“Do nada” o preço da moeda americana derreteu nos últimos dias até culminar com uma PTAX na virada do mês bem comportada, mas na realidade afora ilações sobre possíveis ações do BC, nada de concreto e/ou melhora de perspectivas influenciou de forma transparente o movimento.
Maio, que se encerrou, apresentou variações expressivas de depreciação e apreciação contínuas do real frente ao dólar, ao longo da prevalecência de ambiente conflituoso político e jurídico e tensional em torno da dicotomia saúde e economia, mas em termos fundamentalistas não houve razão efetiva que ancorasse a depreciação que retroagiu a taxa cambial às proximidades do preço de R$ 5,322 após ter flertado no mês com o preço de R$ 6,00.
Poderia se insinuar que o BC emitiu “alerta” de intervenção, nada que se pudesse considerar novo e que não pudesse fazer antes, e aumentou um pouco a intervenção com ofertas de liquidez no mercado, mas é relevante se perceber que houve retração da demanda de saídas de capitais do país, mantendo-se contudo a ausência praticamente absoluta de fluxos de capitais estrangeiros. Os registros de IED´s do país dão notoriedade ao fato.
E ainda, foi impressionante o comportamento do real frente ao dólar de forma assimétrica em relação às demais moedas emergentes latinas, com variações absolutamente adversas em inúmeros dias do mês.
Não houve melhora do fluxo nem presente e nem em perspectiva, muito pelo contrário, as projeções perduram de baixa atratividade do país ao capital estrangeiro, consequente da letárgica situação econômica e da queda abrupta do juro que era o atrativo maior aos capitais estrangeiros especulativos.
E mais, a ampla possibilidade de novo corte da SELIC, já não tão unânime quanto antes, colocará maior pressão de depreciação do real frente a moeda americana.
Restou então a ilação que expressamos, algum tipo de interferência da autoridade monetária de forma sutil e cirúrgica agindo pró apreciação do real, adequando a PTAX a parâmetros que evitassem a apuração de lucro exorbitante no momento em que se cogita transferência do mesmo do BC para o Tesouro Nacional, cujo entendimento envolve tecnicidades de ajustes no balanço do BC ao final do mês.
Mas, seja lá qual tenha sido a razão, evidentemente não há sustentabilidade no movimento que ocorreu, ainda mais quando o ambiente conflituoso político-jurídico ganha efervescência maior e a pandemia e suas consequências indicam que reabrir não se limita a autorizar, havendo inúmeros problemas que perdurarão e que podem fomentar até o agravamento da crise de forma mais contundente.
O PIB do 1º trimestre retrocedente 1,5% ainda está distante de revelar o grau de impacto efetivo na atividade econômica, que naturalmente deverão ser traumáticos no 2º trimestre deste ano. Estudos divulgados demonstram que o país, ante da pandemia, vinha a ritmo de crescimento de 1,7%, um tanto quanto abaixo da perspectiva de 2,5% para o ano.
O quadro brasileiro continua bastante preocupante, muitas divergências em tempos sugestivos de ampla necessidade de convergências e crescimento da conscientização de que o recomeçar será extremamente desafiante, pois o contexto será bem diferente ao antecedente do início da crise da pandemia.
Há muita ansiedade e isto, por vezes, nos afasta da realidade.
Certamente teremos um Brasil diferente, mais endividado e com a população enfrentando desemprego maior e queda abrupta de renda, o legado da crise deixará uma forte propensão ao “home office”, o que será uma “revolução” e uma enorme opção por novos hábitos de consumo.
Por outro lado, o país precisa dinamizar o avanço das reformas imprescindíveis que não foram implementadas, mas ao que tudo indica o ambiente político estará mais acirrado do que antes e os projetos que poderiam redinamizar a atratividade do país ao capital estrangeiro certamente enfrentarão embates ideológicos proteladores inevitáveis.
A tendência que nos parece sustentável é que o preço da moeda americana revele viés de alta, o Brasil perdeu a atratividade que o fez ser o polo de atratividade maior aos capitais estrangeiros, em especial especulativos.
Há no país inegáveis oportunidades carentes de investidores estrangeiros, mas há o inexorável fator “tempo” pelas razões já apontadas, o que as retira das perspectivas de curto/médio prazos.