Em textos anteriores, falamos sobre alguns aspectos de empresas que apresentam o Modelo de Imobilização Dinâmica e os benefícios subjacentes de uma preponderância de Passivos Cíclicos sobre Ativos Cíclicos, de acordo com o Modelo de Fleuriet. Lembrando que cerca de 85% desses benefícios vêm de um Ciclo de Caixa negativo, uma vez que as contas cíclicas com maior preponderância observável dentro do Modelo de Fleuriet são aquelas cobertas pela análise de ciclos. É importante ressaltar que Contas Erráticas (ou Contas de Tesouraria) são aquelas consistentes com a análise de liquidez em empresas dinâmicas, dada a natureza do indicador.
No entanto, hoje vamos falar sobre a gestão do capital de giro e outros ativos circulantes não apenas em relação às empresas que mantêm um Modelo de Imobilização Dinâmica, mas para todas as empresas em geral. Segundo muitos autores, os maiores problemas na gestão de contas correntes focam em três fatores distintos:
A solvência das dívidas de curto prazo: Além de os ativos de curto prazo exigirem um dado período para serem transformados em dinheiro para a empresa, há também o risco de não conversão. Portanto, há a necessidade de olhar além dos índices de liquidez ortodoxos para uma análise dinâmica mais aprofundada dos ciclos. Observe que uma preponderância de ativos circulantes sobre passivos circulantes pode ser traduzida em liquidez nos índices tradicionais, mas se a empresa não for capaz de transformar estoques e recebíveis em dinheiro, uma preponderância de ativos circulantes será inútil. Observe que a ideia estática de liquidez não é capaz de responder a perguntas simples que os analistas consideravam específicas para este indicador. Existem padrões interessantes que devemos analisar no fator de solvência que dizem respeito às Contas da Tesouraria (ou Contas Erráticas) que representam liquidez de muito curto prazo, mas a verdadeira solvência de uma empresa e a capacidade tanto de imobilizar recursos correntes quanto a capacidade de pagamento de curto prazo dependem de uma análise cuidadosa dos ciclos. Portanto, os credores de curto prazo tendem a dar devida importância aos ciclos de caixa de uma empresa devedora.
O paradoxo entre "liquidez" e rentabilidade: Empresas que fazem um investimento comparativamente alto em ativos circulantes o fazem por diferentes razões. Seja pela falta de ativos fixos rentáveis ou pelo risco subjacente de condições macroeconômicas adversas, ou mesmo pela busca de sustentar o nível de vendas através de uma política de crédito liberal, sempre haverá um paradoxo entre liquidez e rentabilidade. Empresas que optam (ou são forçadas pelas circunstâncias) por manter um alto investimento em ativos circulantes geralmente obtêm retornos mais baixos sobre o capital investido do que empresas que optam por imobilizar esse capital. Digo isso porque invariavelmente, em situações não anômalas, os ativos circulantes terão uma taxa de retorno zero (sendo erodidos pela inflação, como no caso do caixa) ou taxas de retorno pequenas, por conta da alta liquidez e baixo risco dado o tempo de maturação de alguns instrumentos (como as taxas de juros embutidas em recebíveis ou investimentos de curto prazo). E aqui há uma ressalva. Consideramos que o investimento em ativos circulantes não é o catalisador para um maior volume de vendas e, consequentemente, devem ser ponderados igualmente de acordo com os impactos que essa consequência gerará. Um exemplo disso que pode ser quantificável para o administrador financeiro interno é o impacto de uma política de crédito mais liberal em relação ao volume de vendas. Se o montante investido em recebíveis gera um maior retorno em relação à receita do que o custo de oportunidade de manter uma política de crédito restritiva e investir em ativos fixos com esse mesmo capital, então devemos reconsiderar o impasse entre liquidez e rentabilidade. Porém devemos sempre equiponderar tais medidas com os riscos imbuídos.
O custo de oportunidade que as empresas enfrentam ao investir em ativos circulantes: Ainda em relação ao risco e retorno de manter recursos (sejam correntes ou não correntes) em ativos circulantes, devemos sempre ter em mente alguns fatores. Em certas indústrias, como restaurantes, onde há uma preponderância de empresas que investem fortemente em ativos fixos e têm ciclos curtos, manter muitos ativos circulantes poderia prejudicar tanto o crescimento quanto criar uma desvantagem comparativa em relação aos concorrentes. Outro fator que deve ser analisado é o custo de oportunidade de fazer mudanças que, à primeira vista, seriam positivas para o negócio, mas devido à escassez de recursos, não seria eficiente realizar. Um exemplo disso é a adoção de modelos de inventário mais enxutos para empresas que não realizam um estudo de mapeamento de sazonalidade e não possuem um sistema de gestão de inventário baseado em IA. Pense nas consequências desastrosas de ficar sem estoque durante um período de fortes vendas. Imagine uma empresa que usa recursos correntes para imobilização e se vê "forçada" pelas circunstâncias do mercado a liberalizar sua política de crédito. Seu ciclo operacional começará a crescer e se não houver compensação pela liberalização dos prazos de pagamento, a empresa estará em sério risco de permanecer insolvente. Todas essas consequências que mencionei são o resultado de casos reais e podem ocorrer durante o planejamento da gestão de ativos circulantes e capital de giro.
Claro, essas são algumas das principais dinâmicas que devemos prestar atenção quando falamos sobre a dinâmica de ativos circulantes em relação tanto à rentabilidade quanto à liquidez. Para uma realização mais profunda dessas percepções, a consideração caso a caso é necessária, pois cada empresa é um universo particular, com suas próprias características e dinâmicas.