- A inversão da curva de juros nos EUA e Europa é prognóstico de recessão.
- Investidores direcionam o foco para a reunião do Fed, na expectativa de previsões para a inflação e os juros.
- Dirigentes do BCE e do Banco da Inglaterra têm visões divergentes.
Alguns investidores e economistas veem um raio de esperança no atual rali dos mercados, mas a inversão persistente da curva de juros teima em alertar que uma recessão está a caminho.
As recessões ocorrem de diversas formas, e o melhor cenário seria que houvesse uma espécie de “pouso suave”, com apenas uma leve queda da atividade e um aumento reduzido no desemprego. A inversão da curva de juros, ainda que seja um indicador confiável, não especifica muito bem que tipo de recessão pode ocorrer.
A taxa do título de 10 anos do Tesouro americano ficou abaixo de 3,5%, depois de atingir 4,2% há cerca de um mês, mas voltou a empreender alta antes da reunião do Fed, superando 3,6%. Já a taxa de 2 anos não manteve o mesmo ritmo da taxa do título mais longo, fazendo com que o diferencial entre as duas alcançasse 0,77 pontos percentuais negativos na segunda-feira, após alcançar 0,84% negativo na semana passada, em comparação com 0,5% negativo no mês passado. Em julho, esse diferencial ainda estava positivo.
A situação na Europa é similar, na medida e que a taxa do título de 10 anos do governo da Alemanha, que serve de referência para a zona do euro, estava quase 0,25% abaixo da marca de 2%, enquanto a taxa de 2 anos se firmava acima desse patamar.
A inversão da curva de juros reflete a crença de que os bancos centrais reagirão a uma recessão reduzindo as taxas de juros, de forma que os rendimentos dos títulos possam acompanhar a queda nas taxas. A alta dos títulos de curto prazo reflete expectativas de que os bancos centrais elevarão os juros no curto prazo.
As autoridades monetárias não fizeram questão de esconder suas intenções. Os três principais bancos centrais que realizarão reuniões monetárias nesta semana (o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra), já indicaram um aumento de pelo menos 50 pontos-base (pb) nas taxas para encerrar o ano.
A questão para os investidores agora é saber o que os bancos centrais farão no ano que vem. Por isso, ficarão de olho em possíveis sinais durante as coletivas de imprensa após o anúncio das decisões. Nos EUA, ficarão atentos às projeções econômicas e às previsões de inflação, crescimento e taxas de juros por parte dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto, responsável pela política monetária no país.
De fato, as autoridades monetárias não sabem ao certo o que farão no próximo ano ou para onde irão os preços e os juros.
A maioria acredita que a inflação nos EUA já atingiu o pico. O índice de preços ao produtor de novembro, divulgado na semana passada, revelou um aumento de 7,4% no ano, um declínio em relação a 8,1% em outubro, mas o avanço sazonalmente ajustado no mês foi de 0,3%, com os aumentos dos preços dos alimentos mais do que compensando as quedas nos preços de energia. A previsão consensual era de um aumento de 0,2%.
A resistência da inflação aos aumentos de juros do Fed deve desincentivar manifestações otimistas por parte do presidente do banco central americano, Jerome Powell, que insiste que a instituição continuará elevando os juros até que a inflação seja contida.
Um leve declínio na inflação europeia para 10% em novembro, contra 10,6% no mês anterior, alimentou esperanças de que a inflação também atingiu o pico por lá. Os dirigentes do BCE vêm expressando visões divergentes. Ainda é possível que haja uma alta de 75 pb na reunião do conselho dirigente do BCE nesta semana, porém a maioria dos investidores agora espera um aumento moderado de 50 pb.
A previsão de crescimento negativo no quarto trimestre deste ano e no primeiro trimestre do ano que vem colocaria a Europa em uma recessão técnica, mas o verdadeiro teste será a forma como os preços evoluem.
O Banco da Inglaterra está diante de um desafio ainda maior, já que a inflação local atingiu 11,1% em outubro, mas a opinião preponderante é que haja um aumento de 50 pb nas taxas de juros nesta semana, para 3,5%, após a elevação de 75 pb no mês passado.
Silvana Tenreyro, integrante supermoderada do Conselho de Política Monetária, deseja manter os juros no patamar atual, após ter votado por uma elevação de 25 pb na última reunião. Um economista do HSBC previu uma possível divisão em quatro posições entre os nove membros do órgão, com votos em todo o mapa de juros.