Nome: Virgin Galactic Holdings Inc (NYSE:SPCE)
Ticker: SPCE
Fundada em: 2004, por Richard Branson
Preço: US$8,99
Valor de mercado: US$2,32 bilhões
Você pode ter um dos passaportes mais carimbados do mundo, conhecido os sete mares e já ter posto o pé em cada um de todos os países do planeta, certamente ainda haverá um destino turístico ainda não visitado: o espaço sideral. Quer dizer, ao menos até agora, já que é isso que algumas companhias estão tentando tornar acessível para pessoas como eu e você.
Ao longo do século XX, os Estados Unidos e a União Soviética, duas maiores potências geopolíticas e econômicas da época, batalharam para serem os primeiros a conquistarem o espaço, em uma corrida que terminou com a chegada do homem à lua em 1969. O objetivo dessas missões era mostrar que um país possuía maior expertise e desenvolvimento tecnológico do que o outro e, portanto, um sistema socioeconômico superior. É claro, houve importantes descobertas científicas oriundas do processo, mas esse nunca foi o principal objetivo. Turismo espacial? Isso então nunca fora cogitado.
Isso é, até recentemente. Durante os anos 2000 algumas empresas privadas surgiram com a missão de levar o homem para fora do planeta Terra, e dessa vez de maneira bastante lucrativa. Dos três principais expoentes da corrida (Blue Origin, SpaceX e Virgin Galactic), a Virgin Galactic é a caçula do grupo. Fundada em 2004 por Richard Branson, o bilionário por trás da gravadora de música Virgin e também da Virgin Atlantic, companhia aérea, a Virgin talvez seja a única cujo fundador já tenha experiência nos ramos aeroespacial e de turismo: os outros concorrentes foram fundados respectivamente por Jeff Bezos, fundador da Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) e Elon Musk, fundador do PayPal (NASDAQ:PYPL) (SA:PYPL34) e Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34).
Decolagem turbulenta
Em julho de 2021 a Virgin Galactic venceu a corrida espacial das companhias privadas ao enviar seu fundador Richard Branson para o espaço, oficialmente o primeiro turista a romper a estratosfera, já que todos os visitantes anteriores do espaço eram astronautas profissionais. Apesar de ter sido a primeira companhia do setor a realizar uma viagem espacial, a trajetória não foi fácil.
Originalmente o primeiro voo tripulado da Virgin Galactic deveria ter sido realizado entre 2010 e 2011. No entanto, como seria de se esperar, uma série de dificuldades foram encontradas pela companhia durante o percurso. Explosões, mudanças de combustíveis utilizados e até mesmo redesign de aeronaves foram alguns dos obstáculos que impediram que voos comerciais fossem realizados pela companhia até o presente momento.
Isso não impediu que a companhia de Branson recebesse reservas, cujos montantes eventualmente acabavam tendo de ser devolvidos devido aos adiamentos dos voos. Dessa maneira, a companhia tinha despesas referentes não somente à pesquisa e desenvolvimento, como também queimava caixa para ressarcir clientes insatisfeitos com os atrasos - é claro, com a devida correção monetária, para evitar maiores passivos jurídicos.
Com o sucesso do voo realizado em julho de 2021, transmitido ao vivo para todo o planeta, a companhia espera ter deixado essas dificuldades para trás. Porém a Virgin ainda terá de cruzar uma outra fronteira: a da rentabilidade.
Custos estratosféricos
Ao tratar de turismo espacial, é importante deixar claro que estamos falando de um mercado de luxo focado apenas em multimilionários. Se você acha que uma passagem para conferir a Torre Eiffel em Paris ou a Estátua da Liberdade em Nova Iorque são caras, é porque você ainda não viu o preço de um bilhete da Virgin Galactic: US$450 mil por pessoa. E se você pensa que somente doidos estariam dispostos a gastar esse dinheiro em uma única viagem, saiba que já há uma legião de malucos: das mil passagens que a companhia colocou à venda em agosto de 2021, mais de 700 já foram vendidas.
O grande problema é que se os custos para os clientes são elevados, eles também são muito altos para a companhia, tanto em relação a despesas operacionais quanto em relação à pesquisa e desenvolvimento. Apenas no terceiro trimestre de 2021 os custos operacionais da Virgin Galactic foram de US$50 milhões, 19 milhões a mais do que o mesmo período no ano anterior. Em compensação, os custos de pesquisa e desenvolvimento, ainda que elevados, estão caindo: no terceiro trimestre de 2021 a companhia gastou US$36 milhões, 10 milhões a menos que no terceiro tri de 2020. A mudança no padrão de gastos faz sentido, uma vez que a empresa já dispõe de tecnologia e aeronaves capazes de realizar viagens espaciais para clientes.
Apesar de ainda registrar um prejuízo líquido de US$48 milhões no último balanço divulgado, o tamanho do rombo está diminuindo: no mesmo período de 2020, o prejuízo foi de US$90 milhões. Além disso, a companhia está bem capitalizada para enfrentar o desafio da busca pela rentabilidade: aproveitando o sucesso de sua primeira viagem em julho de 2021, a companhia vendeu 13,7 milhões de ações no mês para captar US$500 milhões para financiar a expansão da sua frota espacial. Com isso, a Virgin tem quase US$1 bi em caixa para tentar viabilizar seu modelo de negócios, que pode só começar a decolar em 2023, já que os primeiros voos abertos ao público devem começar a ocorrer somente no último trimestre de 2022.
Foguete tem ré?
Desde 2015, a SpaceX de Elon Musk refutou o famoso ditado que dizia que foguete não tem ré, ao fazer o pouso de suas espaçonaves Falcon. E há quem aposte que a ascensão meteórica das ações da Virgin Galactic também esteja com os dias contados, voltando a patamares anteriores. Atualmente o short interest das ações da empresa é de 15,6%. Isso é, de todas as ações em circulação, 15,6% estão alugadas para investidores que estão apostando na queda da companhia, número bastante elevado. Apenas para efeitos comparativos, o short interest da Apple (NASDAQ:AAPL) atualmente é de 0,5%.
O pessimismo de alguns investidores não é de maneira alguma infundado: dos últimos oito balanços divulgados, a receita da Virgin Galactic surpreendeu positivamente os analistas apenas no terceiro e segundo trimestre de 2021. E o prejuízo líquido também só foi menor do que o esperado em dois períodos, no terceiro trimestre de 2021 e no último tri de 2020.
Porém, se alguns dados pesam contra a companhia, também há alguns pontos positivos a serem considerados. Se é verdade que a companhia atualmente negocia a 430x EV/Receita, múltiplo extremamente elevado, ao analisarmos a relação preço/book da companhia chegamos ao número de 2,70, apenas ligeiramente acima da média das companhias aéreas, que é de 2,67. Isso talvez poderia sugerir que não há um prêmio muito elevado em relação aos seus pares para uma companhia de turismo com potencial disruptivo como é a Virgin Galactic.
Para a divulgação do seu balanço do quarto trimestre de 2021, que deve ser realizado no dia 22 deste mês, a companhia espera ver um fluxo de caixa livre entre -85 e -95 milhões de dólares, um aumento tanto em relação aos -53 mi do trimestre anterior quanto em relação aos -74 milhões de dólares do último trimestre do ano anterior. Verificar como a Virgin sairá no fim do seu primeiro ano fiscal com um produto operacional será fundamental para saber se as ações da companhia vão decolar ou se o plano de atingir a lucratividade deve realmente ir para o espaço.