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Preocupação com Inflação nos EUA Faz Biden Cogitar Troca de Powell no Fed

Publicado 19.07.2021, 12:47

A parede de negação do Federal Reserve em relação à inflação começa a mostrar rachaduras. O presidente do banco central americano, Jerome Powell, reconheceu, em depoimento ao Congresso na semana passada, que a inflação está mais alta do que as autoridades monetárias previam, de modo que não hesitariam em “ajustar” a política se os preços começassem a se afastar da meta.

Mas reiterou sua convicção de que os aumentos de preços eram transitórios, devido à reabertura da economia e à escassez de oferta e trabalhadores.

Parlamentares de ambos os partidos questionaram Powell sobre a inflação após o índice de preços ao consumidor de junho, divulgado na terça-feira, ter mostrado um salto de 5,4% no ano, seu maior nível desde 2008 e acima do previsto, que era de 5%. Mês a mês, o aumento foi de 0,9%, contra previsões de 0,5%.

Argumento da transitoriedade se torna mais difícil de defender

As dúvidas quanto à política do Fed estão aumentando, à medida que a discussão sobre o futuro de Powell começa a ganhar alguma tração. Embora os economistas, em sua grande maioria, acreditem que o presidente americano Joe Biden seguirá a tradição e reindicará Powell como chefe do Fed, o ultraliberal Robert Kuttner previu, na semana passada, que Biden poderia indicar alguém novo.

O mandato de Powell termina em fevereiro, e a Casa Branca geralmente nomeia o novo presidente com vários meses de antecedência, para que o Senado confirme a escolha. Kuttner, que é editor do The American Prospect, foi o primeiro a relatar que Janet Yellen estava sendo cogitada para a Secretaria do Tesouro.

O senador Sherrod Brown, de Ohio, presidente democrata do Comitê Bancário, criticou veementemente Powell em sua audiência na semana passada, pelo que considerou como regulamentação frouxa que permitiu o aumento de poder dos bancos. A influente senadora Elizabeth Warren, ex-aspirante à presidência, compartilhou das mesmas críticas.

Yellen, ex-presidente do Fed, evitou uma pergunta de um entrevistador televisivo, na semana passada, sobre a reindicação de Powell, mas afirmou que acreditava que o Fed estava realizando um bom trabalho.

É evidente que sim. Ao manter a política de compra de ativos a todo vapor, bem como as taxas de juros perto de zero depois de terminada a crise, com a economia recuperando-se forte, Powell está fazendo exatamente o que ela quer que ele faça e o que ela faria se estivesse em seu lugar.

A independência do Fed parece ser mais uma ficção, à medida que Powell segue os passos da sua antiga chefe, assim como os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto. Que inflação?

O índice de preços ao produtor, importante indicador de direção dos preços dos preços aos consumidores, disparou 1% no mês em junho e 7,3% no ano. O Livro Bege, que reúne dados de contatos dos 12 bancos regionais junto a empresas locais, novamente indicou que a maioria esperava a continuidade das pressões de preço por algum tempo.

A evidência, em suma, indica que a insistência de Powell de que a inflação é transitória está ficando cada vez mais difícil de defender. Mesmo havendo o arrefecimento desses dados e do efeito-base dos preços deprimidos de um ano atrás, chamar de transitória o desequilíbrio entre oferta e demanda que pode durar vários meses levanta dúvidas.

O chefe do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse ao Wall Street Journal que ainda era cedo demais para considerar uma redução das compras mensais de ativos do Fed em relação ao nível de US$120 bilhões. A taxa de ocupação/população, que era de 61,1% em fevereiro de 2020, antes do surgimento da pandemia, ainda estava a apenas 58% em junho e precisava ficar solidamente acima de 59% antes que as autoridades monetárias possam discutir uma redução de estímulo.

James Bullard, diretor do Fed de St. Louis, indicou que já era hora de começar a reduzir as compras de títulos. “Não é preciso fazer isso amanhã, mas acho que estamos em condições favoráveis para tanto”, disse ele em entrevista.

As autoridades de bancos centrais de outros países estão menos hesitantes. O Banco do Canadá cortou suas compras de títulos em C$1 bilhão por semana em abril, para C$3 bilhões, na semana passada, dizendo que cortará mais C$1 bilhão por semana.

Michael Saunders, membro externo do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, afirmou, na semana passada, que o banco central britânico deveria tomar uma ação para coibir a inflação, sugerindo que votaria para reduzir as compras de títulos já na próxima reunião mensal.

Isso foi uma mudança de tom na política de afrouxo e ocorreu na esteira das declarações de David Ramsden, vice-governador e membro do MPC, para quem a inflação também era preocupante, após o Reino Unido acumular uma alta de 2,5% no ano, em junho.

As duas autoridades disseram discordar do governador Andrew Bailey, que continua insistindo que o banco está certo em não alterar sua política.

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