Ontem o movimento no câmbio foi de baixa no dólar ante o real, acompanhando a queda predominante do dólar frente às moedas emergentes no exterior. O abandono do teto de gastos pelo governo já foi precificado e, agora, o mercado avalia em quanto pode ficar o extrateto. Além disso, mercado já precifica aumento mais agressivo da Selic.
Volatilidade foi a palavra do dia e mercado operou na máxima em R$ 5,6596 e na mínima de R$ 5,5371. A moeda americana fechou a R$ 5,5525 na venda.
Os próximos meses serão de extrema importância para a economia devido a questões fiscais. Haverá votação da PEC dos precatórios e do Orçamento de 2022. A questão é quanto a ala política pressionará por mais gastos.
A Câmara deve votar hoje a PEC dos Precatórios, proposta que abre espaço fiscal para elevar para 400 reais por mês os recursos a serem pagos pelo Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
O Banco Central deve aumentar mais forte a Selic nesta semana para tentar conter a inflação. O mercado já aposta em um aumento entre 1,25 pp e 1,50 pp. Isso em tese é bom para o real, que pelo diferencial de juros traria mais investimentos para o país. As instituições financeiras revisam as planilhas considerando o pessimismo com a economia. O mercado estima juros na casa de 10%, ou acima, e PIB ladeira abaixo.
O ministro Paulo Guedes ter ficado no cargo e a indicação de funcionários de carreira para o Tesouro permitiram que o investidor respirasse um pouco na sexta-feira e neste início da semana. No entanto, existe uma preocupação com o quadro fiscal, à medida que o controle do Orçamento está nas mãos do Congresso e as pressões para mais gastos devem continuar.
O problema não é o Auxilio em si, e sim a quebra das regras fiscais. Se não tomarem medidas para cortar despesas, o Brasil voltará ao período de recessão que vivia antes de ser estabelecido o teto de gastos. O aumento dos juros no ano que vem vai refletir em 2023, jogando a economia para baixo.
Olhando para o mundo, diante da vacinação avançada e da retomada econômica global, os grandes Bancos Centrais se preparam para normalização das suas políticas monetárias. O curioso é que o Fed nem anunciou oficialmente o tapering e o mercado já está precificando isso, especulando sobre a antecipação do início da alta de juros nos EUA para o primeiro semestre de 2022.
O dólar abandonou o auge do estresse que acometeu o mercado durante o dia de sexta-feira, mas isso não significa que o mercado engoliu a aventura fiscal do ministro da economia.
No Boletim Focus divulgado ontem, pudemos perceber a reação do mercado com o novo programa de transferência de renda e mudança do período temporal de alteração do teto. As estimativas para o IPCA neste ano foram de 8,69% para 8,96%, enquanto há 4 semanas estavam em 8,45%. A estimativa do IPCA continua acima tanto da meta de 3,75% como do limite superior de 5,25%. Os economistas voltaram a rebaixar as estimativas para a alta do PIB no fim do ano, com avanço projetado de 5,01% para 4,97%, enquanto há quatro semanas estava em 5,04%. Foi a segunda queda de projeções para o PIB deste ano. Já a projeção da taxa Selic subiu de 8,25% para 8,75% no fim deste ano, enquanto há quatro semanas estava em 8,25%. Em relação ao dólar, as apostas se elevaram substancialmente, de R$ 5,25 para R$ 5,45, enquanto há quatro semanas a estimativa estava em R$ 5,20. Para 2022, as estimativas também saltaram de R$ 5,25 para R$ 5,45.
Para hoje dados de IPCA-15 aqui no Brasil. Nos EUA a confiança do consumidor.
Na minha opinião, a queda do dólar nesta segunda-feira não reflete qualquer melhora no cenário fiscal e é apenas ajuste "natural" depois da forte valorização acumulada pela moeda na semana passada.