Diversas vezes neste espaço ponderamos que o histórico não é garantia de resultados ou movimentações futuras nos mercados.
Com essa ponderação novamente à mesa, vamos fazer algumas contas aqui, considerando o que já foi observado de movimentações para o boi gordo, entre os vales e picos de preços.
Para isso, usamos como critério os menores e maiores valores dos preços do boi gordo desde novembro de 1999, um momento de pico. Utilizamos o indicador Cepea, com valores deflacionados pelo IGP-DI.
A título de informação, deflacionar é atualizar todos os valores históricos (nominais, aqueles impressos no recibo amarelado da venda da boiada) para o que vale o real hoje.
Via de regra, trabalhamos em um cenário inflacionário, com isso, a moeda perde valor ao longo do tempo e uma arroba negociada por R$48,83 em junho de 2006 equivaleria hoje a uma arroba de R$162,05. Para definir vales e picos de preços, usamos esses valores reais (deflacionados).
Entre novembro de 1999 e junho de 2006 o preço do boi gordo cedeu 39%, em valores reais e a recuperação até o pico de novembro de 2010 foi de 76%.
De novembro de 2010 a agosto de 2012 o recuo foi de 29%, seguido de uma valorização de 44% até abril de 2015. Entre esse mês e julho de 2017 houve queda de 25%, com salto de 59% até novembro de 2020, último pico de preços, equivalente a R$345,88/@ em valores atuais.
Figura 1. Intervalo observado entre os picos e vales de preços reais do boi gordo, em meses.
Fonte: Cepea / FGV / HN AGRO
Figura 2. Variações reais de preços do boi gordo entre picos e vales.
Fonte: Cepea / FGV / HN AGRO
O cenário da pecuária nos últimos anos tem sido difícil, pois, além da queda de preços, tivemos saltos em diversos componentes de custos, com um cenário de custo do capital elevado. A própria queda dos preços, foi a maior desde a observada em 2006, segundo a linha de cálculo da figura 2.
Apesar do cenário difícil, quando focamos nas variações de preços, não estamos falando de algo fora da curva. Talvez o ponto principal do cenário recente tenha sido justamente que essa queda veio depois de um momento muito positivo de preços, como foi a última fase de alta.
Assumindo que setembro de 2023 tenha sido o vale de preços deste ciclo e usando as variações históricas, chegamos a alguns valores para analisar.
Momento do pico de preços
Se de setembro/23 até o pico de preços tivermos o intervalo médio dos vales aos picos da figura 1 (42 meses), estaríamos falando de uma máxima real para este ciclo adiante em fevereiro de 2027.
Usando o menor e o maior intervalos para uma ideia de amplitude, teríamos o pico de maio/26 (32 meses pós vale) a fevereiro de 2028 (54 meses pós vale).
Valores do próximo pico de preços
Usando o mesmo raciocínio para os preços, e sempre ressaltando que aqui não há a pretensão de cravar um valor e sim apresentar um raciocínio para dar algum rumo ao planejamento.
O preço médio de setembro de 2023, em valores atualizados, seria algo em torno de R$217,35/@, atualmente.
Se sobre este valor projetarmos as variações mínima, média e máxima observadas na figura 2, teríamos picos em torno dos seguintes preços: R$312,44/@ (menor variação, 43,8%), R$346,27 (variação média, de 59,3%) e R$381,47/@ (maior variação, de 75,5%).
Destacando que como as variações foram feitas com valores reais, “lá na frente”, os preços nominais seriam maiores que esses valores na “moeda de hoje”.
Em outras palavras, se o preço oriundo da variação “média” (R$346,27/@ for uma projeção “certa”), lá na frente o valor de balcão seria algo em torno de R$380,37/@. Para essa atualização, usamos 32 meses (daqui até setembro de 2023) de uma inflação de 3,6% ao ano (usando as projeções do IGP-M como referência, Focus de 15/7).
Seguindo essa linha, “atualizando” para set/23, teríamos picos nominais projetados em R$343,21/@ (menor alta), R$380,37/@ (média) e R$419,04/@ (maior alta).
Acho que pela terceira vez nessa análise farei a ressalva de que essas projeções não têm a pretensão de cravar valores, mas de dar um ponto de vista sobre as expectativas e pontuar que, embora não seja o nosso cenário mais provável, uma arroba de R$400,00 não seria um ponto tão excepcional na próxima alta.