O ano de 2020 definitivamente não deixará saudades, mas deixa lições importantes.
Começamos o ano com a bolsa de valores no maior nível da história, praticamente encostando nos 120 mil pontos, impulsionada pelas esperanças de um governo que foi eleito com um viés de realizar importantes reformas estruturais, reduzir o peso do estado e colocar nosso déficit fiscal, já alto, na trajetória de queda e controle.
Ninguém imaginava o que estava por vir.
Desde dezembro, já ficavam cada vez mais frequentes as notícias de que havia um vírus novo na China.
O mercado, no entanto, não deu peso tão grande para tais notícias, talvez influenciado pelo desfecho das últimas situações semelhantes, como o SARS e o MERS, que ficaram restritas a determinados países.
Os investidores não imaginaram que a epidemia tornar-se-ia pandemia e teria impactos tão devastadores e, desta forma, mesmo com mais de 2 meses da notícia do vírus, a bolsa brasileira alcançaria seu maior patamar da história, aos 119 mil pontos em 23 de janeiro.
Cerca de um mês depois, no entanto, notícias de que o vírus era bastante contagioso e já se espalhara por diversos países do mundo, causando uma procura aumentada por hospitais em algumas regiões, trouxeram a gravidade da situação à tona e com isso as bolsas mundo a fora derreteram.
Aqui no Brasil, tivemos nada menos que 5 circuit breakers - quando as negociações são interrompidas na volta após um nível determinado de queda ser atingido - em apenas 6 pregões.
O primeiro circuit breaker foi em 09/03 e a faísca foram os atritos entre Rússia e Arábia Saudita nas negociações sobre a produção de petróleo, mas a verdade é que o mundo já percebera que o novo vírus, dessa vez, era diferente, e tinha potencial de espalhar-se pelo mundo.
O índice Bovespa foi então do céu ao inferno, caindo a mínima de 63 mil pontos em 23 de março.
O que se seguiu, nos próximos meses, foram tempos difíceis, com uma série de lockdowns, restrições de contato físico, fechamento de negócios e inúmeros mortos pela doença, que no dia de hoje somam 1,7 milhões no mundo e 190 mil no Brasil, apesar da velocidade inédita na história com que os cientistas criaram vacinas, que já começaram a ser aplicadas em alguns países ao final de dezembro.
Na economia, a capacidade de resposta foi ainda mais rápida. Com o aprendizado de outras crises, os bancos centrais dispararam rapidamente e com grande intensidade suas rajadas de estímulos - fiscais e monetários - que auxiliaram indivíduos e empresas a sobreviverem à pandemia, embora muitos negócios não tenham resistido.
Os pacotes de auxílio às economias, fizeram os mercados recuperaram-se em ritmo recorde, e encerremos 2020 com uma pontuação de 118 mil pontos no Ibovespa, praticamente a mesma pontuação com que ele havia encerrado 2019.
Um investidor que dormisse ao final de 2019 e acordasse apenas ao final de 2020, portanto, pouco pensaria que aconteceu durante o ano. Ledo engano. Fomos do céu ao inferno e ressurgimos das cinzas.
A lição deste ano? Resiliência, paciência e sangue frio.
O investidor em ações, nunca deve deixar seus sentimentos de pânico o guiarem nas suas decisões. O mais correto seria dizer que a lição do ano foi a reafirmação da importância de não se vender, mas sim comprar, nas baixas do mercado.
Dependendo do nível de incerteza e das circunstancias, porém, isto é quase impossível.
Eu diria que, na ausência de coragem ou de recursos financeiros adicionais para o aporte o ideal é, pelo menos, não fazer nada – o que as vezes pode ser muito difícil psicologicamente.
A bolsa de valores sempre se recuperou das crises até hoje. Sempre que houver uma crise, portanto, a probabilidade maior é de recuperação, se nos basearmos pelo histórico.
Não é de se estranhar que a bolsa se reinvente e evolua, afinal, a bolsa é formada por empresas e estas por seres humanos, assim como o mercado e as decisões de investimentos. Tal como nós humanos, a economia e as empresas inovam, recriam e superam os desafios que as derrubam, sejam eles guerras, crises financeiras ou – no caso de 2020 – o vírus.
Enfim, chegamos a 2021, e o ano inicia com a esperança renovada de que sempre conseguiremos dar a volta por cima.