Nas últimas semanas, houve inovações que passaram despercebidas por quem não acompanha privacy coins. Particularmente sou algo cético com a importância de privacidade para o consumidor mediano de aplicações descentralizadas, porém as novas tecnologias prometem não somente maior privacidade, mas também escalabilidade. As tecnologias que recapularei e contextualizarei são referentes às conhecidas Monero e ZCash, mas também ao novo projeto de David Chaum, cypherpunk que prenunciou o Bitcoin, a Elixxir. Essas inovações serão contextualizadas e mostram diferentes direções e possibilidades de retorno dentro desse segmento.
Dia 18 de outubro, o Monero implementou a tecnologia Bulletproof. Criado inicialmente para uso em bitcoins, a privacy coin Monero tomou a dianteira na implementação. A grande vantagem da tecnologia é anonimizar a quantidade transferida com baixíssimo custo computacional. Entretanto, isso por si só não seria grande atrativo. A beleza vem do fato de isso ser plenamente independente de confiar em terceiros. Dessa maneira, no contexto da já privativa Monero, a vantagem seria trocar o processo atual - maior oneroso - pelo procedimento Bulletproof. Além dessa mudança, houve updates referentes a ataques e possibilidades para a moeda.
A concorrente ZCash não passou por nenhum update recente, porém sua equipe - e criptógrafos acadêmicos associados - lançou um artigo acadêmico que promete computação descentralizada e privada. O sistema Zero-Knowledge Execution (ZEXE) permitiria escalabilidade de processamento, provas extremamente leves e anonimidade; há a possibilidade de tokens e smart contracts usando a plataforma. Contudo, essas funcionalidades não entram no próximo fork do ZCash. O próximo fork tem como objetivo maior escalabilidade (as transações ficarão mais rápidas e leves) e anonimidade, que é ironicamente um dos problemas atuais da moeda . Esse fork também possibilitará a criação de carteiras mais seguras da perspectiva de privacidade; entretanto, essas carteiras ainda estão sob desenvolvimento.
A Elixxir é um caso interessante por se tratar de um projeto do pioneiro David Chaum. Ainda em 1982 ele já pensava em moedas digitais. Infelizmente, suas ideias chegaram antes do tempo. Agora, ele propõe um sistema algo similar a um delegated proof-of-stake, porém com diferenças fundamentais. Basicamente, o sistema é uma inovação no nível da rede entre os participantes, onde haveria menor necessidade de propagação por todos. Há também a possibilidade de pré-computação dos participantes da rede, aumentando enormemente a eficiência. Ainda não há implementações disponíveis para avaliar em profundidade a rede, porém os reviews de analistas na internet foi, até então, otimista.
Com tudo isso, podemos ver que está havendo certa diversificação das possibilidades para privacy coins. Ao invés de serem somente um meio de pagamento algo pior pela lentidão e algumas dificuldades, elas agora se mostram úteis para computação descentralizada, pagamentos com maior velocidade, manutenção de fundos sem grandes declarações para não interessados. De certa maneira, é cedo para rejeitar as privacy coins. Certas barreiras continuam - regulação e pouco cuidado do usuário final com privacidade - porém aumentar as possibilidades é um sinal de que os desenvolvedores continuam atentos a tendências diversas. Com a força técnica que esses times de desenvolvimento têm, continuar monitorando esses ativos vale a pena.