O mercado financeiro e os investidores nacionais e estrangeiros estão céticos em relação ao novo ministro da Fazenda, afinal se era para fazer o mesmo que o ex-ministro Levy buscava fazer, por que mudar?
O novo ministro Nelson Barbosa, um dos mais ferrenhos defensores e implementadores do que se denominou chamar “nova matriz econômica”, responsável pelo estado deletério da economia brasileira em profunda recessão tendente a piorar e com problemas de política fiscal incontornáveis no curto prazo, tenta passar uma mensagem inicial de que manterá a linha de austeridade frente aos gastos públicos, com foco cerrado na política fiscal, mas isto filosoficamente é absolutamente contrário ao seu tradicional pensamento desenvolvimentista que conduz a gastos excessivos, na expectativa de que a economia reaja e “devolva” os dispêndios com aumento de arrecadação, e que tem o exemplo inconteste de insucesso no quadro atual, pois carente no passado recente e agora do fator preponderante que é a credibilidade e confiança dos setores produtivos nos propósitos dos discursos governamentais.
Falou em reforma da previdência, tema absolutamente indigesto para discussão na atualidade e que já teve oportunidade de ser posto em discussão quando o governo tinha base política de sustentação. Fala em CPMF aprovada no 1º semestre para vigência a partir do 2º semestre, socializando assim o ônus dos desmandos do governo, o que não será fácil aprovar. Enfim, mostrando propósitos de austeridade.
Mas, a mudança sugere que foi posto no cargo para flexibilizar o nível de austeridade, gastando mais como é do desejo do partido da presidente da República, e mantendo as benesses hoje já quase impagáveis pelo governo para sustentar a base de apoio popular. Enfim, dar mostras de que o quadro não tem a gravidade que sustenta o negativismo predominante.
Sugere comportamento, figurativamente, bipolar com sustentação de discursos e práticas diferentes, à conveniência da plateia.
Este é o ponto que impacta como falta de credibilidade por parte do mercado financeiro e setor produtivo brasileiro. Ninguém acredita que a austeridade continuará e o risco é de que a crise seja mais aprofundada, com os indicadores reais da economia reproduzindo o caos.
Não há espaço para “milagres”, o governo não tem recursos e a esdrúxula ideia de utilização das reservas cambiais para financiar os investimentos na infraestrutura provocaria a inteira vulnerabilidade ao fragilizar o último fator que empresta credibilidade à colocação dos contratos de swaps cambiais, que se presta a hedge e evitam a explosão da taxa cambial, e promovem o financiamento aos bancos para lastro das posições vendidas que geram a liquidez no mercado à vista.
Estes montantes empenhados de forma indireta correspondem efetivamente a comprometimentos já existentes das reservas cambiais, que, contudo, precisam ser mantidas disponíveis para atender eventuais pressões de demanda efetiva considerando que o risco do país está em ascensão e há também uma deterioração dos ratings por parte das agências especializadas, que podem culminar com a saída obrigatória e espontânea de recursos estrangeiros alocados no país.
Há, portanto, pouco ou nenhum espaço para fazer diferente do que o ex-ministro Levy vinha fazendo com foco na austeridade fiscal, havendo em contrapartida espaço para piora com menor rigor que atenderia o lado político do governo e do seu partido, surgindo até um inusitado e inexequível plano de desenvolvimento com enorme probabilidade de se tornar letra morta.
É importante observar que o agora ministro tentou que a meta do superávit fosse de 0,5% com descontos, que envolve os investimentos no PAC, etc...., e agora está conforme com o 0,5%, muito embora tudo sugira que em 2016 ocorrerá novo déficit expressivo, já que está bastante evidente que teremos PIB negativo e produção industrial negativa, e perspectivas péssimas para o emprego que deverá acentuar a perda de vagas, provocando queda de renda e consumo, e, que neste ambiente conturbado haverá pouca possibilidade para reversão efetiva da tendência inflacionária, além daqueles ocasionados ainda que de forma desproporcional pela recessão agravada.
O grande risco é a dualidade de discursos à conveniência da plateia, pois não parece que conquistará a credibilidade do mercado financeiro e setor produtivo a menos que demonstre com atitudes e resultados, mas claro está que se fizer o que estes setores esperam causará frustração à base política do governo que anseia pela contumaz gastança como se tudo estivesse bem, que seria uma falsa impressão e agravaria mais a situação fiscal do governo.
Por outro lado, o ministro da Fazenda e a própria presidente devem criar melhor alinhamento com o Banco Central do Brasil, visto que no atual contexto o aumento do juro não sensibiliza a pressão inflacionária, já que a demanda por crédito e a tendência ao consumo são cadentes, agravando tão somente a situação fiscal do governo.
A reação não é tão intensa em relação à substituição do então ministro Levy, que já dava sinais de exaustão no enfrentamento político com o partido da presidente, mas houve a decepção em relação ao seu substituto, personagem que, sabidamente, comunga de outra filosofia e que tende a não ser tão austero focando a recuperação discreta da popularidade do governo e as ameaças latentes presentes às classes de baixa renda.
A presidente afirmou que não realizará mudanças bruscas, até porque não tem muitas alternativas, mas o sentimento é que o que ocorrer será para pior.
O mercado internacional agravou sobremaneira o conceito de risco do Brasil ao observarmos os indicativos dos CDS (Credit Default Swaps) e as agências de riscos já não tem espaço para serem complacentes, portanto não se devem ter perspectivas de ingressos de recursos externos mais acentuados no próximo ano, mas, em contraposição, é consistente a probabilidade de intensificação de saídas.
A tendência é este quadro absolutamente desfavorável ser efetivamente precificado no dólar, que assim poderia ir logo ao início do ano a parâmetros elevados. Devemos ter em mente o fato de o BC deter parcos instrumentos para conter pressões maiores e consistentes, e, não se pode descartar até a ocorrência de movimentos especulativos sobre o real.
Ontem, os mercados de câmbio, juros, bolsa repercutiram o desapontamento como sentimento, e hoje, seguramente o BC observará para que o ano seja encerrado com uma taxa de câmbio abaixo de R$ 4,00, algo meramente psicológico mais não real, por ser o referencial maior.