Desde o colapso da FTX e da Alameda Research, vimos crescer um forte movimento demandando transparência dos balanços das empresas do setor de criptomoedas. O Proof-of-Reserve, como ficou conhecido, basicamente tem como foco verificar que esses players, de fato, possuem uma custódia de 1:1 com os ativos em nome de seus usuários.
Para isso, normalmente contratam uma empresa terceirizada que irá realizar uma auditoria a partir da análise do estado das finanças da exchange, realizando ressalvas e publicando os resultados em forma de “snapshots” no intuito de ajudar os investidores a entender se aquela CEX tem fundos suficientes para cobrir os depósitos dos clientes.
No entanto, ainda que o movimento seja essencial para maior maturação do mercado, alguns pontos de atenção precisam ser levantados. Esses snapshots momentâneos podem simplesmente fornecer uma falsa percepção de liquidez tendo em vista que consistem em um “retrato” daquele momento, e não no filme corrido por inteiro.
Um exemplo foi o suposto “envio acidental” de 320.000 ETH em fundos de usuários da Crypto.com para a corretora Gate.io em 21 de outubro. Uma semana depois, no dia 28, a Gate.io apresentou o snapshot da sua “Proof-of-Reserve” e enviou de volta 285.000 ETH para a Crypto.com. Sem dúvidas, a comunidade passou a questionar se o envio não teria sido proposital apenas para que a Gate conseguisse “provar suas reservas”.
Além disso, ressaltamos também que poucas vezes vemos os passivos das empresas sendo divulgados para os usuários, restando somente a “crença” na palavra destes players. O fato é que a auditoria de empresas do setor vem gerando dores de cabeça e polêmicas, com muitos grandes nomes deixando de atuar no mercado de criptomoedas ou se desvinculando de antigos clientes. O exemplo mais recente, de menos de 2 semanas atrás, foi o caso da Mazars, que interrompeu os serviços para clientes crypto.
O importante é que sigamos amadurecendo e vendo mecanismos cada vez mais rebuscados, assertivos e “trustless” ganhando tração. Basicamente, temos algumas ferramentas sendo utilizadas, como por exemplo:
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Proof-of-Reserve baseado em Merkle Tree
Uma das maneiras mais conhecidas de realizar uma “comprovação” das reservas é por meio de algum protocolo de Proof-of-Reserve que utilize uma “Merkle Tree Proof”, estrutura capaz de integrar grandes quantidades de dados em um único hash para, assim, verificar a integridade desses dados.
Em outras palavras, a ideia é utilizar provas criptográficas para verificar a validade das transações e dos saldos dos usuários. Isso possibilita que as exchanges não precisem publicar “snapshots” das reservas somente a cada determinado período de tempo, sendo possível fornecer essas comprovações em tempo real caso queiram.
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Protocolo Proof-of-Reserve da Chainlink
Neste contexto, a Chainlink Labs também oferece sua própria versão de sistema Proof-of-Reserve projetada para ajudar projetos na Web2 e Web3 a provar suas reservas de ativos por meio de verificação automatizada. Lançada em 2020, o primeiro usuário do protocolo foi a stablecoin TrueUSD.
Basicamente, o sistema conecta nodes da Chainlink a alguns componentes de uma exchange, como sua API, seus endereços de reserva, assim como a um contrato inteligente de prova de reservas que pode ser consultado por qualquer outra pessoa na rede para avaliar se essas reservas batem com seus passivos. Por meio de seu uso, conseguimos avaliar dados sobre o quanto foi depositado, emprestado e apostado (“staked”).
Quais corretoras possuem provas de reserva?
Antes de mais nada, temos que dar os créditos àquelas que deram os primeiros passos nesse sentido, mesmo antes do colapso da FTX, diga-se de passagem. Foram elas: Kraken, Bitmex, Nexo e Gate.io. Naturalmente, com o contágio das empresas de Sam Bankman-Fried se espalhando no mercado, quem ainda não caminhava nesse sentido se viu “obrigado” a apertar o cerco.
A Binance divulgou seu sistema baseado em Merkle Tree para Bitcoin e Ethereum no final do mês passado. ByBit, OKX e Crypto.com seguiram na mesma direção utilizando approaches parecidos. A Coinbase (NASDAQ:COIN), por sua vez, disse inicialmente que por ser uma empresa de capital aberto, já comprova suas reservas por meio de arquivamentos auditados pela SEC. Argumento que, vamos combinar, pode até fazer sentido, mas não convence plenamente.
Sentindo a pressão da comunidade, a Coinbase afirmou em nota que “a contabilidade on-chain é o futuro” e que está explorando “novas maneiras de provar reservas usando mais métodos criptográficos nativos”. A corretora lançou até um programa de US$ 500.000 para desenvolvedores cujo foco é suportar devs. que estão avançando em:
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Contabilidade on-chain
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Técnicas de preservação de privacidade neste contexto de prova de ativos ou passivos, incluindo aplicação de técnicas “Zero-Knowledge”.
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Tecnologias intimamente relacionadas
Como e onde posso verificar esses dados?
A) Coinmarketcap
Se você deseja se manter à par dos balanços das corretoras, saiba que o CoinMarketCap possui um comprovante das reservas das exchanges diretamente em sua plataforma. A ferramenta é atualizada a cada 5 minutos e conta com o (a) total de ativos das corretoras, (b) as propriedades de endereços de carteiras disponibilizadas de forma pública e (c) o saldo, preço e valor das mesmas.
Um “score” é atribuído a cada uma das corretoras, levando em consideração a (a) média de liquidez, (b) o volume, a (c) confiança de que o volume reportado pela corretora é legítimo e o (d) tráfego de Web. Ou seja, querendo ou não, ainda precisamos confiar nos relatórios divulgados.
B) Nansen
Outra possibilidade é checar os dados fornecidos pela Nansen, que também possui uma seção específica para os holdings das corretoras, além de também cobrir algumas plataformas DeFi, DAOs e Fundos, como podemos ver abaixo.