A definição clássica de bolha na literatura de finanças é relacionada a um ativo ter seu preço desconexo de seu valor fundamental subjacente. Por exemplo, na bolha das empresas de internet nos anos 2000, muitas empresas que ainda não produziam nada foram extremamente valorizadas apenas por ser da internet. Naturalmente isso não se sustentou. Um analista mais atento (e sortudo de ter boas premissas) teria percebido algo estranho naquela época, posto que havia como estimar o quanto a empresa tinha de ativos, vendas e fazer projeções. No que diz respeito a criptomoedas, esse valor fundamental não existe de maneira clara, então gritar bolha não é trivial.
Por que esse assunto chato durante um bull market? Naturalmente, bolha não é uma acusação trivial e, mesmo que seja verdadeira, por que não arriscar e tentar pegar o pico, sempre controlando perdas? A resposta é que a depender da aversão ao risco do investidor e da tendência dos preços, realmente é irracional não tentar capturar o máximo de valor. Se sair cedo demais, há uma perda considerável. Normalmente recomendo conservadorismo se a operação já ganhou o bastante para ser considerada bem-sucedida, mas a resposta deve considerar os fatores individuais. Dessa maneira, parece ainda mais desnecessário falhar sobre o assunto.
Só que, vejam bem a definição clássica: o ativo fica descolado do valor fundamental subjacente. Por mais que não saibamos estimar, há algo que em tese deve justificar a entrada das pessoas em criptomoedas. Há elementos já mapeados; por exemplo, a expectativa a respeito da tecnologia de algumas altcoins justifica variações em seus preços. No Bitcoin, expectativas de novos players, como os institucionais, sobre a capacidade da tecnologia ser uma reserva de valor parece ser o principal determinante.
Se esse determinante parece volátil, é porque realmente é. Contudo, nos últimos tempos houve uma entrada agressiva de dinheiro americano, conforme documentado pela falta de spread entre exchanges americanas e orientais. Muitos argumentam que esse inflow é de investidores institucionais, sugerindo maturidade do mercado. Se isso se verificar verdadeiro, com grande número de investidores institucionais entrando, o mercado ganha posto que esses players são menos voláteis e podem representar um bull market mais duradouro.
Infelizmente há as dinâmicas internas do próprio mercado. A Bitfinex continua sendo extremamente problemática, com inúmeros riscos. O mais recente é a redução rápida de alocações em sua cold wallet, com alta volatilidade desde o final de abril . Evidentemente isso é um risco menor que uma Mt. Gox foi no passado e mesmo o Tether é passível de substituição rápida, porém não é um player desprezível que pode interromper a boa fase. Mesmo com más notícias, os preços continuam a subir. Será que essas notícias não mereciam reflexos nos preços? Se sim, talvez estejamos em uma sobrecompra de criptoativos.
Não vejo motivos para creditar que os reflexos deveriam ser extremamente considerados. São riscos de cauda e de crédito de uma exchange que não é a maior num mercado que todos sabemos especulativo. Na prática, não acredito que esse risco deva influenciar nos preços de maneira tão significativa, apesar da cauda ser imensa. De toda forma, precisamos estar atentos para não sofrer perdas quando podemos antecipar. Saídas estratégicas fazem parte e não nos deixar contagiar pela alta dos preços faz parte de aproveitas os lucros da atual onda, porém também não vejo razões para desespero ou liquidar posições.