POLÍTICA E ELEIÇÕES
É consenso que grande parcela das incertezas do campo econômico vem da política. A reforma previdenciária está em cheque ainda e é muito importante para um controle fiscal mais contundente no futuro.
As projeções dão conta que teremos um 2018 complicado caso não haja uma aprovação da reforma previdenciária, situação que
tende a piorar gradativamente sem a reforma.
A próxima eleição não deve se concentrar em candidatos entre esquerda e direita, mas sim entre candidatos de agenda reformista e de agenda populista. Segundo os analistas, o perfil do candidato a ser apoiado pelo setor deve ser reformista.
O agronegócio precisa fazer campanha para os reformistas, para os liberais, para o desenvolvimento, para a livre iniciativa, para a independência, para a liberdade. Estas são características a serem buscadas nestas eleições.
Em caso de vitória de um candidato reformista os analistas apontam que nós podemos ter um ciclo extremamente positivo. O país voltaria a ser atrativo para os investidores estrangeiros, aumentaria o fluxo de investimentos, a confiança subiria e o crescimento iria se acelerar.
Esse patamar de Selic que estamos vivenciando, na faixa de 7%, poderia se tornar perene, o que traria uma série de benefícios para o país.
Em caso de vitória de um candidato não reformista, os gastos previdenciários, que representam 55% dos gastos totais e estão em uma trajetória ascendente, não seriam ajustados e caminharíamos para uma trajetória insustentável da dívida pública.
O reflexo disso seria queda da confiança de investidores, depreciação do câmbio, recessão, ou seja, toda essa inflexão da economia recente seria jogada fora, daí a importância da eleição no próximo ano.
Em resumo, o cenário para as eleições do ano que vem ainda é incerto e o futuro da economia dependerá do perfil do próximo candidato.
Entretanto, também vale ressaltar que, além da figura do presidente, o perfil do Congresso Nacional é de extrema relevância. Provavelmente a casa terá uma taxa de renovação e será um reflexo da sociedade brasileira, que já foi vacinada muito nesses últimos anos, apontando para um perfil de centro-direita.
A transição do governo será lenta e podemos sair no lucro se conseguirmos ter um partido perdedor efetivamente com alguma agenda. Porque não teremos uma transformação institucional forte e rápida, mas talvez surja um partido perdedor iniciando uma organização com uma agenda mais realista, positiva, que posso apontar para o futuro do país.
CENÁRIO INTERNACIONAL E IMPACTOS SOBRE O BRASIL
A agência de risco Standard & Poor’s retirou o Brasil da lista dos cinco países mais frágeis do mundo, as perspectivas apontam que a economia pode voltar a se alavancar no curto prazo.
Estamos vivendo um momento raríssimo da nossa história econômica porque estamos com fundamentos muito bons lá fora e a inflação veio para 3%. Essa é a chance de recuperação do ano que vem.
O real deve continuar forte, o que mantém o preço dos insumos relativamente baixo, com um enorme potencial de recuperação do
consumo no mercado interno, cenário favorável para o pecuarista e diferente para o sojicultor, pois o dólar está puxando para baixo
os preços da soja.
Todas as projeções apontam que o mundo vai crescer ano que vem, um crescimento global de 3,6% com a leve desaceleração da China sendo mais que compensada pela aceleração do crescimento dos Estados Unidos e Europa.
Junto com isso o cenário de inflação muito baixa e com os Bancos Centrais da Europa e Japão injetando liquidez, temos um cenário benigno para a economia mundial.
Com o cenário favorável do ponto de vista internacional e com nossas taxas de inflação e juros baixas, temos um certo conforto
para o setor produtivo, a menos que tenha um problema político enorme, a nossa taxa cambial tende a ficar comportada por conta desse colchão de reservas e de um bom fluxo de exportações.
O que vale a atenção é que nossas exportações têm um lado perigoso, pois estão concentradas em poucos produtos. Apesar
do cenário positivo, ele pode mudar rapidamente, diante de nosso calcanhar de Aquiles, que é o foco em pouquíssimos produtos
e a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Isto criou uma defasagem em termos de ganho de competitividade industrial.
