por Tanzeel Akhtar
A moeda descentralizada bitcoin subiu na semana passada e na sexta-feira, 1º de setembro, atingiu US$ 5.000 por BTC, um novo marco para a volátil criptomoeda.
Até agora, apenas neste ano, vimos flutuações anormais do par BTC/USD, em uma faixa de US$ 1.800 a US$ 5.000. Enquanto este artigo é escrito, o BTC é negociado a US$ 4.061,70, na sequência da proibição de ontem da China de ofertas iniciais de moedas. Entretanto, a moeda parece direcionada a subir.
Enquanto o bitcoin continua a atrair mais interesse e investidores adicionais, há uma série de coisas que vale a pena ser questionadas. O que está guiando o preço e que eventos alguém deveria estar ciente ao investir em BTC? Estaria o BTC em um território de bolha? Como mudanças regulatórias impactariam criptomoedas?
Ted Moskovitz, ex-advogado da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) e fundador da DecentraNet, afirma que o bitcoin certamente ficará muito maior antes que a bolha, caso exista uma, exploda.
"Enquanto muitos veem a nova máxima recorde do bitcoin como uma indicação de bolha, isso não é simplesmente o caso, e estamos certos que veremos o preço do bitcoin subir para a faixa entre US$ 7.600 e US$ 10.000 até o fim do ano" explica Moskovitz.
Mercados cambiais veem um volume diário de mais de US$ 5 trilhões. Se a capitalização total de mercado do bitcoin chegar a ficar equivalente a um dia de operações cambiais, explica Moskovitz, isso levaria o valor de um único bitcoin à estimativa aproximada de US$ 250.000. "Se você prefere pensar no bitcoin como uma commodity, então o ouro é uma boa linha de base para comparação", acrescenta. "Neste instante, o mercado global de ouro está em torno de US$ 6,3 trilhões".
Moskovitz observa:
"Estima-se que apenas 10 milhões de indivíduos possuíam contas em bitcoin no início desse ano, isso é apenas 0,001% da população mundial. Isso nos mostra que o bitcoin ainda está em uma fase nascente e conforme mais e mais pessoas saibam a respeito disso e mais e mais celebridades de renome (por exemplo, Ashton Kutcher, John Cena, Floyd Mayweather) tuítem sobre isso, veremos a adoção subir".
Há questões virtuais a serem conhecidas, como o número de bitcoins atualmente disponíveis. Matthew Gertler, analista sênior e conselheiro na Digital Asset Research, explica que haverá apenas 21 milhões de bitcoins disponíveis. Atualmente, existem aproximadamente 16,5 milhões, mas especialistas estimam que pelo menos um milhão de moedas se perderam para sempre. Afirma Gertler:
"Isso e outras formas de usar o bitcoin, como reserva de valor, colocam pressão sobre a oferta negociável. Com a oferta limitada e o crescimento potencial acima descrito, a análise de oferta e demanda sugere que o preço do bitcoin pode não apenas ser extravagante como pode ainda ter espaço para crescer".
Outro avanço para o bitcoin: estamos começando a ver céticos reconsiderarem suas posições, com alguns começando a embarcar no trem das criptomoedas. No início de junho, Mark Cuban, empresário norte-americano e personalidade da televisão, tuitou que ele acreditava que o bitcoin estaria em uma bolha.
Entretanto, apenas algumas semanas depois, ele mudou seu tom, anunciando que pretendia participar de ao menos uma oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês).
Neste momento, é também crucial estar ciente do lado regulatório da situação. Em julho, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) começou a avançar no mundo de "faroeste" das ICOs, o que fez o mundo da blockchain balançar. Na semana passada, a Autoridade de Valores Mobiliários de Israel (ISA, na sigla em inglês) anunciou planos de constituir um painel para regulamentar ICOs.
E logo ontem, o banco central da China, o PBoC, na sigla em inglês, declarou serem ilegais as ICOs. De acordo com a Bloomberg, as vendas de moedas digitais foram "consideradas uma ameaça à estabilidade do mercado financeiro chinês uma vez que as autoridades lutam para dominar os canais de financiamento que se espalham para além do sistema bancário tradicional".
