O preço do sebo bovino acelerou a valorização que vem ocorrendo desde junho e atingiu o maior nível desde o fim de 2022, em um contexto de demanda aquecida do setor de biodiesel diante da disponibilidade reduzida de óleo de soja no mercado doméstico.
Na semana encerrada em 8 de novembro, o preço Argus de sebo bovino entregue em São Paulo com ICMS avançou R$200/t, chegando a R$6.700/t, maior nível desde setembro de 2022. O sebo e o óleo de fritura usado (UCO) servem como alternativa de matéria-prima às usinas de biodiesel em momentos de escalada do óleo de soja, cujo indicador Argus para o mercado paulista chegou a superar os R$7.000/t neste mês – também o patamar mais alto desde 2022.
As ofertas de venda de biodiesel no mercado à vista acompanharam a alta dos insumos, mas a procura pelo biocombustível tem sido relativamente baixa.
Com o biodiesel mais caro, cresce a preocupação com o descumprimento da mescla obrigatória de 14pc no óleo diesel rodoviário diante da suspensão temporária do Programa de Monitoramento de Qualidade de Combustíveis (PMQC) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) pelos próximos dois meses – importante instrumento no combate às irregularidades no mercado brasileiro de combustíveis.
A partir de março de 2025, é esperada a introdução da mistura de 15pc de biodiesel no diesel B, elevando a demanda pelo biocombustível.
Neste contexto, a produção de biodiesel no Brasil deve crescer de 9,05 milhões de m³ neste ano para 10,3 milhões de m³ em 2025, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Arbitragem fechada
O fluxo de exportação de sebo brasileiro esfriou, com empresas de reciclagem animal dando mais enfoque ao mercado interno. O total exportado em outubro somou pouco mais de 21.000t, em comparação com 35.000t em setembro e 28.000t no mesmo mês em 2023, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A desaceleração é um reflexo da arbitragem fechada.
O preço do sebo bovino vendido no Golfo Americano estava em $960/t na semana encerrada em 8 de novembro, conforme referência de indicador Argus, o equivalente a cerca de R$5.570/t, considerando a taxa de câmbio atual.
Atualmente, esse valor é inferior ao preço do sebo sem impostos para retirada em São Paulo, e que não leva em consideração os custos de armazenamento nos portos e frete marítimo. Esse diferencial significa que é muito difícil chegar a um negócio de exportação vantajoso para ambas as pontas da operação neste momento.
Negociações pontuais têm ocorrido nos portos do Sul e Sudeste, geralmente a preços ligeiramente abaixo do mercado interno e acima do que a maioria dos compradores norte-americanos têm se mostrado dispostos a pagar.
Com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, cresce a incerteza acerca da implementação das mudanças previstas na sessão "45Z" do pacote de medidas inseridas no "Inflation Reduction Act" de 2022, que visa incentivar o uso de matérias-primas com baixa pegada de carbono, como o sebo bovino e o UCO, para a produção de biocombustíveis.
No começo desta semana, Trump informou que nomeará o ex-parlamentar de Nova York Lee Zeldin para comandar a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês), com uma agenda de buscar uma “desregulamentação justa e rápida” que apoie o crescimento. Zeldin, que cumpriu quatro mandatos na Câmara dos Representantes dos EUA, assumiria o cargo com experiência limitada em questões ambientais. A nomeação precisa ainda ser confirmada no Senado dos EUA – com maioria republicana.
Caso os incentivos ao uso do sebo bovino na produção de biocombustíveis sejam reduzidos e tarifas à importação de insumos brasileiros sejam impostas, o fluxo de exportação de sebo bovino para os EUA pode diminuir drasticamente.