Uma das decisões mais difíceis para o investidor é escolher a hora certa de transformar CAIXA em POSIÇÃO: comprar aquela ação na qual se está de olho faz tempo costuma ser difícil quando não se tem parâmetros corretos sobre CARO e BARATO. Nesse texto, pretendo desenvolver alguns raciocínios que auxiliem essa análise.
Antes de começar: àqueles que esperam esse momento chegar com base na queda semanal/mensal do papel, sinto decepcionar: market timing guiado por oscilações diárias é uma grande perda de tempo. Ninguém sabe o que acontecerá com as cotações no curto prazo. No mercado há os que acham que sabem e os que sabem que não sabem. Ponto!
O que os grafistas chamam de correções, normalmente são investidores de varejo vendendo posições por pura aversão ao risco, uma grande gestora ajustando seu portfólio, um grande fundo institucional tomando um short squeeze e por aí vai. Aliás, essas “correções” costumam ser desencadeadas umas pelas outras. É o tão conhecido Efeito Manada. O dinheiro trocando de mão. Citando uma frase que gosto muito, “o mercado é um grande cinema cheio, com saídas estreitas, onde alguém grita – FOGO!”
Então vamos fazer a pergunta correta: Com base nos fundamentos, qual é a hora certa para se comprar uma ação?
Imagine que você esteja namorando uma empresa premium: líder de mercado, entrega resultados excelentes trimestre a trimestre, expande suas operações, uma máquina de fusões e aquisições (M&As), implacável com a concorrência, agregando dia a dia mais valor à marca. Historicamente, é negociada a 60x lucro e 30x EV/Ebitda.
Nos últimos nove meses, seu preço de tela caiu 50% e ela passou a negociar a 13x lucro e 7x EV/Ebitda. Estaríamos diante de uma pechincha? Não é tão simples.
O primeiro passo é entender a natureza da empresa inserida no cenário macroeconômico:
- As empresas cíclicas (exemplo: varejo doméstico) costumam apanhar mais quando há uma deterioração na perspectiva macroeconômica. O aumento no juro longo causa variação na taxa de desconto (wacc) alterando seu valuation e puxando seu preço justo para baixo.
- As empresas de ciclo longo (exemplo: construtoras), grosso modo, são impactadas muito mais pelo ciclo de vida do seu próprio produto/setor do que pela economia.
- As empresas não-cíclicas (exemplo: algumas commodities) sofrem mais com as leis globais de mercado (oferta e demanda), tendo menor dependência do cenário doméstico. Quem define o preço do petróleo Brent é o aumento ou a redução da produção de petróleo, principalmente pela Arábia Saudita e Rússia - um equilíbrio artificial e perigoso, como já pudemos observar num passado não muito distante.
- Já as empresas perenes ou acíclicas (exemplo: transmissão de energia) normalmente prestam serviços essenciais e possuem contratos longos, receitas previsíveis e alta taxa de payout, deixando até 95% dos lucros aos seus acionistas na forma de proventos. Tal previsibilidade tem seu preço: dificilmente elas crescem.
Entendendo sua natureza, a fase do ciclo no qual ela se encontra e ainda assim chegando à conclusão de que houve uma queda sem sentido frente a resultados crescentes (ou estáveis), passamos a observar aspectos mais qualitativos:
- Houve uma mudança no racional que possa ter causado tamanha queda?
- Os moats (barreiras de entrada) estão se enfraquecendo e novos players estão se consolidando?
- A controladoria mudou ou sua estratégia foi modificada?
- A percepção de seus produtos/serviços está mudando?
- Uma nova tecnologia pode tornar seus produtos/serviços obsoletos?
Boa parte dessas informações está nos fatos relevantes e resultados trimestrais divulgados. Mas as entrelinhas, as “letras miúdas”, estão no conhecimento do seu mercado de atuação. Para o sucesso de um investimento, é fundamental entendê-lo.
Se a resposta para todas as perguntas acima for NÃO, a chance de se fazer um ótimo negócio está mais perto de se manifestar.
Por que o preço da ação caiu tanto? Foi a crise ou a pandemia?
Os modelos econométricos ajudam nas tomadas de decisão, mas são imperfeitos por trazerem uma perspectiva futura com base no passado. Um bom exemplo é a dificuldade em se precificar o crescimento das empresas de tecnologia através do valuation tradicional. Seus múltiplos costumam ser muito mais esticados, fazendo com que os preços apresentem altíssima volatilidade, principalmente em momentos de instabilidade econômica.
O fator “estômago” também impacta os preços no curto prazo. Investidores são seres imperfeitos, posto que são... humanos! Queda atrai queda. Em cenários mais desafiadores, a migração para ativos menos arriscados - muitas vezes realizando prejuízo - faz parte da da natureza humana. “A razão é uma grande emoção criada pela necessidade de controle”.
Qual é a Hora Certa de Comprar uma Ação?
Sinto decepcioná-los, mas não existe resposta para essa pergunta. Depois de muita análise, o que podemos concluir é qual a hora menos arriscada para se investir tendo como base uma maior margem de segurança.
Se os múltiplos estão atrativos, os lucros continuam constantes, a empresa cresce orgânica e inorganicamente, sua marca se torna cada vez mais sólida e a queda é generalizada, é muito provável que seja um bom momento de se colocar o ativo no seu cofre.
Lembre-se: 10 entre 10 investidores de longo prazo esperam ansiosamente pelas crises (ou correções).
Isso é observável nos discursos de Luis Alves, Barsi, Buffett, Fisher, Dalio, Lynch... Todos afirmam que nas crises nascem as melhores chances de se fazer fortuna. E pelo mesmo motivo para todos: pagar barato por algo muito bom aumenta substancialmente sua margem de segurança. E no longo prazo não é o mais rápido que bate o mercado, mas aquele que consegue errar menos enquanto desenvolve a virtude da paciência.