Com a semana encurtada pelos feriados nos Estados Unidos (segunda-feira) e no Brasil (sexta-feira) a liquidez ocorreu apenas nas sessões da terça/quarta e quinta-feira. O volume diário negociado ficou ao redor dos +45.000 lotes. Apesar do mercado iniciar a semana “derretendo” -495 pontos com os fundos continuando liquidando suas posições (o Set-21 negociou na mínima da semana @ 147,65 centavos de dólar por libra-peso – valor mais baixo dos últimos 10 pregões) o contrato terminou a semana com “apenas” -250 pontos de baixa @ 150,55 centavos de dólar por libra-peso. O Real voltou a desvalorizar -6.20% fechando @ 5,25 R$/US$ (máxima/mínima @ 5,31 – 5,05 R$/US$ respectivamente).
A terça-feira começou com queda generalizada nas commodities com aversão ao risco global e com a preocupação do banco central americano (FED) antecipar o início da redução dos estímulos já a partir de 2022 (e o eventual efeito “cascata” com o risco do aumento dos juros americanos). Junto com o risco internacional o Real voltou a desvalorizar em função da crise política interna e com a aversão do mercado brasileiro com a nova reforma tributária apresentada pelo Ministério da Economia. Com a crise política em andamento e o mercado ficando “contra o Guedes” o Real não aguentou. A queda do café foi atribuída a desvalorização do Real (ao nosso ver isso não faz sentido pois o real chegou a desvalorizar quase -6% e o café apenas -1,60%). Além disso, existe o risco do aumento da inflação e o impacto direto nos custos de produção para a próxima safra 22/23 em diante. Dentre outros, o aumento da energia elétrica e novo aumento dos combustíveis e gás anunciados pela Petrobrás.
Com base no último relatório do CFTC* os “fundos+especuladores” liquidaram -9.137 lotes. Essa liquidação começou na quarta-feira anterior, logo após os danos da geada não terem sido representativos nas lavouras de café. O Set-21 chegou a negociar @ 162,00 centavos de dólar por libra-peso na quarta-feira da semana passada. Entre a quinta e sexta-feira da semana anterior e a terça-feira dessa semana o Set-21 chegou a cair -1.700 pontos! Agora os “fundos+especuladores” seguem comprados em “apenas” +28.199 lotes! Para uma posição que já chegou a ultrapassar os +40.000 lotes qualquer estopim poderá trazer novo apetite para novas compras!
Os produtores seguem preocupados aguardando melhores preços para vender “da mão para a boca” apenas o essencial para pagar as contas do mês. A quebra da safra 21/22 no café arábica começa a se confirmar. Muitas cooperativas seguem recebendo quantidades de produto abaixo do previsto. As antigas filas de caminhões para descarregar não existem. Armazéns seguem vazios. De acordo com nossos contatos a safra de arábica deverá ficar entre 25-28 milhões de sacas e a safra de robusta entre 17-20 milhões de sacas, totalizando uma safra total entre 42-48 milhões de sacas! “Onde está ao café?/Where is the coffee” segundo Judith Ganes? Onde está o estoque de passagem da safra 20/21 para 21/22? Ainda uma incógnita!
Os custos internos não param de subir. A desvalorização do Real e o petróleo negociando acima dos 70 US$/barril deverão seguir sustentando os preços dos insumos atreladas a essa commodity. A inflação no Brasil segue descontrolada. A crise hídrica deverá seguir aumentando os custos para as lavouras irrigadas e a conta da energia elétrica deverá pesar para toda a cadeia. A Selic deverá terminar 2021 novamente acima dos 7% ao ano encarecendo o custo do dinheiro.
Para os próximos 15 dias a previsão do tempo segue sem chuvas nas principais zonas produtoras. A crise hídrica é uma realidade e os danos para as plantas já estão sendo discutidos entre todos os participantes do mercado do café. O Brasil, novamente, passa a ser o principal ponto de atenção. Qual será o tamanho da safra 21/22? E a próxima safra 22/23? Com a desculpa da “bienalidade positiva” a safra 22/23 deveria ser recorde novamente em função da recuperação das lavouras, dos novos tratos, da entrada das novas áreas plantadas que deveriam/deverão entrar em produção (acima dos 70 milhões de sacas). Será?
Existe novamente o risco de uma nova massa polar atingir o sul do Brasil e talvez as zonas produtoras de café entre dias 20-25 de julho. O mercado já está de olho nesses modelos climáticos e cada dia será um novo dia de atenção, preocupação, stress e volatilidade nos mercados.
Compradores seguem no mercado interno oferecendo preços “pouco atrativos” para os produtores. Na semana os preços caíram ao redor de 100 R$/saca para todos os tipos e qualidade, com indicações de compra para o café arábico variando entre 700-850 R$/saca e para o robusta entre 450-510 R$/saca.
Produtores de arábica seguem aguardando preços acima dos 1.000 R$/saca (principalmente agora com as noticias da falta de café no circuito), e produtores de robusta estão aguardando preços acima dos 550/600 R$/saca.
Aparentemente o Vietnam não está conseguindo exportar sua safra no ritmo esperado para suprir a demanda nos principais mercados europeus/asiáticos (em função do aumento do frete marítimo e da falta de containers). Esse hiato de abastecimento está fazendo os compradores europeus voltarem seus olhos para o Brasil para suprir suas necessidades de curto/médio prazo. Essa procura pelo robusta brasileiro vêm dando suporte aos preços para esta qualidade/variedade também.
