Na reunião semanal em que participei com os meus colegas de trabalho, houve uma pergunta direcionada a mim: os EUA caminham para uma recessão? Claramente, a dúvida ou a confirmação vai em linha com a leitura que os analistas fazem do cenário macroeconômico para a sua estratégia de investimento.
A resposta, um pouco clichê no mundo dos economistas, foi: depende. Atualmente, a minha leitura é que a recessão da economia americana está condicionada à escalada de juros do Federal Reserve, ou seja, à necessidade de aumentos em maior magnitude da última verificada (0,75 p.p.) nas taxas de juros nas próximas reuniões da autarquia.
Neste cenário, ao analisar os últimos dados macroeconômicos dos EUA, estes nos mostram um cenário que ficou para trás: por um lado, observamos um mercado de trabalho resiliente, com a taxa de desemprego atingindo o patamar pré-pandemia aos 3,5%; e por outro, a inflação ao consumidor que começa a mostrar sinais de arrefecimento. No balanço de riscos, a taxa de juros continuará subindo no curto prazo.
Contudo, olhando para os dados da economia americana que buscam medir as expectativas futuras dos agentes, como o PMI, o índice de gerente de compras, vemos que os resultados apontam para um cenário de desaquecimento econômico.
Começando pelo PMI industrial, a leitura foi de 51,3 em agosto, ante a leitura de 52,2 no mês anterior, enquanto do setor de serviços, protagonista do PIB americano, apresentou uma redução de 47,3 para 44,1. Neste contexto, o PMI composto, que engloba os dois setores, chegou a 45, o que indica que os setores estão em contração das atividades.
Sem dúvida, os dados corroboram com as expectativas de uma menor demanda por parte dos consumidores nos próximos meses e, consequentemente, os efeitos no mercado de trabalho e na renda poderão ser enaltecidos com o dinheiro que tem ficado mais caro.
Neste contexto, o alerta sobre o desaquecimento da maior economia do mundo levanta dúvidas sobre a resiliência da sua atividade econômica nos próximos meses e, consequentemente, sobre a ação do Fed frente ao combate da inflação no país.
Neste cenário, a minha análise é que o Banco Central americano, o Fed, continuará com o aumento dos juros. Porém, com doses que não impactem a atividade econômica no curto e médio prazos. Em outras palavras, ainda que veremos um processo de desinflação no país, a taxa de inflação continuará acima da meta de 2%, cenário o qual deverá preservar o mercado de trabalho.
Afinal, haverá recessão nos EUA? No curto prazo ainda não há sinais claros dos dados macroeconômicos de recessão à vista e o mais importante, a autarquia monetária americana não parece ter comprado a responsabilidade de levar a maior economia do mundo para este patamar do ciclo econômico.