Todo economista conhece aquele momento especial do mês. Para alguns pode ser no começo, para outros no meio, ou até no fim. Mas não importa quando seja, é um verdadeiro período único, marcado, quase sempre, por essa sequência de sentimentos e eventos (que por vezes até se misturam em um caldo imprevisível):
Tranquilidade de quem planejou tudo o que precisa ser feito à ligeira preocupação de que talvez nem tudo que precisava está de fato feito à aumento da inquietação anterior à corrida contra o tempo à trevas à pico de adrenalina e produtividade à finalização à alívio... à 30 dias: volte ao início.
Mas que raios de momento é esse? Trata-se da publicação de projeções mensais macroeconômicas. Todo mês (ou com outras periodicidades, a depender da instituição), analistas de economia mundo afora se debruçam sobre seus modelos matemáticos, decidindo se suas projeções para o que acontecerá com a economia dali para a frente seguem fazendo sentido. Os juros seguirão nessa trajetória? A inflação precisa ser revisada — para cima, para baixo? E o PIB: o país vai crescer como esperávamos há um mês ou dados e acontecimentos mudaram a nossa visão para a atividade econômica? E, claro, a clássica: e o dólar?
Calma, não é sempre que é preciso revisar tudo o que vai acontecer na economia, deixando todo mundo “pirando junto”. Mas o fato é que, de tempos em tempos, investidores são bombardeados com projeções por todo canto, indicando o que devem esperar para a economia dali em diante.
Mas, você já parou para pensar para que servem (de verdade) essas projeções? Essa pergunta parece ter uma simples resposta: “oras, para saber o que vai acontecer”! Mas, e aí? Fazemos o que com isso? Afinal, se elas são revisadas frequentemente, dinheiro como “Mãe Diná” que não posso fazer disso tudo.
Creio que as projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor pelo motivo principal de ajudar a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”.
Isso não significa que, olhando as projeções, você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair para entrar em um fundo internacional ou comprar todo o dinheiro para aquela viagem ao exterior”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas sim, que você entenderá melhor as tendências da economia, que é o principal pano de fundo do cenário financeiro. Assim, poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil de risco e objetivos.
Por exemplo, em um momento como o atual, em que o cenário político e econômico está mais complexo do que desenhos de baralhos de tarô, sabemos que a volatilidade doméstica não deve perder força tão cedo. Assim, dá para entender que a diversificação será nossa maior aliada — não somente entre classes de ativos (como renda fixa e variável), mas também entre geografias, olhando para investimentos fora do país, como BDRs (certificados de ações de empresas estrangeiras negociadas aqui no Brasil) e fundos internacionais.
Um outro exemplo seria, também olhando para o momento atual, saber como proteger o seu dinheiro contra a alta dos preços. Com a informação de que a inflação alta é um dos maiores riscos do cenário econômico hoje (nossa projeção na Rico é que o IPCA — nosso principal índice de inflação — encerre o ano em 8,4%), procurar investimentos atrelados à inflação ou ativos reais, como commodities, são uma ótima pedida.
Ou ainda, com base no fato de que nossa taxa básica de juros (a Selic) também está em processo de alta — esperamos que chegue a 8,5% no começo do ano que vem — sabemos que títulos de renda fixa estão oferecendo retornos bastante interessantes no momento.
Em suma, nós analistas de economia não passamos mensalmente por aquele momento único descrito acima para indicar que podemos substituir jogadores de búzios e tarô mundo afora (até porque, dificilmente teríamos as mesmas habilidades). E sim, para que os números que encontramos possam ajudar a guiar todos nós em direção àquele excelente mantra, tão importante em momentos de volatilidade como o atual: “não entre em pânico”.