Publicado originalmente em inglês em 13/2/2020
Ninguém sabe como o coronavírus vai influenciar a economia chinesa ou a demanda petrolífera.
Uma razão para essa incerteza é que a sociedade chinesa não é aberta, as informações oficiais são em grande parte controladas pelo governo, que é conhecido por manipular os dados econômicos com finalidade política. Essa falta de informação também impossibilita prever os resultados da disseminação viral neste momento, responsável por matar mais de mil pessoas, infectar outras dezenas de milhares e se espalhar por vários países ao redor do mundo.
No entanto, após quase metade do segundo mês de 2020, as instituições começam a revisar suas previsões de demanda petrolífera para o ano. Não estão claros quais dados ou evidências estão sendo usados nessas atualizações, já que ainda há dúvidas em torno do coronavírus.
Independente da sua precisão, esses relatórios devem ser levados em conta, pois eles movimentam os mercados.
BP corta previsão de consumo de petróleo
A BP foi uma das primeiras instituições a prever o impacto do coronavírus sobre a demanda petrolífera mundial. No dia 4 de fevereiro, o diretor financeiro da empresa declarou que o coronavírus poderia reduzir o consumo mundial de petróleo entre 300.000 e 500.000 barris por dia em 2020.
Os mercados de petróleo despencaram por causa dessa previsão na semana passada.
Mais projeções catastróficas?
A Rystad Energy, empresa independente de pesquisa energética sediada na Noruega, divulgou sua previsão no dia 11 de fevereiro. Em dezembro, a Rystad projetou que a demanda petrolífera mundial poderia aumentar em 1,1 milhão de bpd. Agora, a empresa acredita que a demanda terá um incremento de apenas 820.000 bpd.
No entanto, no mesmo anúncio, a Rystad admitiu que os resultados podem ser muito piores, cortando o crescimento da demanda para apenas 650.000 bpd.
Os investidores não devem se enganar com a linguagem pessimista empregada pela Rystad em seu informe à imprensa. Essa previsão, que corresponde a uma queda na demanda entre 280.000 e 450.000 bpd em 2020, na verdade é bastante similar à projeção feita pela BP uma semana antes.
A Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) revisou sua estimativa de crescimento da demanda petrolífera no dia 11 de fevereiro, prevendo uma redução de 300.000 bpd em 2020 por causa do coronavírus, além de estabelecer que o aumento de demanda neste ano será de apenas 1 milhão de bpd, números que ainda assim são maiores que os apresentados pela Rystad.
Opep intervém, Brent reage
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) atualizou sua previsão em 12 de fevereiro, mitigando o impacto do coronavírus no mercado petrolífero. A Opep estimou que o crescimento da demanda petrolífera teria uma queda de apenas 230.000 bpd por causa do coronavírus em 2020, o que corresponde a uma previsão de 0,99 milhão de bpd em 2020.
O mercado parece ter gostado da revisão menor feita pela Opep nesta semana, já que o preço do Brent saltou quase 2% após essa notícia. O WTI também se valorizou cerca de 1,5%.
Já a Agência Internacional de Energia (AIE) planeja atualizar suas projeções em 13 de fevereiro, podendo movimentar o mercado com base em sua estimativa de destruição de demanda.
Há uma dupla implicação aqui: primeiro, o mercado reagirá durante a publicação da emenda sobre a demanda. Segundo, no longo prazo, ninguém sabe o real impacto que esse vírus terá sobre a demanda petrolífera.
Conclusão
Essas previsões se embasam em informações bastante precárias. Na quarta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu que, embora o número de novos casos oficiais de coronavírus na China parece ter se estabilizado na semana passada, “ainda pode seguir em qualquer direção”.
Ora, se nem a OMS consegue prever o que vai acontecer na China ou em outras partes do mundo, por que a BP, a Rystad, a EIA, a Opep ou a AIE conseguiriam fazer isso?
Os investidores que desejam compreender o impacto sobre os mercados de petróleo e a direção dos preços devem se lembrar de que, no curto prazo, a revisão das previsões está movimentando os mercados, mas, no longo prazo, é praticamente impossível prever o que vai acontecer.
Esses grupos estão tentando adivinhar os acontecimentos da melhor maneira possível, mas não podem dizer o que vai acontecer no futuro. De fato, em razão da opacidade da China, a real extensão da influência do vírus na economia mundial só poderá ser revelada em retrospectiva.