Gosto de escrever de forma direta e franca e, mesmo correndo o risco de ser repetitivo, não posso deixar de voltar a esse tema.
Tenho visto alguns empreendedores um pouco confusos sobre como os investidores olham para as suas empresas e as avaliam. Não os culpo. Na maioria dos casos, eles não foram formados com este tipo de conhecimento e as ondas do empreendedorismo de palco trazem novas e novas complexidades desnecessárias que podem acabar tirando o foco do empreendedor e confundi-lo com novos termos e expressões, comumente trazidos de outro idioma.
Então, proponho focar na fórmula mais simples para expressar o valor de uma companhia (ou de um fluxo de caixa qualquer):
Valor = Geração de Caixa / (i-g), onde: i é a taxa de desconto adequada ao risco percebido do empreendimento e g é a taxa a que se espera que a empresa cresça nos próximos períodos.
Minha proposta neste texto é trabalhar esta fórmula tentando decompô-la para torná-la tão simples quanto o possível. Vamos lá:
A Geração de Caixa a que esta fórmula se refere é aquela que fica disponível para remunerar os investidores, ou seja, após os investimentos. Então, podemos escrever que essa geração de caixa é a geração de caixa das operações menos os investimentos que serão realizados. Então teremos:
Valor = (Geração de Caixa das Operações – Investimentos) / (i – g)
Desta decomposição já se pode depreender que nem todos os investimentos são desejáveis do ponto de vista da geração de valor. Somente aqueles que tenham impacto adequado no denominador da nossa fórmula são bem-vindos, mas trataremos disso daqui a pouco.
Resumidamente, em se tratando da geração de caixa das operações, quão maiores os recebimentos e menores os pagamentos de cada período, melhor. Não defendo aqui de modo algum o calote nos fornecedores, pois isso, no longo prazo, destrói valor. As formas corretas de aumentar essa diferença são pelo aumento da margem total, ou seja, tanto pelo aumento do volume de vendas quanto pelo controle ferrenho dos custos. Então, o empreendedor precisa se dedicar, de um lado a conquistar novos clientes e aumentar o quanto cada cliente compra por mês (sim, a unidade aqui é tempo e não visita), e do outro a torná-los satisfeitos com o que recebem de forma cada vez mais eficiente (com menos custos).
Voltando a questão dos investimentos, como adiantei, somente serão bem-vindos aqueles que, de alguma forma, impactem o denominador, seja reduzindo o risco percebido, seja aumentando as expectativas sobre o crescimento futuro da geração de caixa. Aliás, em que pese a sua simplicidade, esta fórmula faz uma ótima aproximação dos modelos de avaliação de investimentos.
Assim, investimentos que agregam valor são aqueles que ou reduzem o risco do empreendimento, ou retiram alguma restrição ao seu crescimento futuro de modo a mais que compensar a redução que fazem no caixa disponível para remunerar os investidores. Aqui já fica um alerta e uma dica: caso não consiga responder qual será o efeito de um certo investimento nessas duas dimensões do denominador, melhor repensá-lo.
Focando agora na taxa de desconto (i) acho que a primeira coisa que precisamos colocar é que NÃO será aquela estimada pelo CAPM quando se tratar de uma startup. Isto porque as taxas que temos tabuladas, o são para empresas cotadas, ou seja, de porte significativamente diverso de uma empresa em fase inicial. Assim, não existe uma fórmula para ela. Contudo, diferentes estudos já trabalharam, na visão de investidores, quais são as principais variáveis que a afetam. Vou citar aqui algumas, mas, certamente, existirão outras.
Em relação ao empreendedor: experiência, formação, habilidade como negociador, liderança, capacidade de selecionar talentos etc.
Sobre o empreendimento em si: mercado (oceano azul?), diferenciação tecnológica, rentabilidade esperada, facilidade de imitação (patentes?) etc.
Em relação ao ambiente institucional: estabilidade da regulação, taxas de juros, crescimento econômico etc.
Então, sempre que o empreendedor consegue mudar a percepção dos investidores sobre esses aspectos, naturalmente, gerará valor.
Por fim, mas não menos importante e extremamente relacionado aos itens anteriores, vem a expectativa de crescimento futuro (g). Esta expectativa também decorre de uma série de outras características, algumas das quais, já citamos. Vejamos: a) do quão satisfeitos os clientes atuais estão com os serviços da companhia e sua expectativa de recompra; b) do programa de investimentos planejado e de sua adequação; c) das características da concorrência e de quanto a inovação trazida pela empresa é copiável; d) das condições macroeconômicas etc.
Então, respondendo à pergunta do título, sua startup irá gerar valor quando você e sua equipe se habituarem a responder, antes de cada decisão, como ela afetará o valor calculado pela nossa fórmula.
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