Cansaço. Este é a sensação que parece se espalhar por boa parte da sociedade, depois das votações do STF na semana passada.
Os eventos, na corte mais elevada do País, só serviram para uma coisa: constatar como as instituições operam à luz de interesses. Somos cientes hoje de como o STF é uma “instância política”, deliberando, de acordo com a composição política do seu colegiado. Difícil saber, portanto, o que pode acontecer a partir de um Habeas Corpus concedido ao ex-presidente Lula da Silva no dia 4 de abril.
Uma pesquisa recente do IBOPE, aliás, chega à conclusão que 44% dos eleitores não acreditam nos candidatos deste ano. O principal motivo parece ser a corrupção, “encruada” na maioria da classe política, pelo uso do “caixa dois”, além da falta de confiança nos políticos. Nesta pesquisa, 44% dos entrevistados se mostram pessimistas com o País, contra 20% otimistas, 23% indiferentes e 13% que não responderam. É neste clima de prostração e cansaço, portanto, que acontecem as eleições neste ano. Lula continuará solto, mesmo que inelegível, conduzindo suas “caravanas” pelo País e os outros candidatos tentarão convencer os eleitores das suas boas intenções.
No front econômico, continuamos mantendo um cauteloso otimismo sobre os rumos da economia brasileira, dado o bom arcabouço macro construído pela Fazenda e o BACEN, com a contribuição de outros ministérios e instituições.
Um estudo do IPEA, instituto de pesquisa do governo, aliás, lança interessantes insights sobre o momento econômico do País e algumas projeções.
Acredita que mesmo sem a reforma da Previdência o mercado acha que a agenda de reformas estruturais não será abandonada, apenas adiada para o ano que vem. Além disso, o ambiente externo deve se manter com liquidez abundante neste período de transição, sustentando também que o clima pré-eleitoral não deve trazer grande volatilidade. Sobre isso, há controvérsias. Achamos sim, que a campanha eleitoral deve volatilizar os mercados, a cada pesquisa de votos divulgada, desde que mostre algum enfraquecimento dos candidatos market friendly, ou seja, simpáticos às reformas e aos ajustes necessários para a economia decolar.
Sobre a retomada da economia, o IPEA é mais otimista sobre este ano, achando que o PIB deve crescer 1% neste primeiro trimestre, contra o anterior, indo a 1,9% contra o mesmo trimestre do ano passado. A sustentar este crescimento, pela oferta, o avanço da Indústria (2,6% contra o mesmo trimestre do ano passado) e dos Serviços (2,4%). A Agropecuária, mesmo com uma boa safra neste ano, acabará pior do que à do ano passado. Deve recuar 7,1% contra o mesmo trimestre do ano passado e 2,6% contra o anterior. No ano, deve recuar 2,2%, com a Indústria avançando 3,6% e os Serviços 2,9%.
Pelo lado da demanda, o grande impulso deve vir do Consumo das Famílias, crescendo 3,4% contra o mesmo trimestre do ano passado, com os Investimentos em seguida, crescendo 4,3%. No ano, o primeiro deve crescer 4,5% e o segundo 3,4%. Importante observar que com o juro a 6,5%, o crédito começando a fluir e com a renda e emprego se recuperando é possível que o Consumo das Famílias se torne o principal vetor do crescimento pela demanda neste ano. Os Investimentos devem retornar lentamente, se consolidando a partir da definição do quadro eleitoral.
Nesta toada, o crescimento do PIB deve chegar a 3% neste ano, mesma projeção definida para o ano que vem. Importante considerar que em 2019 o novo governo dará o devido encaminhamento às medidas fiscais e reformas necessárias. Pérsio Arida, assessor do PSDB, aliás, já colocou isso como prioridade na agenda, caso Geraldo Alckmin seja eleito. Para o ano citado, o IPEA está prevendo um crescimento mais “difuso entre os componentes da demanda e da oferta”.
Acha que mesmo considerando o crescimento, ao fim de 2018 e 2019 ainda haveria capacidade ociosa suficiente para evitar pressões inflacionárias. Ou seja, o crescimento atingido estaria abaixo do potencial, corroborando para a inflação baixa. Dado o momento político tortuoso, até acreditamos nesta hipótese. Não dá para vislumbrar, neste momento, um “ciclo muito exuberante” de crescimento. Talvez a partir de 2019 ou depois.
Sobre a inflação, segue muito comportada. Em março, pelo IPCA-15, a taxa de 0,1%, a 2,8% em 12 meses, reforçou uma economia ainda com grande hiato de produto, retomada lenta e importante contribuição no recuo nos preços dos alimentos. Na visão do IPEA, a desinflação desde início de 2016 (quando chegou a 10,7%) até março agora (2,8%) se deu de forma generalizada.
Em 2017 tivemos uma combinação de fatores positivos como a alta produtividade, expansão da área plantada e ausência de fatores climáticos, que contribuíram para a mega-safra no ano, de 240,6 milhões de toneladas. Somados a outros fatores, os “alimentos no domicílio” recuaram 3,8% em 2017. Outros preços livres também recuaram, assim como os duráveis, bem baixos. Os serviços seguiram em queda, abaixo de 5% (4,2%), sendo que no passado recente estavam entre 7% e 9%. Por outro lado, os preços monitorados foram o principal fator de pressão no ano passado, registrando 7,3%, com pressão elevada da energia elétrica, do gás e da gasolina. Neste ano o mesmo deve acontecer. Alimentos em queda e preços administrados sob pressão.
Neste contexto, ao projetar a inflação para 2018 e 2019, chega-se a 3,6% e a 4,2%, respectivamente. Já a taxa Selic deve recuar a 6,25% neste ano, sendo elevada a 7% no ano que vem. Nós concordamos com estas projeções, talvez um pouco mais rigorosos no ano que vem, achando que a taxa possa ir a 8,0% ao fim do ano. Nada disso, porém, muda a trajetória de recuperação e estabilização que vislumbramos para o País neste próximo ciclo. Para isso, o governante que for eleito precisa fazer o “dever de casa”, visando as reformas estruturais, o ajuste fiscal e a melhoria do ambiente de negócios.