Na última semana, as decisões de juros, especialmente no Brasil e nos Estados Unidos, ganharam o foco das discussões uma vez que a inflação pelo mundo segue como um fator importante de preocupação dos agentes econômicos.
Lá fora, a decisão do Federal Reserve em elevar as taxas dos Fed Funds veio em linha com o esperado pelo mercado, com 0,75% de ajuste. Apesar disso, a mensagem passada durante a press conference foi de um tom mais hawkish, ou seja, mais duro.
Sobre esta questão, é importante ressaltar dois pontos. Um deles foi a revisão para cima das projeções inflacionárias, que espera um IPC de 3,1% para 2022 ante 2,7% anteriormente.
O segundo ponto diz respeito à curva de desemprego norte-americana. Esta foi revista e há uma expectativa de que o indicador deva chegar a 4,4% em 2023 e não aos 3,9% de antes.
Com essa nova projeção, fica implícito que o FED espera um risco maior de recessão uma vez que para que este patamar de postos de trabalho seja atingido será necessária uma desaceleração mais forte na atividade.
Diante disso, a autoridade monetária dos EUA trouxe a percepção de que os juros devem ser ainda mais elevados do que se pensava antes para conter o movimento de alta, chegando a 4,5% em 2022 e 4,75% em 2023.
O mercado, por sua vez, estava com as Treasuries de 10 anos na casa de 3,40% e agora está com algo em torno de 3,60%, 3,70%. Os títulos mais curtos, de dois anos, saíram de 4% para 4,20%.
Esse pano de fundo revela duas coisas importantes. Uma delas é que a economia dos EUA tem se mostrado resiliente frente ao processo de desinflação e, por isso, obriga o Federal Reserve a rever as suas projeções.
A segunda é que mesmo com a mensagem mais hawkish e aumento das taxas dos Fed Funds na média, os indicadores inflacionários ainda permanecem em nível elevado.
Ou seja, os juros reais estão mais altos, o crescimento menor e uma inflação que cai de forma gradual.
A principal consequência disso é uma revisão nos preços de ativos mundo afora. Em resumo, o dólar fica mais forte, as bolsas caem, as curvas sobem e o mercado, necessariamente, se reorganiza em um novo nível de preços.
No Brasil, o Banco Central decidiu encerrar o ciclo de aperto monetário conforme as expectativas dos agentes econômicos e deixou uma mensagem dura na tentativa de deixar claro que os cortes, quando vierem, não deverão ocorrer no curto prazo.
Por isso, a expectativa é de manutenção da Selic em 13,75%, porém, com a possibilidade de retomada de uma postura mais contracionista caso seja necessário.
Não acreditamos que isso deve ocorrer e que há uma certa retórica da nossa autoridade monetária a fim de manter as expectativas de inflação baixas uma vez que para a taxa voltar a subir, seriam necessários novos grandes choques na atividade.
A partir disso, entendemos que provavelmente permaneceremos no atual patamar de juros até meados do segundo trimestre de 2023, quando o ciclo deve começar a mudar para a Selic encerrar o ano na casa dos 9%.
Com este movimento descrito acima, já temos visto um recuo importante na inflação quando considerado o IPCA acumulado em 12 meses, que deve chegar a 5,5% em 2022 e, em meados de junho de 2023, 3% ou 3,5%.
Isto por si só já ajuda na ancoragem das expectativas inflacionárias e abre espaço para cortes nos juros. Contudo, vale ressaltar, é importante que o próximo presidente, seja lá quem for, precisará fazer um ajuste da ordem de 1,5 a 2% do PIB para que o país não entre em uma crise financeira séria. Bons negócios!