Frequentemente abordo o assunto vantagem competitiva. Dentre as principais delas, temos os efeitos de rede. Apesar de ser um item muito importante, ele é muitas vezes mal-entendido. Por isso, quero aprofundar o assunto nesse artigo, com um exemplo real.
A interpretação equivocada dos efeitos de rede faz com que muitos empreendedores pensem que, somente com o crescimento do seu modelo de negócio conseguirão atingi-los, o que não é verdade. O mesmo vale para a economia de escala.
Pense na Uber (NYSE:UBER) (SA:U1BE34), por exemplo. A empresa adotou uma estratégia agressiva de crescimento mundial, adentrando mercados complicados, como Singapura, em 2013, e China, em 2014. Dois anos e US$ 2 bilhões depois, em 2016, sem projeções de lucro pela frente, a startup americana decidiu vender suas operações locais para o player nacional, Didi, por US$ 7 bilhões. O mesmo aconteceu no Sudeste Asiático, onde a Uber vendeu suas operações para a Grab.
Porque algumas empresas, como o Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34), Google (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL34) ou o Airbnb (NASDAQ:ABNB) conseguem atingir efeitos de rede globais, mas outras, como a Uber, não? A resposta para isso se encontra na natureza dos efeitos de rede.
Para você que não lembra o que este conceito significa, efeitos de rede refletem o fenômeno do valor de um serviço ou produto aumentar à medida que mais pessoas o utilizam. Algumas companhias possuem efeitos de rede globais, outras regionais e algumas até locais.
Pense no Google, por exemplo, a nossa referência em mecanismo de buca. Procurar na internet possui efeitos de rede global, pois o valor da informação não é regional ou local. Os usuários do Brasil recebem um maior valor da plataforma quando conhecimento da Europa, Ásia ou América do Norte é catalogado, por exemplo.
Sendo assim, pelo fato do valor da informação ser global, os vencedores tendem a se beneficiar de monopólios globais. O Facebook é um exemplo similar. As relações não são somentes locais, mas também internacionais (especialmente entre os estudantes, que foi o nicho encontrado pela companhia inicialmente).
Dessa forma, o valor da plataforma aumenta quando conseguimos continuar conectados com um amigo que foi trabalhar no exterior, ou com os amigos que fizemos durante uma viagem ou intercâmbio.
Do outro lado, existem modelos de negócios que possuem efeitos de rede locais ou regionais, como o próprio Uber, que oferece um serviço (o transporte) de valor local. Ou seja, queremos ir de um bairro para outro.
É importante ressaltar que não é porque um efeito de rede não é global que ele não se configura como uma vantagem competitiva. No negócio da Uber, os aplicativos com mais usuários atrairão mais motoristas, e vice-versa, se tornando a melhor, mais rápida e, muitas vezes, mais barata solução.
É justamente pelo fato dos efeitos de rede serem locais que, provavelmente, não veremos um único vencedor para a indústria de compartilhamento de viagens, assim como vemos nos casos de Facebook e Google.
A Uber, por mais que seja a mais conhecida, enfrenta a intensa competição de outras ótimas empresas, como a Gojek, na Indonésia, o 99, na América Latina, o Carrem, no Oriente Médio, a Didi, na China, a Lyft (NASDAQ:LYFT), nos EUA, entre outros.
Sendo assim, a Uber é uma empresa com excelentes vantagens competitivas, mas que não pode ser comparada com outras gigantes americanas por conta da natureza de seus efeitos de rede. Uma possível solução para a empresa é aproveitar a recorrência de seus usuários e passar a ofertar outros serviços e produtos, estratégia que passou a ser adotada depois do sucesso de players orientais com esse modelo.