A situação da economia brasileira precisa de muito esforço e acerto por parte dos novos gestores governamentais para insinuar os sinais iniciais de que poderá ocorrer uma lenta reversão do estado caótico a que foi levada, mas nada deve ser esperado tão imediato porque não há forma de superação sem antes piorar um pouco mais para depois, se tudo der certo, começar a melhorar.
Por isso movimentos que buscam precificar no curtíssimo prazo resultados, ainda incertos, que poderão via a ser alcançados a médio e longo prazo, provocam distorção relevante que pode até mesmo se tornar fator desfavorável à recuperação do país.
O setor externo se configura como bastante desfavorável neste ano de 2015, com perspectivas de fraco desempenho da balança comercial expressivamente afetada pela queda dos preços das commodities, baixa atratividade para investimentos estrangeiros diretos no setor produtivo, com o cenário sugerindo fluxos de recursos externos negativos num contexto já bastante complexo em que o BC ancora a credibilidade da moeda com a colocação de considerável montante dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” e mascara a já presente queima de reservas para manter a liquidez no mercado à vista, ao utilizar os bancos atuando com “posições vendidas”.
Há no horizonte reduzidas expectativas de que recursos oriundos do “QE” do BCE possam fluir para o Brasil, sendo mais provável que busquem aplicações mais seguras como os T-Bills americanos em detrimento do direcionamento para os países emergentes.
Mas, para o Brasil viriam na forma de capitais especulativos forjados a partir de operações de “carry trade”, contudo com o real sobrevalorizado certamente haverá desestimulo também para o direcionamento destes recursos ao Brasil, a despeito da expressiva rentabilidade proporcionada pelo país. O real com seu preço fora do ponto representa um efetivo risco de vir a ser desvalorizado a qualquer tempo.
Os IED´s para os quais já não víamos perspectiva favorável neste ano, com ampla possibilidade de forte retração face as projeções já ao inicio do ano de baixo crescimento, inflação alta, aumento de impostos, tem agora dois fatores de altíssimo peso para inibi-los, quais sejam, a possibilidade de problemas na área de energia e abastecimento de água.
O real sobrevalorizado é altamente desestimulante ao investimento na indústria, que continua sem competitividade e sem buscar a produtividade, mantendo o quadro que tem vigorado na última década.
A balança comercial começou o ano de forma preocupante já acumulando no mês de janeiro déficit de US$ 2,330 Bi, com as exportações caindo 9,4% no confronto com o mesmo período do ano passado e só não foi maior devido às importações terem caído no mesmo período 11,8%, tendo em vista que o ritmo de atividade do país é fraco. Mas, ainda assim, se o real não for conduzido a preço compatível com a sua realidade é bem provável que o déficit comercial continue se acentuando naturalmente.
O Boletim FOCUS acentuou a projeção para o IPCA este ano elevando-o para 6,99%, reduziu bruscamente a perspectiva de crescimento do PIB de 0,38% para 0,13% deixando evidente que há uma tendência efetiva à recessão neste ano e já reduziu também a projeção de crescimento da produção industrial de 0,71% para 0,69%.
Pelo que se depara mantém otimismo em relação à nova equipe gestora da política econômica, mas com uma visão de que não conseguirão reverter o quadro ruim da economia neste 2015, o que causa espécie quando mantém a projeção do preço da moeda americana inalterada em R$ 2,80 e o déficit em conta corrente em US$ 78,0 Bi, balança comercial em US$ 4,5 Bi e IED´s em US$ 60,0 Bi.
Está muito evidente que enquanto mantém uma visão mais rigorosa em relação a indicadores relevantes da economia, tem uma visão bastante assimétrica em relação às efetivas tendências no setor externo, o que é uma distorção e não respalda as projeções apresentadas.
Continuamos tendo uma visão bastante negativa nas projeções relativas ao nosso setor externo, entendendo mesmo que poderemos ter perturbações efetivas que podem conspirar contra os propósitos da nova equipe gestora da economia de forma intensa.