INFLAÇÃO E JUROS
Vencemos a batalha da inflação no curto prazo, porque temos vários fatores que ajudam a jogar a inflação para baixo.
Primeiro é o fator negativo, que foi a contração da economia, o alto nível de ociosidade, o elevado desemprego. Isso permite que o Brasil até cresça por um período de dois a três anos sem gerar inflação.
O segundo aspecto é que a inércia e a indexação jogam a favor. À medida que a inflação caiu, isso se propaga para frente. O ajuste do salário mínimo para o ano que vem vai ser na casa de 2,5% e vários serviços são indexados ao salário mínimo.
O terceiro fator que é muito importante é que hoje o Banco Central tem credibilidade.
Para o ano que vem as projeções são de um IPCA abaixo da meta e isso vai permitir que o Banco Central mantenha os juros baixos. Tudo a depender da resolução fiscal.
TAXAS DE JUROS RURAL
É a primeira vez na história que a taxa de juros rural está superior à Selic. Hoje a Selic está em 7,5% e a taxa de juros rural está em 8,5%, isso é um fato inédito na nossa história. Quando foi tomada a decisão da taxa de 8,5% de juros rural, a taxa Seli era de 10,5%. Houve um desconto de 2% sobre a Selic naquele momento.
Para 2018 teremos um grande embate.
Banco Central e Ministério da Fazenda têm uma imagem que no próximo ano haverá uma equalização entre Selic e taxa de juros rural e, obviamente a bancada ruralista vai tentar reduzir em 1,5% a 2% a taxa. Resta aguardar para ver quem vai vencer o embate.
CÂMBIO
A taxa de câmbio tem uma correlação muito grande com alguns fatores.
O primeiro são os termos de troca, preços de exportação sobre preços de importação, logo, a evolução dos preços de commodities é importante para a taxa de câmbio.
Termos de troca dependem muito da China. Se a China mantiver um cenário de desaceleração moderada, isso sustentaria os preços de commodities, o que suportaria o real.
O segundo é o CDS (risco do país), que irá depender do cenário político. Se piorar cenário político o câmbio vai depreciar. Se o risco político cair o câmbio tende a apreciar.
Mas olhando para o próximo ano, o cenário político vai pesar muito. O câmbio vai andar muito em relação a pesquisas políticas, se o Lula fica ou não inelegível.
As projeções dos analistas são de câmbio entre R$3,20 e R$3,30. Mas pode chegar até R$3,50 em caso de um cenário com Lula eleito.
RECUPERAÇÃO ECONÔMICA
O país está saindo de uma recessão onde a arrecadação despencou, logo, a equação financeira do estado, previdências a parte, mostra um ciclo de mudança relevante e o crescimento será liderado basicamente pelo consumo.
O consumo depende de renda e crédito.
A renda deve melhorar, mas, de forma marginal, porque a taxa de desemprego começa a cair, mas vai continuar a cair de forma muito lenta.
Já o crédito se beneficia desse processo de desalavancagem, com a própria queda de juros, isso reduz as despesas financeiras das famílias e libera o potencial de consumo.
Os analistas apontam para 2018 um PIB de 2,5%, mas há também quem está um pouco mais otimista e acredita em 3,5%, claro que a depender do resultado das eleições, mais uma vez.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O próximo ano será muito favorável para o crescimento econômico, para juros baixos e para recuperação de consumo.
A recuperação e alavancagem do país a partir de 2019 dependerá do próximo governo, logo, as eleições serão um divisor de águas e o grande foco em 2018.
MERCADO DO BOI GORDO
Para abordar os temas relacionados ao mercado do boi gordo, o analista Alcides Torres (Scot Consultoria) mediou o debate com
a participação dos analistas Alex Lopes (Scot Consultoria), Daniel Latorraca (IMEA), Hyberville Neto (Scot Consultoria), Leandro Bovo (Radar Investimentos), Luciano Pascon (Frigol) e Sergio De Zen (Cepea/Esalq).
Este ano o mercado do boi gordo sofreu com fatores externos que afetaram suas estruturas, foram eles: retorno da constitucionalidade do Funrural, Operação Carne Fraca, delações dos executivos do JBS (SA:JBSS3), entre outros sustos.
