O “vai não vai” em torno da votação da Reforma Previdenciária e sua possibilidade ou não de aprovação afetam o humor do mercado financeiro, e por que não dizer da economia brasileira como um todo.
Afinal, o que está em jogo vai muito além do contexto da reforma, mas terá relevante impacto na, até podemos dizer, viabilidade do governo atual para coordenar o expressivo descontrole fiscal, e até pode comprometer ainda mais a sua credibilidade.
A economia brasileira dá sinais ainda modestos de recuperação, mas extremamente sem sustentabilidade, o que torna os pequenos avanços totalmente vulneráveis a qualquer evento contrário.
A Reforma Previdenciária é meritória, pois objetiva corrigir privilégios, contudo a classe política, mal acostumada pela prática contumaz por parte do governo do fisiologismo na falta de apoio concreto, foca seus interesses próprios num ano pré-eleitoral e procura evitar desgastes perante o eleitorado, se bem que a reforma proposta impactaria onde há privilégios e que não é no setor privado.
Contudo, o governo deixou que os inúmeros lobbies dos servidores públicos propagassem e desvirtuassem os reais objetivos, insinuando disseminação por todos os setores.
Este é o fator direto de atenção maior, mas há também outros fatores a observar nesta semana, como a Ata do Copom que poderá permitir melhor análise prospectiva das suas diretrizes e a última reunião do FED americano que poderá deixar mais clara a tendência de aumento do juro americano.
Na margem, devem continuar se acentuando os questionamentos e as campanhas veladas à sucessão presidencial no ano de 2018, que tende ao acirramento e poderá provocar retrocessos nas expectativas favoráveis que são propagadas em relação à recuperação brasileira.
A ausência de nomes novos cria certa inquietação sobre o risco de termos mais do mesmo, o que tende a impactar no ímpeto de nacionais e estrangeiros em torno do Brasil.
Afora isto, devemos considerar que os indicadores econômicos brasileiro têm pontos altamente contestáveis, se bem que a um silêncio conivente em torno disto, pois a inflação “sentida” extrapola em muito as apuradas pelos órgãos governamentais e orquestrada por parte significativa do mercado financeiro.
A Petrobrás, sentindo que os seus frequentes aumentos de gás, combustíveis, etc, criam um desmentido oficial dos parâmetros inflacionários que vem sendo divulgados, após ter praticado a exorbitância, está revendo sua política de reajustes.
O Boletim FOCUS, que reúne medianas a partir das indicações das instituições financeiras, altamente comprometidas com o governo, continua apontando inflação de 2,88% para este ano e de 4,02 para 2018, um ano sobre o qual existem muitas incertezas, e o preço do dólar em R$ 3,25 neste ano e R$ 3,30 em 2018.
O contexto atual e as projeções para 2018 carecem de fundamentos críveis, por isso é preciso observar tudo de forma muito relativa e precavida.
Os Estados Unidos devem elevar o juro duas ou três vezes em 2018, a reforma tributária e os bons sinais da economia tendem a valorizar o dólar no mercado externo. Por outro lado, no Brasil a taxa de juro real se ocorrer o que o otimismo exacerbado indica ficará muito baixa e vulnerável a deslocamento do interesse dos investidores para o mercado americano.
A relação dólar/real não terá fundamentos para justificar o preço deprimido atual do dólar, pois terá que sancionar o preço da moeda americana no mercado internacional.
Enfim, incertezas presentes e perspectivas futuras não permitem que se tenham convicções com bons fundamentos para tudo que se vê no momento e nas projeções futuras.
Há muitos riscos na trajetória brasileira ao deslocar-se do atoleiro em que se meteu desde 2014, não sendo sensato acreditar que tudo se resolva tão rápido.
Estamos numa linha tênue que tem o mesmo grau de incertezas, podemos avançar ou podemos retroagir. Tudo depende de “se...”.
Otimismo é bom, mas não deve neutralizar a sensatez.