A ressaca do feriado já passou. E a ressaca, dessa vez, foi política: o atentado contra Jair Bolsonaro, na tarde da véspera do feriado (6), discretamente começa a sair de cena nos principais noticiários e redes sociais. Agora, começa a se definir melhor o cenário do segundo turno das eleições.
Setembro é sempre sinônimo de acontecimentos importantes. No calendário histórico, o ataque às Torres Gêmeas, em 2001, e o golpe militar no Chile, em 1973. É o mês, também, em que se iniciou e terminou a Segunda Guerra Mundial (1 de setembro de 1939 e 2 de setembro de 1945).
No mundo político brasileiro não é diferente. Nas eleições passadas, setembro foi determinante para o desfecho final. Exatamente no dia 10 de setembro de 2014, o Instituto Datafolha divulgava pesquisa nacional para a Presidência da República: Dilma Rousseff era o voto de 36% dos entrevistados e Marina Silva vinha logo em seguida, com 33%. Aécio Neves amargava somente 15% das intenções.
A data marcava o início da derrocada de Marina e a explosiva reação do mineiro do PSDB. No fim das contas, Aécio perdeu no segundo turno por muito pouco. Muitos viam o tucano fora da disputa após o acidente de Eduardo Campos e ignoraram a força da polarização histórica no país entre centro-esquerda e centro-direita.
Nas eleições atuais, existem duas questões – sem resposta – que inquietam aqueles que acompanham política e estão preocupados com seus investimentos.
A primeira é: qual a força das redes sociais e da internet em relação aos mecanismos tradicionais de campanha para o resultado das eleições? Na minha opinião, ainda teremos uma grande predominância da propaganda via TV e outros instrumentos tradicionais. Nem toda a população tem acesso à internet e, se tem, a maioria dispõe de uso limitado. Se informar pela TV fica mais fácil.
O atentado contra Jair Bolsonaro e a solidariedade da população não se converteu em um aumento das intenções de voto do candidato. Isso reforça que a rede social, tomada pelo assunto nestes últimos dias, serve mais como um espaço de análises e debates do que propriamente para a decisão de voto.
A segunda pergunta diz respeito ao possível rompimento da polarização PT x PSDB no segundo turno. Apesar da resposta ser imprecisa, acredito que a ruptura ocorrerá, com Jair Bolsonaro no segundo turno. É verdade que o episódio da facada não impulsionou sua candidatura, mas seu eleitorado fiel – que se mantém entre 20-25% em todas as pesquisas – garante a passagem.
No momento atual, acredito que a segunda vaga fica entre Ciro Gomes e Fernando Haddad. Os dois candidatos irão disputar o eleitor de centro-esquerda, sendo mais provável que Haddad saia vencedor com a transferência de votos de Lula. Se Ciro for ao segundo turno, será por erro de estratégia petista – que demorou demais para lançar o ex-prefeito de São Paulo em substituição ao ex-presidente.
Dificilmente teremos um cenário de segundo turno sem PT nem PSDB. A força de ambos os partidos tanto em recursos, tempo de TV e rádio, quanto em diretórios regionais faz com que outros concorrentes tenham a difícil tarefa de conquistar eleitorado por métodos não convencionais. Bolsonaro o fez com um discurso anti-establishment polêmico, mas já tem pesadelos com o alto índice de rejeição que tira suas chances de vitória no segundo turno. Marina, repetindo a história de 2010 e 2014, parece ficar pelo caminho. Alckmin só terá chances se roubar votos de Amoêdo, Dias ou até mesmo de Marina.
É quase clichê falar novamente que estas são as eleições mais imprevisíveis da história, mas realmente espanta ver quatro candidatos empatados tecnicamente no segundo lugar com tão pouco tempo para a votação.
Setembro de 2018 será lembrado menos pelo ataque ao militar da reserva e mais pelo afunilamento – finalmente – dos candidatos com chances reais de chegar ao segundo turno das eleições.