Eddy Travia, diretor-executivo da Coinsilium, empresa que financia e administra o desenvolvimento de empresas embrionárias de tecnologia blockchain, vê o crescente mercado de criptomoedas de forma um pouco diferente. Travia acredita que a infinidade de criptomoedas e novas fichas estaria de fato abrindo o caminho para o preço mais alto do bitcoin.
Travia afirma:
"Essas fichas agora são negociadas suficientemente para desempenharem o papel de absorção de impacto no mercado de criptomoedas. O preço do bitcoin não precisa mais carregar toda a pressão de todos os eventos que afetam os mercados de criptomoedas".
Travia explica que o bitcoin é a criptomoeda de referência, o cripto "ouro" do mercado de fichas, e seu preço provavelmente lidará melhor com os futuros choques do mercado de criptomoedas graças às negociações paralelas de uma diversidade de fichas em corretoras ao redor do mundo.
Travia acrescenta:
"De forma semelhante a investidores vendendo investimentos em moeda fiduciária "de alto investimento" quando as preocupações aumentam em nível global macro, investidores de fichas podem reequilibrar seu portfólio de criptoativos, de fichas de alto risco a bitcoin, visto como menos arriscado, na hipótese de percepções negativas no criptomercado. Embora eles possam não ser classificados atualmente como tais por instituições neste momento, criptomoedas possuem todas as características de uma nova classe de ativos e ainda há muito para aprender sobre a dinâmica dessa nova classe de ativos.
Estaria o bitcoin em um território de bolha?
Will Turner, sócio do escritório de advocacia de Chicago da Barnes and Thornburg observa:
"Uma bolha, em ampla definição, é um preço de um ativo que esteja mais alto do que o preço justificado pelos fatores fundamentais de oferta e demanda. Muitas vezes, há um rápido aumento no preço seguido por uma rápida diminuição. No caso do bitcoin, o rápido aumento no preço é inegável, logo, a questão interessante é o vínculo com os fundamentos".
A oferta de bitcoin é limitada através da programação, mas há outros impactos na oferta como reservas mantidas por agentes individuais do mercado. A demanda é afetada pela capacidade de se usar o bitcoin em transações comerciais, seja como moeda ou para manter registros ou outros fins, e a disponibilidade de alternativas como ethereum, redes de cartão de crédito e moedas recém-emitidas.
Além disso, fatores fundamentais de curto prazo, como o anúncio de ontem do PBoC, por exemplo, podem causar rápidas e acentuadas reversões nos preços do bitcoin e de outras criptomoedas negociadas. Imediatamente após a proibição das ICOs pelo PBoC ter sido anunciada, o bitcoin perdeu cerca de 5,5% de seu valor, caindo US$ 249,30. Outras criptomoedas notáveis, como litecoin, ripple e dash também estavam em queda acentuada.
E que fique avisado também que continuam a persistir questões sobre a eficiência dos atuais mercados de negociação de bitcoin. Como Turner explica, espere que o BTC caia novamente.
"Há acesso desigual a informações e negociações em mercados múltiplos e desconectados. O rápido aumento nos preços de várias moedas sugere que os fatores atuais na negociação de moedas são de natureza de curto prazo. Por esse motivo, espero ver os preços do bitcoin continuarem a subir mesmo que ultrapassem os US$ 5.000 e voltarem a cair novamente, provavelmente mais de uma vez. Eu sou otimista que os preços de longo prazo continuarão a subir devido aos fundamentos".
Há um mercado novo e ainda em desenvolvimento. Nos temos ainda que ver o quão alto o preço do bitcoin ficarão, e quão profundamente as regulamentações sobre criptomoedas poderão ser decretadas e aplicadas. É um admirável mundo novo, cheio de promessas, mas que também exige cautela apropriada e ao menos um mínimo de sagacidade em negociações.