A economia americana vive momentos incertos por conta da inflação e início do ciclo da alta dos juros. A alta dos preços se tornou insustentável e já passou da hora do Federal Reserve (Fed) colocar “ordem na casa”.
A mudança da política monetária é necessária e marca o fim de um ciclo e início de outro. É preciso reconhecer que o mundo com juro real negativo e expansão monetária desenfreada ficou para trás e, naturalmente, suas consequências ainda serão sentidas no decorrer do ano.
Mais de 20% dos dólares em circulação foram impressos a partir de 2020 para combater os impactos econômicos da pandemia. Atitude necessária, no entanto, ficam questionamentos se o tamanho da ajuda excedeu o limite recomendado. Agora, a conta está chegando e isso já se reflete na percepção do americano com a alta dos preços.
Toda essa expansão monetária, aliada ao choque de oferta nas cadeias de suprimentos global após o início da pandemia, criou o cenário perfeito para a disparada dos preços.
Atualmente, a preocupação com a inflação é a maior desde 1985 e deve continuar no radar dos americanos até 2023. Segundo pesquisa da Gallup, a inflação é a preocupação número 1 da população americana e quanto menor a renda maior a preocupação.
O IPC (equivalente ao nosso IPCA) divulgado apontou que a inflação subiu 7,9% nos últimos 12 meses. Esse foi o maior nível de inflação desde 1982.
O chairman do Fed, Jerome Powell, projeta que o aumento dos juros implicará em um “pouso suave”, assim como ocorreu no passado nos anos de 1964, 1984 e 1993.
o 1964: As taxas aumentaram de 3,4% para 5,8% e o desemprego caiu de 5,1% para 3,6%.
o 1984: As taxas subiram 9,6% para 11,6% enquanto o desemprego caiu de 7,8% para 7,5%.
o 1993: A taxa saiu de 3% para 6% em 1995 e o desemprego caiu de 6,5% para 5,8%.
Embora tenha o precedente histórico de outros apertos monetários “suaves”, não há motivos para crer que o cenário tende a se repetir. A situação hoje é bem diferente e exige tratamento distinto.
Atualmente, a taxa de desemprego está extremamente baixa em torno de (3,8%) e a inflação está acima da meta de 2%, logo, para combater a inflação o Fed terá que fazer um aperto monetário forte o suficiente para aumentar o desemprego.
Isso significa que, para combater as expectativas inflacionárias, o Fed precisa aumentar o desemprego e um aumento do desemprego torna inviável o “pouso suave” projetado.
Outro sinal de que teremos uma recessão na economia americana é a inversão da curva de juros. Historicamente, sempre que os rendimentos de curto prazo (vencimento em 2 anos) se inverteram com os rendimentos de longo prazo (vencimento em 10 anos) a economia americana entrou em recessão em um período de 6 a 24 meses.
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No momento, para mercados emergentes, o movimento da curva de juros dos EUA e suas implicações preocupa tanto quanto um agravamento da guerra.
O movimento de inversão da curva de juros já ocorreu. Recentemente os juros de 2 anos subiram brevemente acima do rendimento dos títulos de 10 anos, movimento que não era visto desde 2019. Já os vencimentos de 30 anos passaram a render menos do que os vencimentos de 5 anos, fato que não ocorria desde 2006. Isso sinaliza que o mercado espera aumento das taxas de juros, inflação e um crescimento econômico menor no futuro.
Todo esse cenário resultou em um dos piores retornos de títulos atrelados a juros do mercado dos Estados Unidos em toda a história. Ainda é cedo para mensurar o tamanho do impacto, mas como boa parte dos portfólios, de pessoas físicas a institucionais, detém títulos atrelados a juros, isso afetará sua rentabilidade.
Ainda é cedo para sacramentar até onde o Fed precisará levar os juros para domar a maior inflação em 4 décadas. A projeção atual é que os juros vão subir para 2% ou 2,5%. No entanto, assim como o Fed errou nas suas projeções de que a inflação era transitória, ele pode estar equivocado sobre até onde os juros precisam ir para estabilizar os preços.
Caso seja necessário levar os juros para níveis acima do previsto, o efeito na bolsa americana deve ser similar ao ocorrido na Ibovespa no aperto monetário feito pelo Banco Central em 2021 e isso terá implicações na economia de todo o mundo.