a. no final de 2009. Mesmo considerando esse cenário extremo, as taxas atuais se mostram bastante atrativas na janela mais longa.
A análise dos índices atrelados aos títulos do tesouro americano é ainda mais interessante. Para representar segmentos da curva de juros de curto e longo prazo, foram utilizados os índices ICE BofA US Treasury (9-12 M) e ICE BofA US Treasury (15+ Y). Os rendimentos atuais desses dois índices são de 5,20% a.a. e 4,54% a.a., respectivamente, representando percentis de 93º e 96º nos últimos 10 anos. Esses valores são historicamente altos e explicam por que a política monetária tem sido um tema central nos últimos anos. Na análise de 20 anos, destacamos o índice do tesouro de curto prazo, que ainda ocupa um percentil de 95º, evidenciando a magnitude do aperto monetário promovido pelo FED desde o início do ciclo de aumento de juros em março de 2022.
A renda fixa americana era uma classe de difícil acesso ao investidor brasileiro até poucos anos atrás, mas o cenário mudou muito. Atualmente, é possível se expor a essa classe, com esses rendimentos historicamente elevados, abrindo uma conta no exterior de forma totalmente online, através de plataformas como a Nomad. Além disso, o acesso via ETFs permite diversificação de emissores com baixo valor de entrada, viabilizando a descentralização de recursos e mitigando os riscos.