Queda da poupança e piora do setor externo

Publicado 18.12.2013, 12:51

Um modelo fadado ao fracasso, sustentando apenas pelo consumo, sempre acaba mostrando “vazamentos” quando observados os indicadores das contas nacionais e do setor externo com mais atenção.

Tem-se o debate em torno dos excessos de consumo sobre a disponibilidade de renda doméstica, gerando baixa poupança doméstica, complementada então pela externa. Isto acaba se refletindo em aumento do déficit em conta corrente, na chamada poupança externa positiva.
Desde 2010, observa-se a perda de força da chamada poupança doméstica e o aumento da externa. Lembremos que a doméstica é a soma da privada, em torno de 18,7% do PIB no período entre 2000 e 2103, com a “despoupança pública”, em torno de 2,4% no mesmo período.

Com isto, a poupança doméstica acaba em torno de 16,5% do PIB, em muito, gerada pela perda de força da do setor privado. Isto acaba acarretando na piora do setor externo, com o déficit em conta corrente próximo a 3,6% do PIB - estava em 2,7% em 2010. O pior é que isto vem ocorrendo em decorrência do aumento do consumo e não dos investimentos. Estes recuaram 2,1 pontos percentuais, a 18,1% do PIB, como visto na tabela a seguir. Isto nos leva a acreditar que o modelo está errado, não sendo sustentável no longo prazo. Observando a tabela abaixo, a poupança doméstica passou de 17,5% do PIB para 14,4% e a externa (déficit em conta corrente) de 2,7% para 3,7%.
Tabela
Analisando as contas externas, seu desempenho recente merece uma atenção maior. Com as reservas cambiais em patamar confortável (US$ 376 bilhões), este desequilíbrio externo atual, resultante dos excessos domésticos, até pode ser considerado administrável no curto prazo, mas e no longo? Se mantidas as condições atuais, de excessos de consumo doméstico, perda de forma da poupança doméstica e deterioração externa contínua, chegará um momento em que os investidores começaram a apostar contra a política econômica doméstica, tornando nossa moeda ainda mais volátil do que atualmente. Neste ponto, o BACEN terá que agir mais fortemente na venda de divisas, o que pode, em algum momento, resultar no uso destas reservas.

Pelos indicadores externos de outubro divulgados, o que se observa é que, se nada for feito, este desfecho acabará inevitável.

O déficit em conta corrente foi a US$ 7,1 bilhões, acumulando no ano US$ 67,5 bilhões e em 12 meses, em US$ 82,2 bilhões, 3,67% do PIB, acima do registrado em setembro no mesmo critério de apuração (3,59%). Este saldo ficou bem acima do registrado no mesmo período de 2012 US$ 54,2 bilhões.

Um fato preocupante é que o saldo do balanço de pagamentos também acabou negativo no ano, em US$ 2,2 bilhões, bem pior do que em 2012 quando foi positivo em US$ 23,4 bilhões, sinal de que o déficit não foi coberto pelo ingresso de capitais externos, com destaque para os investimentos externos diretos. Estes, no mês, fecharam em US$ 5,3 bilhões, somando US$ 49,1 bilhões no ano, insuficientes para financiar o rombo de US$ 67 bilhões. Em 12 meses, fecharam em US$ 59,1 bilhões, 2,64% do PIB, aumentando a necessidade de financiamento externo, conforme gráfico ao fim. Modelos estimam que a situação pode se tornar realmente preocupante se as reservas começarem a ser queimadas e o rombo externo passar de 4% do PIB.

Vejamos, portanto, porque as contas externas vêm piorando. A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,9 bilhões em outubro 69% do déficit total, com forte pressão das despesas com viagens (US$ 1,8 bilhão, +15,9% sobre o mesmo mês de 2012); despesas com transportes (+17,4%), serviços de computação (43,4%), despesas com aluguel (22,9%) e royalties e licenças (17,9%). Isto nos leva a concluir, que a classe média segue viajando e as importações continuam pressionando as contas externas.

Cenário.
Para o final deste ano, as projeções indicam um déficit em torno de US$ 76 bilhões e em 2014 é possível algum recuo, dado que cresceremos no mesmo ritmo deste ano, a produção doméstica de petróleo deve aumentar, assim como a balança comercial deve melhorar.
  NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO EXTERNO AUMENTANDO, % PIB

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