Que Vantagem o Investidor Leva?

Publicado 13.03.2020, 11:51

Quem é mais novo no mundo dos investimentos talvez não imagine, mas, até pouco tempo atrás, se você procurasse seu banco para investir em um fundo, te mostrariam um cardápio só com produtos da casa. Até que, graças às corretoras independentes, um novo mundo de possibilidades (e excelentes fundos) se abriu.

Embora os grandes bancos e financeiras ainda sejam o principal destino das aplicações dos brasileiros (algo em torno de 80%), as distribuidoras foram as grandes responsáveis por levar ao varejo produtos sofisticados, antes restritos aos mais endinheirados. A XP inclusive foi pioneira nessa democratização, em especial dos fundos de investimento.

O desenvolvimento das plataformas teve outro papel importante, o de fomentar o surgimento de novas gestoras, com os agentes autônomos fazendo a ponte entre os investidores ávidos por bons produtos e os gestores — profissionais com vasta experiência, bom histórico de retornos e cansados de bater cartão nas grandes instituições financeiras.

Quando analisamos a indústria hoje, dada a forte expansão da XP, se uma gestora quiser captar de fato no varejo, ela não tem muita alternativa a não ser entrar na prateleira da líder do mercado, que tem um alcance muito maior que o das concorrentes — supera os R$ 350 bilhões sob custódia e conta com mais de 6 mil agentes autônomos conectados à plataforma.

É como se tivéssemos nos libertado de uma indústria até então centralizada nos grandes bancos, mas que, na prática, volta a ser monopolista.

Isso é muito nítido quando conversamos principalmente com novas gestoras, que nos contam das imposições feitas pela XP para distribuir seus fundos, a começar pelo tamanho do rebate (comissão paga pelas gestoras para quem oferece seus produtos).

Esse tipo de negociação pode até ser uma prática considerada comum no mercado, mas é nosso trabalho aqui ficarmos vigilantes para que interesses comerciais não afetem você nem suas decisões de investimento.

Nesta semana, nossos assinantes nos procuraram perguntando sobre a decisão da XP de não liberar para seus clientes o fundo de ações Equitas Selection, que reabriu na semana passada. Em comunicado, apontou como justificativa a alta velocidade de crescimento do patrimônio, que saiu de cerca de R$ 560 milhões há um ano para os R$ 7 bilhões alcançados em fevereiro, quando a casa decidiu fechar para novos aportes.

Conversamos com o sócio-fundador e gestor da Equitas, Luis Felipe Amaral. Ele esclareceu que a decisão de fechar o fundo, há um mês, não foi motivada por uma questão de capacity, como sugeriu a XP. A ideia, na época, foi dar uma pausa para distribuir melhor os novos cotistas, que entraram de forma massiva no fundo na segunda metade do ano passado (trazidos em grande parte pela própria XP).

No entanto, a forte desvalorização da Bolsa neste início de março fez com que a Equitas optasse pela reabertura. “O cenário mudou. Do ponto de vista de um investidor que tem visão de longo prazo, se posicionar em ações a um preço que historicamente se mostra interessante é uma ótima oportunidade. E captar agora faz todo o sentido do ponto de vista do passivo, é um investidor que viu a incerteza do mercado de perto, mas está confiante e querendo aplicar; é muito saudável ter esse tipo de investidor.”

Na nossa visão, o argumento da XP de prudência com o tamanho do fundo é curioso principalmente porque foi ela a responsável pela forte captação recente. De qualquer forma, o gestor disse que está muito confortável sobre a capacidade operacional de gerir os recursos (atualmente em R$ 5 bilhões), dado que a Equitas tem uma equipe de 11 analistas setoriais experientes, focados numa única estratégia de selecionar empresas consolidadas, e com giro baixo das ações que compõem a carteira.

Outro movimento feito pela XP que tem chamado a atenção dos nossos leitores e que temos acompanhado é a criação de versões exclusivas de fundos já existentes. Se você foi convocado para uma assembleia que propõe a “cisão” do fundo no qual investe, sabe do que estamos falando. A finalidade é separar o produto já disponível por meio de distintas plataformas e transformá-lo em um novo veículo, que continuará replicando a mesma estratégia do original.

A diferença é que esse “fundo espelho” será exclusivo de uma distribuidora específica, no caso, a XP. A título de curiosidade, esse tipo de operação chegou a ser proposta aos cotistas da Equitas em assembleia no ano passado, mas foi rejeitada.

Sobre essas operações de cisão, vemos uma desvantagem que precisa estar muito clara: quando se é cotista de um produto exclusivo, torna-se impossível fazer a portabilidade entre plataformas. Isso porque, após a tal cisão, o fundo ganha um CNPJ diferente. Em resumo, a mudança limita o investidor, caso ele queira no futuro fazer uma migração para o mesmo fundo, mas em outra distribuidora.

Nosso trabalho é estar próximo dos gestores e acompanhar qualquer outro assunto que possa interferir nos seus investimentos. 

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