O petróleo tentará estender o atual rali de alívio nesta semana, após uma alta de 4% na semana passada. Na quinta-feira, os preços do barril fecharam o quarto dia consecutivo de valorização, em meio à restrição de oferta tanto de petróleo bruto quanto de óleo de calefação.
A alta dos preços do petróleo ocorreu após novos dados governamentais mostrarem uma queda maior do que o esperado nos estoques dos EUA, para 5,89 milhões de barris para a semana encerrada em 16 de dezembro. Além disso, os estoques de destilados, incluindo querosene de aviação e óleo de calefação, também tiveram retração, ao contrário das expectativas dos analistas.
A queda dos estoques acompanhou as previsões climáticas recentes, indicando que uma forte tempestade atingiria os Estados Unidos. Os boletins meteorológicos preveem ventos abaixo de zero no Texas, bem como previsões de baixas recordes para a Flórida e os estados do leste.
A demanda por combustível de aviação também deve aumentar em meio a um boom de viagens antes da temporada de férias. No entanto, o consumo de combustível de transporte pode recuar se a tempestade afetar a demanda de viagens.
China rechaça teto de preços para o petróleo
As refinarias independentes da China estão lucrando cada vez mais com o processamento de petróleo russo de baixo custo, já que as sanções do Ocidente contra Moscou permitem que negociem descontos significativos, de acordo com especialistas do setor.
Os países membros do G7 impuseram um teto de preço de US$ 60 por barril para o óleo russo a partir de 5 de dezembro, ao mesmo tempo em que a União Europeia (UE) proibiu as importações do produto da Rússia por via marítima, a fim de restringir o financiamento da guerra na Ucrânia. Com isso, a Rússia está redirecionando para a Ásia o petróleo que seria ofertado ao Ocidente, a preços mais baixos.
A China continua comprando o petróleo do Oceano Pacífico da Sibéria Oriental (ESPO) acima do teto de preços, já que as refinarias independentes do país preferem optar por fretes mais curtos e um teor de enxofre mais baixo, de acordo com operadores.
A Índia, por sua vez, está adquirindo o petróleo dos Urais com descontos mais profundos, abaixo de US$ 60 por barril. A atividade no mercado de commodities sugere que não há um substituto adequado e com qualidade similar ao petróleo ESPO da Rússia a preços mais acessíveis.
Os ministros de energia da UE chegaram a um acordo na segunda-feira para tabelar os preços do gás natural a € 180 por megawatt-hora, embora a Comissão Europeia (UE) tenha alertado que o limite pode ser revogado se "os riscos superarem os benefícios". O tabelamento ocorreu algumas semanas depois da imposição de um limite de US$ 60 por barril para o petróleo russo.
O atual rali conseguirá se sustentar?
Os investidores de commodities esperam que o atual movimento de alta do petróleo consiga se sustentar em 2023, em meio à queda da oferta e de expectativas de que o inverno nos EUA e na Europa seja mais intenso. No início desta semana, o vice-presidente da S&P, Dan Yergin, afirmou que os preços do barril de petróleo, em sua visão, poderiam saltar para US$ 90 em 2023.
Yergin acredita que os preços podem até mesmo atingir a cotação de US$ 121, quando a China se reabrir totalmente dos bloqueios contra a Covid, mas ainda há muitas incertezas em torno do mercado petrolífero, acrescentou. Essas incertezas incluem as decisões do banco central dos EUA, a demanda chinesa, bem como a reação russa ao teto de preços imposto.
“Nosso cenário-base para 2023 é de US$ 90 para o Brent, mas é preciso ficar atento a outros cenários. Se a China superar a China, a demanda no mercado deve aumentar bastante”, declarou Yergin.
A reabertura da China tem tudo para impulsionar os preços do barril e fazê-lo atingir US$ 121, devido ao subinvestimento em óleo e gás, acrescentou. No entanto, outros fatores, como uma provável recessão econômica, podem fazer com que os preços do barril recuem para US$ 70.
De acordo com a última previsão da S&P, a demanda petrolífera da China pode alcançar 15,7 milhões de barris por dia no ano que vem, o que representaria um aumento de 700.000 barris em comparação com 2022.
Em tom similar, Eric Nuttall, sócio e gestor sênior de portfólio da empresa de investimentos alternativos Ninepoint Partners, declarou que sua expectativa é que os preços do barril de petróleo alcancem US$ 100 em 2023.
A previsão ocorre em meio a vários obstáculos que contribuíram com o declínio dos preços do petróleo este ano, como a rígida política de Covid zero da China e liberações coordenadas de Reservas Estratégicas de Petróleo, que devem parar no próximo ano.
Isso, em conjunto com as sanções ocidentais ao óleo e gás da Rússia, deve promover a alta dos preços, defendeu Nuttall. Segundo ele, o mercado de energia deve continuar superando o desempenho de outros setores, graças à forte demanda.
Analistas do Bank of American forneceram uma perspectiva semelhante na semana passada, estimando que os preços do petróleo podem superar US$ 90 por barril, devido a uma política monetária mais frouxa do Federal Reserve e da reabertura da economia chinesa.
“Nossas projeções de demanda de preços e demanda de petróleo para 2023 dependem muito do crescimento do consumo tanto na China quanto na Índia, portanto qualquer atraso na reabertura da Ásia pode afetar nossa expectativa de trajetória de preços”, escreveram os analistas.
Resumo
Parece haver um consenso entre analistas e investidores de commodities de que há um subinvestimento estrutural pelo lado da oferta, o que poderia ajudar a elevar os preços do petróleo em 2023. A oferta restrita, bem como a reabertura da China , devem manter o status do petróleo como investimento alternativo atraente. Os preços do barril subiram nos últimos 10 dias, quando o petróleo se valorizou mais de 12% em relação à mínima de 2022 no início deste mês.