O BC, como responsável pela política monetária e cambial, deve ter postura previdente e que se antecipe a comportamentos dos agentes e players do mercado, que num clima de incertezas e segurança, forcem situações que possam ser mitigadas com ações preventivas da autoridade monetária.
O dever de vigilância é inerente à autoridade e a visão prospectiva é absolutamente fundamental para que não ocorram disfuncionalidades e desarranjos que possam culminar com assimetrias perturbadoras.
Temos neste momento, o REAL, nossa moeda, com comportamento frente ao dólar americano bastante atípico se considerar as demais moedas emergentes, mas está evidente que há causas para tanto e que são inerentes ao ambiente interno do Brasil envolvendo política monetária, cambial e fiscal.
Há descompassos no juro, já bastante pressionado pela inflação inquestionavelmente presente e mais acentuada em perspectiva, e no câmbio, não em decorrência de fluxo de saída de recursos do país, mas como alternativa de “reserva de valor” que é encontrado no mercado futuro de dólar com a realização de “hedge pela incerteza e insegurança”, e este deve ser suprido pela autoridade monetária com a oferta de swaps cambiais novos.
No juro, o BC/COPOM está bastante pressionado a proceder a elevação da taxa SELIC na próxima reunião, sendo temeroso não fazê-lo, pois os danos para a retomada poderão ser maiores com a omissão da atitude do que com a consumação da mesma.
O BC não pode sofismar, sendo imperativo que assuma o controle efetivo da situação para preservar minimamente o que já foi alcançado em termos de retomada da atividade, o que não é muito, mas evitar que o país adentre um cenário conturbado e de difícil controle envolvendo inflação ou recessão, e isto, macule totalmente as projeções econômicas para este ano e mais acentuadamente para 2021.
É preciso que a autoridade, ainda que não reconheça publicamente, procure corrigir a dicotomia entre o juro baixo e câmbio alto que estão com seus parâmetros sem correlação técnica adequada e causam repercussões assimétricas nos seus comportamentos.
O câmbio alto não tem trazido ao país os benefícios objetivados e planejados pelo Ministério da Economia e, em realidade, beneficiou o setor do agronegócio brasileiro impulsionando fortemente suas exportações com remuneração elevada já num ambiente de demanda internacional aquecida, mas em contraposição provocou e está provocando danos repercutivos na atividade econômica, sendo a principal o risco inflacionário já bastante aquecido e ainda não totalmente com o “pass through” consumado para o varejo.
A autoridade monetária precisa acentuar o foco nos inúmeros vetores presentes que tendem a corroer de forma direta e indireta a capacidade de consumo da população, e este é um aspecto fundamental que pode contrair as projeções e impulsão da retomada da atividade econômica.
Há no momento divulgação de dados alvissareiros da indústria e do varejo, mas há também o sentimento de que em termos concretos não há percepções equânimes com os dados que vem sendo divulgado, o que é algo que precisa ser mais detidamente analisado.
É preciso atenção minuciosa no trato da renda e capacidade de consumo por parte das autoridades, visto que no momento em que o governo está no limite de sua capacidade orçamentária para poder dar continuidade aos seus programas assistenciais, ocorrem muitos fatores que dilapidam renda e pode ficar a sensação de que o “novo novo” dá com uma mão de forma visível e retira com outra de forma invisível.
Enfim, o BC/COPOM precisa revisar o seu “forward guidance” que já não encontra compatibilidade com a realidade prospectiva.
O câmbio é o centro de gravitação de expansão inflacionária acentuada para os preços da economia brasileira, portanto, urge que a autoridade monetária atue pró-ativamente buscando mitigar o agravamento dos seus impactos, a partir do seu preço.
Ofertar swaps cambiais novos, ainda que seja evidência de percepção maior de riscos por parte do BC, será antes e acima de tudo ação profilática extremamente previdente e necessária da autoridade monetária.