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Preços dos Alimentos Não Devem Cair com Correção nas Commodities; Entenda

Publicado 22.06.2021, 09:26
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Os preços do cacau registram queda de quase 9% no ano, enquanto o contrato futuro de suco de laranja concentrado e congelado teve correção de cerca de 4%.

Cacau Semanal

Mas não espere que a barra de Kitkat, ou um copo de chocolate quente no Starbucks (NASDAQ:SBUX) (SA:SBUB34), ou ainda uma garrafa de suco de laranja Tropicana (NASDAQ:PEP) fiquem mais baratos nas lojas.

Mesmo em momentos de normalidade, as reduções dos preços das commodities quase nunca se traduzem em preços menores de alimentos processados. O que dizer, então, durante uma pandemia? A frase mais apropriada em relação a isso seria: “Nem pensar!”

Na verdade, existem boas razões para explicar por que as flutuações nas commodities não geram oscilações equivalentes de preço nos alimentos, e não tem a ver somente com a determinação dos produtores de manter a estabilidade do mercado e preservar clientes.

A logística, incluindo cadeias de fornecimento, é um fator determinante para os fabricantes garantirem que as matérias-primas necessárias cheguem rapidamente para a produção de suas mercadorias que, por sua vez, precisam chegar aos clientes. Portanto, desde que essas cadeias não sejam afetadas, os preços dos alimentos não têm muitas razões para mudar, ao contrário das alterações de preços nas matérias-primas, que os fabricantes tentam absorver antes de repassá-las aos consumidores.

Não tem a ver apenas matérias-primas, mas também com papelão e plásticos

Evidentemente, houve uma quebra das cadeias de fornecimento ao redor do mundo, o que complica não só a entrega das matérias-primas às fábricas para que produzam alimentos, mas também de materiais como resina, necessária para fabricar caixas de papelão e recipientes de plástico para entrega (pense numa garrafa de suco de laranja).

Nos anos anteriores, geralmente um produto ou cadeia de fornecimento que se via afetada atraía as atenções do mundo para essa crise, garantindo uma solução rápida. Atualmente, indústrias inteiras enfrentam problemas com a escassez mundial de microchips e vidro para envasamento após um ano de produtividade inconstante desses materiais essenciais, devido à pandemia.

E as elevações de preços, mesmo quando os custos com commodities caem, são mais fáceis quando toda a concorrência passa por dificuldades – não apenas você. Isso provavelmente explica por que o McDonald’s (NYSE:MCD) (SA:MCDC34) dobrou o preço do seu sanduíche mais barato, o McChicken, neste ano, após usar seu “menu do dólar” durante anos para atrair clientes.

O Wall Street Journal disse, em um comentário publicado há duas semanas, que “o mundo não via aumentos generalizados de preços nas commodities desde o início da crise financeira global e, antes disso, desde a década de 1970”.

Milho semanal

O periódico citou preços da madeira serrada, cobre e minério de ferro; pico de oito anos no milho, trigo soja; e máximas de mais de dois anos no petróleo.

Presidente do Fed tem muito a explicar hoje

Com isso, quando o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, fizer seu depoimento ao congresso americano hoje, por transmissão via satélite, na Subcomissão da Câmara para a Crise do Coronavírus, para explicar os programas e políticas de empréstimos emergenciais da instituição, a expectativa é que ele fale sobre as cadeias de fornecimento e como elas estão atrapalhando o trabalho do banco central na recuperação da economia americana.

Os dados de sexta-feira sobre renda pessoal e gastos serão observados de perto, já que contêm o núcleo do índice de gastos com consumo pessoal, que é a medida favorita do Fed para a inflação. Esse índice saltou para a máxima plurianual de 3,6% no período de 12 meses até abril. O índice de preços ao consumidor, enquanto isso, registrou alta de 5% no ano, patamar mais alto desde 2008.

Praticamente todos os chefes do Fed introduzem um novo termo no léxico econômico, e o de Powell provavelmente será “transiente” ou “transitório”, sua escolha lexical para descrever a inflação pós-pandemia nos Estados Unidos e por que ela deve arrefecer após as cadeias de fornecimento no país se ajustarem.

Há meses, Powell vem vendendo a ideia de que os atuais preços nos EUA são temporários, apesar de muitos americanos acharem que eles chegaram para ficar – podendo até piorar. Na última quinta-feira, a Casa Branca sub-repticiamente prestou auxílio ao Fed através de um estudo publicado sobre a pandemia e seus transtornos às cadeias de fornecimento, a fim de respaldar o argumento do banco central.

Embora a Casa Branca não tenha tentado reduzir a seriedade da crise perante a nação, concluiu que a situação pode se resolver antes do fim do ano – em seis meses, para ser preciso. Em algumas partes do país, as coisas já estão melhores do que no período pré-pandemia, apesar de muitas pessoas ainda não terem notado, segundo o estudo.

Casa Branca diz que inflação é “transitória”, respaldando o Fed

Ao se referir a pesquisas feitas por três bancos regionais do Fed com fabricantes, a Casa Branca disse que os atuais prazos de entrega estão nas máximas históricas, enquanto os prazos futuros ficavam dentro das faixas normais.

“Há evidências indicando que os atuais transtornos são, em grande medida, transitórios”, concluiu a Casa Branca, usando a linguagem favorita de Powell.

E afirmou ainda:

“Embora os atuais índices relatem as condições no momento da pesquisa, os índices futuros indicam expectativas para as condições daqui a seis meses. Em seu conjunto, os dados sugerem que os fabricantes esperam que os atuais problemas na cadeia de fornecimento diminuam no prazo aproximado de seis meses”.

Mas o estudo também enfatizou as dificuldades que tanto fabricantes quanto consumidores devem enfrentar, ao dizer:

“Embora os mercados venham a se ajustar eventualmente,o processo pode ser lento, e o impacto sobre produtores e consumidores pode ser oneroso. o setor público pode exercer importante papel na redução desses custos, facilitando ajustes de curto prazo e avaliando vulnerabilidades nas cadeias de fornecimento dos EUA”.

A Casa Branca citou, por exemplo, escassez de café ocorrida há uma década e a disparada de preços resultante.

“Como muitos consumidores de café irão se lembrar, os preços do produto dispararam por causa de geadas que prejudicaram as plantações, principalmente no fim de 2010. Com o tempo, o clima se normalizou, as safras melhoraram e os preços voltaram a cair aos seus níveis anteriores. Disparadas transitórias de preço similares têm ocorrido em mercados de produtos agrícolas e outras commodities – como no caso do creme de amendoim, em meio à seca de 2011, ou ovos durante a epidemia de gripe aviária em 2015”.

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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