O título desse artigo é a segunda pergunta que mais ouvi nessa semana. Considerando que a primeira foi “tudo bem?”, podemos concluir que o preço de entrada do Bitcoin é um assunto que inquieta muitos interessados. Minha resposta costuma ser que depois de uma queda forte, criptomoedas continuam a ter tendência de baixa ainda por algum tempo. Ainda que não respondendo de maneira direta a pergunta, creio que dar um número não é sensato. Vamos ao que acredito.
Análise técnica, com seus suportes e resistências, é uma ferramenta extremamente interessante. Ao contrário do economista mediano, creio que alguns indicadores podem ser features razoáveis para modelos de trading. Contudo, arriscar de supetão uma previsão baseada em gráfico não é desejável porque a análise gráfica me parece muito mais uma ferramenta para “gerenciamento de riscos” e construção de cenário que previsão propriamente dito. O grande mérito da análise gráfica é forçar cenários a serem construídos e, dessa maneira, o trader se preparar para eles. Cravar um número e acreditar firmemente nele não é desejável, sendo necessário se preparar para uma boa quantidade de preços após o número inicial. Arriscar somente uma resposta aqui na coluna sem acompanhar cenários seria uma irresponsabilidade minha.
Análise fundamental cripto ainda é embrionária e parece ser insensível às enormes flutuações de curto prazo. Mesmo em ativos convencionais, análises fundamentais parecem respondem mal a ambientes de alta incerteza. Não há como precisar, por exemplo, o impacto de uma queda se a causa da queda não é clara. Por exemplo, é mais fácil responder a uma mudança regulatória inesperada que puxou os preços da Petrobrás para baixo que uma mudança causada por uma operação policial de longa duração. O que causou a crise foi a guerra de hash rate? Como isso se propagou para todo o mercado sendo que parece mais ou menos resolvida com o Bitcoin ainda seguro no curto prazo? É a expectativa de menor hash rate mesmo se não tivesse a crise do Bitcoin Cash? Não há respostas simples e ajustar as expectativas para essa incerteza não é simples. Uma análise fundamental, também, tem que vir acompanhada de diversos cenários sobre as causas e consequências.
Enfim: qual o preço para entrar? A resposta também depende de sua estratégia de trading. Um trader de long and short e um de momentum podem aceitar entrar em preços distintos. Na verdade, perguntas sobre preços me soam bobas porque a questão não independe de sua projeção de ganhos do Bitcoin e de qual o ganho necessário para compensar o risco esperado da operação. O preço para entrar depende da estratégia. Responder sem considerar isso não parece sensato e evita afirmações como “Bitcoin vai a 60.000 dólares” ou “Bitcoin vai a 1.400 dólares” para logo depois desconversar.
Sobre o atual momento, a pergunta que eu faria é “qual o preço necessário para manter a rede funcionando?”. Mineradores não mineram de graça e, no atual momento de conflitos entre fazendas de mineração, isso se torna algo relevante. A rede vai para preço zero se não for minimamente segura. Nesse artigo que pode ser lido aqui, modelo por teoria dos jogos a relação entre hash rate e preços numa blockchain pública baseada em Proof-of-Work. Preços importam, mas suas projeções têm que vir acompanhadas de inúmeros cenários. Pensar sobre como está o sentimento do mercado e a segurança da rede pode ser um bom começo.