Esqueça os ursos do petróleo na NYMEX e na ICE. Conheça um mais poderoso: Igor Sechin, da Rosneft.
O CEO da gigante produtora de petróleo da Rússia, que também é a maior petrolífera de capital aberto do mundo, é capaz de causar mais danos à Opep neste momento do que qualquer vendedor de petróleo em Nova York ou Londres.
À medida que a Arábia Saudita – que lidera a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) composta por 14 membros – trabalha silenciosamente para convencer os russos a permanecer no acordo de corte de produção pelo terceiro ano consecutivo, Sechin exige que Moscou deixe o acordo ou compense sua empresa.
Poderoso aliado de Putin denuncia acordo da Opep
É uma ousadia e tanto contra o governo de um dos líderes mais temidos do mundo: Vladimir Putin. Mas o próprio Sechin é um aliado próximo do presidente russo, além de ser descrito como seu "vice de fato". Ele está no círculo interno dos conselheiros mais conservadores de Putin e é líder da facção Siloviki, do Kremlin, um grupo que reúne antigos agentes do serviço de segurança. E Sechin deixou claro que não poderia se importar menos com o destino dos outros nove países não membros da Opep, liderados pela Rússia em seu pacto com os sauditas – uma aliança conhecida coletivamente como Opep+10. Seu foco está todo concentrado em proteger os interesses da Mãe Rússia. Nesse sentido, o que ele diz ressoa bem em seu governo e no seu país.
Sechin teria dito o seguinte, de acordo com o serviço de notícia russo Interfax:
“Faz algum sentido [para a Rússia] reduzir [a produção de petróleo] se os EUA imediatamente tomam [nossa] participação de mercado? Temos que defender nosso market share.”
As exportações petrolíferas norte-americanas, que recuaram em abril depois de atingirem o recorde de 3,6 milhões de barris por dia (bpd) no início deste ano, subiram novamente para 3,3 milhões de bpd há duas semanas, segundo dados. Nesse ínterim, os sauditas cortaram a produção em níveis recordes e pressionaram a Rússia, cada vez mais relutante, a restringir mais suas exportações.
Sechin quer que tudo isso acabe, pois está vendo que os EUA estão preenchendo o vácuo deixado no mundo pela Rosneft e outros exportadores russos de petróleo. Ele também não consegue ver qualquer lógica no fato de Moscou concordar em realizar mais cortes com os sauditas quando a produção petrolífera russa já se encontra na mínima de três anos por causa de uma crise de contaminação em um oleoduto, que resultou no bombeamento de apenas 10,87 milhões de bpd de 1 a 3 de junho, em comparação com uma média de maio de 11,11 milhões de bpd.
Essa não é a primeira vez que Sechin trata com desprezo a Opep+10: ele escreveu a Putin em dezembro para criticar o pacto, em uma carta cujo vazamento ficou famoso.
Caso tenha seu pedido negado novamente, ele quer que a Rosneft seja compensada pelas perdas provocadas pelos cortes de produção.
Para a Opep, as demandas do CEO da Rosneft não poderiam ocorrer em um pior momento. Se suas palavras repercutirem em Moscou e Putin de fato hesitar em firmar outro acordo com o cartel, pode ser que ocorra mais um período de instabilidade nos preços do petróleo, como no 4T18. Os futuros do petróleo já estão em suas mínimas de quatro meses, com o West Texas Intermediate negociado na NYMEX de Nova York mostrando que pode perder o suporte de US$ 50 por barril, enquanto o Brent, referência mundial, titubeia um pouco acima do piso de US$ 60 na ICE (NYSE:ICE). Em maio, o WTI se desvalorizou 16% e o Brent, 11%. O volume de perdas foi de 20% ou mais se comparado às máximas de abril, colocando o petróleo oficialmente em território baixista.
Para evitar um colapso ainda maior do mercado, os sauditas precisam dos russos.
Reportagens citando fontes anônimas da Rússia têm circulado nas últimas duas semanas, dando conta de que as reuniões da Opep e da Opep+10, originalmente marcadas para os dias 25 e 26 de junho, em Viena, seriam alteradas para datas ainda não confirmadas em julho. A especulação causou tanto transtorno que obrigou o Ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid al-Falih, a fazer um pronunciamento forte, mas cauteloso, no fim de semana através de uma entrevista à Arab News, em que afirmou que não haveria nenhuma mudança nas datas. Mesmo assim, persistiram os rumores de uma prorrogação, alimentados oficialmente por Teerã, na terça-feira, depois que a Reuters publicou uma carta citando o Ministro do Petróleo iraniano, Bijan Zanganeh, que discordava das reuniões originais em junho. Se isso for verdadeiro, a decisão iraniana não seria uma surpresa, já que os sauditas vêm trabalhando nos bastidores com os EUA para tentar interromper as exportações petrolíferas do Irã por meio das sanções do governo Trump.
Preocupações com guerras comerciais podem anular o impacto positivo dos cortes
Mesmo que a Arábia Saudita consiga fechar outro acordo com a Rússia, não há qualquer certeza de que os preços do petróleo entrarão em disparada, como ocorreu no início deste ano, por causa das guerras comerciais dos EUA contra a China e o México.
A menos de três semanas do início do verão no Hemisfério do Norte, a forte demanda de gasolina nas refinarias surpreendentemente desapareceu. Geralmente, as bombas de combustíveis nos EUA registrariam fortes vendas nessa época do ano, quando se inicia a temporada de viagens automotivas no país. Os estoques de petróleo bruto nos EUA tiveram uma redução de apenas 0,28 milhão de barris na semana encerrada em 24 de maio, em comparação com uma previsão de retirada de 0,86 milhão de barris. Eles tiveram uma elevação de 5 milhões de barris em média nas duas semanas anteriores, devido à operação mais fraca das refinarias. Dados preliminares da semana encerrada em 31 de maio, emitidos pelo Instituto Americano do Petróleo, na terça-feira, sugerem mais números baixistas, com um acúmulo de estoques de 3,6 milhões de barris.
Ao comentar sobre o pacto entre Rússia e Arábia Saudita em dezembro, o colunista de opinião da Bloomberg, Leonid Bershidsky, afirmou que os cortes de produção só faziam sentido se fosse possível sustentar preços elevados. Embora os cortes da Opep+10 tenham produzido cerca de 40% da valorização em suas máximas, agora só restam 20% desses ganhos.
Bershidsky disse ainda:
“Nem a Arábia Saudita nem a Rússia estão interessadas em cortar a produção de forma a permitir que os EUA continuem aumentando suas exportações petrolíferas e se tornem um concorrente nos mercados mundiais.”