A crise generalizada e descompassada que se verifica com dicotomias entre juro, câmbio, inflação, dívida fiscal, entre tantas, e que se faz encoberta, ainda que parcialmente, por dados discretos de recuperação da atividade econômica, movida pelos generosos programas assistenciais do governo ao longo da 1ª fase da pandemia do coronavírus, que a rigor nem se sabe bem se já encerrada, ganha desafios renovados afetando negativamente as perspectivas e gerando nova intensificação de dúvidas e incertezas, no momento que se constata presente o rebote da pandemia do coronavírus e os hospitais acusam crescimento de lotação de suas dependências.
E o cenário se reagrava exatamente no momento em que o governo se confronta com a absoluta necessidade por imponderável de encerrar seus programas assistenciais, sabendo que este fato por si só impactará no consumo das famílias menos abastadas, muitas das quais elevadas ao conceito de consumidor recentemente, e as sujeitando ao retorno ao estado de miséria, sem emprego e sem renda.
E, certamente, deverá ocorrer o que já ocorreu anteriormente, absoluta falta de convergência de esforços no enfrentamento do problema por parte das autoridades, onde neste momento predomina uma ignóbil disputa politizada, negacionismo político puro.
O Brasil convive com severa crise fiscal e o governo não tem encontrado espaço para novos dispêndios focados na enorme massa de necessitados de ajuda para sobrevivência ao longo da pandemia, sem trabalho, sem renda e carente de alimentação mínima.
O quadro antecedente com inércia programática das reformas, dos programas de privatizações, que vem revelando enorme perda de tempo na tramitação e que estão sendo empurrados para o ano que vem, a despeito das inúmeras manifestações teóricas de tratamento emergencial, sofrerá, agora, sem dúvida o “input” de um enorme fator impactante e neutralizante que é a limitação de horários de funcionamento para as atividades econômicas.
O desemprego que já era desalentador provavelmente atingirá o prognóstico dos economistas de 17% em 2021, e a inflação, por inevitável necessidade de reconhecimento dos impactos do preço do dólar elevado, sem que haja mínima possibilidade de produtividade compensatória, acarretarão desalento à população corroendo seus rendimentos.
E, com renda interrompida, e foram R$ 250 bi em 9 meses, entram no radar alguns itens para observação com maior acuidade, quais sejam os riscos de inadimplência dos financiamentos propulsores das enormes vendas do e-commerce, seja direto ou pelos cartões de crédito, e os substantivos financiamentos imobiliários de imóveis de pequeno porte que foram alavancadas nos últimos meses e que poderão ser afetadas pela queda de renda, desemprego e alta efetiva do juro.
A BOVESPA sinalizou ingresso de investidores estrangeiros de forma absolutamente seletiva nas ações “blue chips”, algo como US$ 5/6 Bi, mas não há evidências de continuidade sustentável, podendo se revelar um ingresso absolutamente de oportunidade e saída rápida.
O fluxo cambial terá uma demanda conhecida da ordem de US$ 16,0 Bi por parte dos bancos relativos ao “overhedge” e o BC sinaliza ação previdente aumentando a oferta de contratos de swaps novos, mas a demanda efetiva será em dólares a vista, e este deveria ser a ação estratégica e pró ativa da autoridade, até aproveitando para vender um bom lote das reservas cambiais para reforçar o caixa do TN.
Com problemas fiscais expostos e uma Dívida Pública trilionária, o governo deverá ter forte pressão na rolagem da mesma, com vencimentos substantivos no primeiro quarto de 2021, representado por mais juros e menos prazo, dois pontos negativos para a qualidade da dívida.
A volta à cena com ares renovados da pandemia do coronavírus e mais o complexo quadro fiscal do governo, passando pelo juro, câmbio, formam um conjunto de propulsão à busca do dólar como “porto seguro” e mais a demanda já conhecida tendem a dar sustentabilidade a taxa cambial com resistência mesmo ante a tendência do dólar no mercado global e até a melhora eventual do fluxo cambial para o Brasil.
O que se impõe é que o BC/COPOM elaborem um “forward guidance” mas assertivo com as perspectivas efetivas do país, e busquem melhor equacionamento da equação juro x câmbio.
Não nos parece ainda o momento da turbinada do índice da BOVESPA e nem da apreciação do real para chegar aos R$ 5,00.