Esperamos que 2018 seja um ano mais tranquilo, no qual o mercado possa caminhar de acordo com os seus fundamentos básicos, oferta e demanda.
Segundo os analistas o mercado de reposição deve ter mais bezerros ano que vem. Isso porque a estação de monta de 2016 foi maior do que a de 2015, uma vez que mais fêmeas ficaram retidas em 2016 frente a 2015. Os bezerros destas fêmeas de 2016 devem chegar ao mercado em 2018. Com maior oferta há uma tendência de depreciação para a categoria.
Em 2020 é consenso que deveremos ter preços em recuperação para a cria, com uma possível recuperação da economia. O criador deve continuar produzindo bezerro de qualidade, sabendo que poderá vender um bezerro em um bom momento do mercado em 2020.
Tem um espaço na cria para resultados muito interessantes se o pecuarista conseguir ser suficientemente acima da média. Pois o bezerro está precificado por uma média, que ainda é baixa, embora tenha ocorrido uma evolução neste mercado nos últimos anos.
Já em relação ao abate de fêmeas, em um ano com preço ainda em recuperação da arroba, consumo ainda incerto e menor
ímpeto para a reposição, o abate de fêmeas deve ser maior que 2017, principalmente nos primeiros quatro meses do ano, quando se concentra o descarte de fêmeas que não emprenharam na estação de monta.
Com relação a insumo o ponto principal é que a safra brasileira depende cada vez mais da safrinha (milho). Quando falamos safrinha, o principal ponto acaba sendo o clima.
O ponto principal é clima porque a disponibilidade mundial de milho é boa, no mercado interno, apesar da exportação alta ainda teremos estoque de passagem maior do que no ano passado. A produção da safra é pequena e a tendência é ser cada vez menor, toda vez que dependemos de clima, o potencial da volatilidade é muito grande.
Uma boa alternativa, para não ficar na dependência do clima, é fazer seguro de preço máximo para o milho, comprar calls, ou comprar contratos de mercado futuro se a conta do milho fechar. Comprar contratos de milho, vender contratos de boi gordo para
tentar travar o poder de compra do milho em arroba.
Em relação ao boi gordo, o mercado futuro está otimista. Os preços de maio com relação a janeiro estão estáveis, o que é uma boa notícia para o pecuarista, porque vender boi no final da safra no mesmo preço de janeiro, garante toda a curva de ganho produtivo ascendente na safra, que o produtor vai poder aproveitar sem ser penalizado com um preço da arroba menor ao final da safra, o que geralmente acontece.
Outro spread interessante é entre maio e outubro (safra e entressafra). Em um levantamento dos últimos anos eleitorais (2002, 2006, 2010, 2014) a média de alta da safra para a entressafra, foi 25%.
Cada ano é diferente, tem uma condição de economia, juros e conjuntura, mas de toda forma 2018 é um ano eleitoral, o que injeta um pouco mais de dinheiro na economia, isso pode colaborar com a demanda. O mercado futuro está indicando isso e, se em algum momento o mercado físico der uma empurrada, o futuro pode andar um pouco mais, podendo ser uma boa alternativa para travar preço mínimo, por exemplo, para a safra e até para a entressafra.
A dica para o investidor em 2018 é utilizar as ferramentas do mercado futuro, sejam elas as travas ou seguros. O pecuarista tem que sair do risco e parar de brigar com o mercado.
Ser (SA:SEER3) produtivo e eficaz também deve estar na cartilha do pecuarista. Melhorar o giro de estoque, aumentando a comercialização é sempre uma boa alternativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mercado está cada vez mais desafiador para o pecuarista e se tornar eficiente passa a ser pré-requisito para se manter na atividade.
A pecuária deve ser vista como investimento de dez anos. Não se pode tomar a decisão de abater ou reter fêmeas com base em um ano como 2017, no qual fomos afetados por fatores políticos e estruturais que não têm nada a ver com oferta e demanda.
Hoje o produtor tem que partir da cultura do risco da produção moderna, fazer um trabalho de longo prazo, estabilizando os ganhos ao longo do tempo. Não se pode ficar em uma montanha russa de um ano ganha e outro ano perde.
Na pecuária moderna o produtor tem que fazer parte de uma gestão de risco.