Um relatório da empresa PriceWaterhouseCoopers (PwC) confirmou o que todos esperávamos: a regulação é uma limitação para empresas adotarem blockchains. De 600 executivos de empresas de alta reputação ao redor do mundo desenvolvido, cerca de 84% declarou ter projetos ou estudos relacionados a criptomoedas. Entretanto, a principal motivação é ainda “medo de ficar atrás na inovação que blockchains podem trazer”, o famoso FOMO. Vale notar que apesar dessa motivação as blockchains de fato são capazes de reduzir custos de transação, facilitam auditorias e permitem maior e mais veloz fluxo de informação dentro das organizações.
A informação que não deveria ser tão inesperada também, mas que pode soar mais preocupante, é o fato de haver pouca confiança na tecnologia. Apesar da tecnologia em tese não precisar de confiança, o fato de ser extremamente recente leva a dúvidas sobre como ela funciona, sobre sua capacidade de suportar as atividades de uma grande empresa e escalar. Isso leva a menor capacidade de adoção das empresas. Uma grande fonte de estudos organizacionais é a inércia de grandes empresas: é difícil abrir mão de uma estrutura conhecida em prol de uma nova tecnologia que ainda não foi profundamente investigada.
O maior medo citado nessa linha é a incapacidade da blockchain se integrar a sistemas atuais e/ou a outras blockchains. A interoperabilidade, mesmo em blockchains permissionadas, se tornou uma questão-chave para a adoção da tecnologia. Há grandes problemas de se usar uma rede que não integra aos dados que ela por ventura virá trafegar. Se os custos de integração forem elevados a cada caso encarado, por mais que a blockchain reduza custos de transação ela não valerá a pena. No entanto, esses custos de ajuste tendem a ser mais fortes apenas no curto prazo: com o desenvolvimento das tecnologias, haverá maior expertise em integrá-las a sistemas convencionais.
Uma boa notícia para os investidores é que o uso de blockchains públicas pode ser impulsionado conforme a confiança na tecnologia se estabelece. Uma recomendação dada pela PwC é a respeito de colaboração entre empresas: há certos dados que podem e devem ser compartilhados. O uso de blockchains permite que esses dados sejam integrados mais facilmente e auditados de maneira confiável. As blockchains públicas – e outras tecnologias como a DAG – são fortes candidatas nessas atribuições. Uma rede escalável como a da IOTA pode ser uma plataforma para essas transações se provada segura; o hard fork da Bitcoin ABC (client do Bitcoin Cash) pode ser também um forte candidato a plataforma de escolha pelos seus potenciais usos na direção de interoperabilidade e grande tamanho de bloco. Creio que se uma rede se provar funcional, a questão da confiança será tempo e haverá alguma consolidação do mercado de seu token.
Em resumo, há uma nova dinâmica de empresas pela blockchain e deve haver ecos em blockchains públicas. Há forte interesse e empresas de consultoria já se dispõe a indicar caminhos para executivos interessados. Contudo, ainda há desafios. O problema da confiança creio temporário: com aprendizado organizacional os custos de ajuste desabam. Uma vez resolvido esse aspecto faltará resolver a questão regulatória. Não creio haver interesse dos governos em asfixiar reduções de custos para empresas, portanto não é de todo improvável que haja regulações favoráveis conforme se confirme a viabilidade de redes mais voltadas para aplicações empresariais. A longo prazo, o mercado de criptoativos ainda pode ter um desfecho bem positivo.