Novamente as empresas de navegação não querem saber e seguem “abrindo” contratos antigos firmados com os exportadores/compradores do destino final. Até quando essa “palhaçada” vai continuar? Contratos fechados @ 1.500/2.000 US$/container agora estão sendo oferecidos @ 3.500/4.000 US$/container para o mesmo destino. A pirataria deveria ter acabado há anos! Mas infelizmente não é bem assim. As empresas de navegação sempre tiveram e ainda estão com as “facas e os queijos” nas suas mãos “renegociando” e aumentando seus valores de frete a bel prazer com novas cláusulas leoninas alegando “risco de guerra, alta no combustível, embargos, problemas no Canal de Suez, falta de containers, container pesado demais podendo desestabilizar o navio, preferência para cargas mais “leves” e com maior valor agredado, etc., etc…”. Agora os compradores estão querendo transformar as compras de “FOB para CIF” jogando o risco e o problema logístico para os exportadores e produtores ao redor do mundo! Até quando esse “monopólio” entre 3-4 empresas marítimas vai continuar?
O Set-21 respeitou o importante suporte dos 72 dias @ 147,10 centavos de dólar por libra-peso. Próximas resistências @ 154,20 / 155,40 e 165,40 centavos de dólar por libra-peso.
Acreditamos que o mercado deverá acordar em breve.
Compradores/atacadistas/cooperativas e tradings já estão questionando “onde está o café” e “Por que os produtores não estão entregando no mesmo ritmo do ano passado?”.
Acreditamos que os produtores continuarão vendendo apenas o essencial para pagar as contas e segurar o que sobrou da safra 21/22 apenas a partir de out-nov 21 aguardando melhores preços e fixando contra a tela de Dez-21. Quem puder aguardar e segurar o produto para vender no primeiro semestre de 2022 deverá conseguir preços acima dos 1.000 R$/saca! Mesmo assim, protejam-se comprando um seguro, uma opção de venda “Put”, uma estrutura “Put-Spread” strike +160/-140 ao custo aproximado de 75 R$/saca e um preço mínimo de venda ao redor dos 900 R$/saca (desde que o Dez-21 feche acima dos 140 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções em nov-21). Dessa forma, se mercado explodir para 180-200 centavos de dólar por libra-peso o produtor poderá capturar toda essa alta.
Com a crise hídrica e o aumento dos custos dos principais insumos e defensivos agrícolas os produtores deverão comprar/investir o mínimo necessário nas suas lavouras com reflexo direto na safra 22/23.
Ainda teremos 45 dias de inverno pela frente com poucas chuvas e com riscos da entrada de novas massas polares.
Para safra 22/23 e 23/24 seguimos sugerindo a venda através da “venda com garantia de preço de venda com preço mínimo” através da compra de uma opção de venda “Put”, ou através da compra de uma “Put-Spread” deixando o upside em aberto. Como vimos, ao menor risco de uma nova geada aliada a percepção dos fundos da real quebra da safra 21/22 brasileira o Set-21 poderá novamente subir 1.000/2.000/5.000 pontos em 1-2 dias refletindo imediatamente nos vencimentos futuros também! Fiquem atentos e façam suas contas!
Seguimos recomendando a compra de proteção para o curto prazo, contra o Set-21 (as opções vencem no próximo dia 13 de Agosto). Com a aproximação do vencimento das opções o valor das opções fora do dinheiro tendem “a zero” mais rápido e o seguro custa mais barato. Desta forma, a compra de uma opção de compra “Call” com vencimento/strike 160 centavos de dólar por libra-peso fechou a sexta-feira cotada @ 3,31 centavos de dólar por libra-peso (aproximadamente 22 R$/saca). Pode ser uma nova oportunidade para a compra de um seguro “barato” contra eventual risco contra a próxima massa polar até o próximo dia 13 de agosto.
“Sugestões da semana”:
No Set-21: Seguimos recomendando a compra de proteção para o curto prazo contra o Set-21, como dito acima, a opcao de compra “Call” com vencimento/strike +160 (as opções vencem próximo dia 13 de Agosto).
No Dez-21: Sugerimos a compra da “Put-Spread” strike +160/-140 vendendo a opção de compra “Call” strike -200 a “custo-zero”. Esta estrutura fechou na sexta-feira custando aproximadamente 7,70 centavos de dólar por libra-peso (aproximadamente 55 R$/saca). Nossa sugestão: monitorar essa estrutura e aguardar o mercado subir nos próximos dias e procurar realizar essa estrutura a “custo-zero”. Para isso o Dez-21 precisará atingir os 175/180 centavos de dólar por libra-peso. Se realizada, poderá garantir ao produtor uma venda com valor mínimo /máximo entre 900 a 1.180 R$/saca (desde que o Dez-21 termine negociando acima de 140 e acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções em Nov-21).
Para a safra 22/23: na sexta-feira era possível realizar a venda do produto através da compra de um “PUT-Spread” strike +160 /- 135 vendendo uma opção de venda “Call” strike -190 a “custo zero”. Considerando o Real futuro @ 5,60 R$/US$ essa operação garante uma remuneração para o produtor entre 960-1.185 R$/saca (desde que o Set-22 feche acima dos 135 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 190 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções em Agosto-22).
Ótima semana a todos!