Consideramos um equívoco impor uma apreciação ao real conduzindo seu preço a taxa abaixo de R$ 3,70 neste momento.
É enganosa a ideia de que já se pode descontaminar a taxa cambial de inclusão de prêmio representativo dos riscos presentes decorrentes da sua inércia de atividade econômica e, principalmente, da falta de perspectiva definida e considerada viável para superação da intranquilizadora crise fiscal com a qual se defronta o país.
Por enquanto, só há a forte propensão de ser eleito o candidato preferido do mercado financeiro na atualidade, mas nada além disto, pois não há quaisquer evidências sobre o programa governamental e nem suas estratégias para os substantivos desafios que precisarão ser enfrentados e para os quais precisarão ser definidos procedimentos rígidos.
Que Congresso Nacional terá o país? Que propostas serão elaboradas pelo novo governo de forma concreta? Quem serão os gestores da política monetária?
Enfim, são dúvidas e incertezas que prevalecem como contingenciadoras do otimismo, que deve ser mantido como postura, mas sem que o ambiente se afaste da sensatez absolutamente necessária.
O mundo global nos observa e, embora por vezes nos esqueçamos, somos um país emergente, que tem o contraditório de não ter problemas com as suas contas externas e reservas cambiais, o que o diferencia pontualmente desta vulnerabilidade no confronto com os demais, mas que tem uma situação macroeconômica extremamente delicada e sufocada pela incapacidade de fazer por carência de recursos.
Todas as medidas que possam ser adotadas, embora venham a ser até manifestadas após o encerramento do pleito eleitoral, serão “intenções” e a consolidação ou implementação das mesmas provavelmente somente ao término do 1º trimestre do ano que vem.
Não há como aliviar o peso do prêmio de risco, embora tenha melhorado até sancionado pelo CDS do país, mas entre o anseio e a realidade ainda há um “gap” que sugere contenção dos ânimos.
Em torno desta realidade em que o preço da moeda americana deve se situar necessariamente no entorno de R$ 3,70 a R$ 3,80, mantendo um prêmio adequado aos riscos, ainda há substantivo estoque de apostas entre “comprados” e “vendidos” no mercado futuro de dólar que enseja embates reflexivos na formação do preço da moeda americana.
Não atribuímos a puxada de ontem a qualquer relação com as pesquisas eleitorais, que a rigor estão sendo pouco consideradas pelo mercado financeiro que as colocou em descrédito, mas sim pela insustentabilidade do preço abaixo de R$ 3,70 no momento e até pela discreta colaboração da valorização em torno de 0,50% do índice de dólar no exterior oportunamente aproveitada pelos “comprados” no mercado futuro local ávidos por mitigar os prejuízos.
A B3 sentiu o mau humor externo generalizado, mas acreditamos que possa retornar ao intervalo de 85.000 à 90.000 pontos e, ficar dependente das diretrizes do novo governo, já que em perspectiva depende muito da reordenação da atividade econômica do país.
O fluxo cambial divulgado ontem pelo BC envolvendo o período 1-19 do corrente mês revela-se positivo em tão somente US$ 151,0 milhões, sendo negativo comercial de US$ 507,0 Mi e positivo financeiro de US$ 658,0 Mi. Na semana o fluxo foi negativo em US$ 2,120 Bi ( negativo comercial US$ 118,0 Mi e negativo financeiro US$ 2,002 Bi) . A posição dos bancos está vendida em US$ 3,575 Bi, já considerado o fato de terem US$ 2,150 Bi de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra tomados do BC.
No ano o fluxo cambial está positivo em US$ 18,191 Bi, comercial positivo em US$ 36,535 Bi e financeiro negativo em US$ 18,345 Bi, tendo sido este volume financeiro desfavorável pelo grande volume de saída de recursos aplicados em carteira de renda fixa (US$ 16,5 Bi nos meses de agosto e setembro) motivados pela perspectiva, posteriormente confirmada, do aumento de juro americano.
Importante observar que há um volume líquido de câmbio de fluxo cambial a ser contratado (físico maior do que contratado), data base final de setembro da ordem de US$ 10,097 Bi.
A posição vendida dos bancos está em torno de US$ 5,725 Bi bruta com o suporte de US$ 2,150 Bi de linhas de financiamentos em moedas estrangeiras com recompra fornecidas pelo BC que a faz líquida em torno de US$ 3,575 Bi, já pode sugerir que o BC realize nova rodada de oferta destas linhas de financiamentos aos bancos autorizados a operar em câmbio, que contudo podem utilizar suas linhas junto a banqueiros externos, mas que certamente está protegida por “hedge”.
Espera-se que o BC reduza a oferta de rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos, que se acredita não estarem vinculados a passivos externos, mas isto deve ocorrer somente após as eleições e, no nosso entendimento seria de toda conveniência que o sinal de excesso de oferta de rolagem partisse do mercado e não por iniciativa do BC, para evitar reflexos oportunistas de especulação apreciando o preço do dólar como consequência.
Não há quaisquer sinais preocupantes de fuga de capitais estrangeiros do país, podendo o volume negativo do fluxo financeiro na semana mais expressivo sem, contudo reverter o fluxo positivo do mês, que está em US$ 658,0 Mi como destacamos, ser considerado normal para o momento.
A intensificação dos fluxos financeiros para o Brasil estará na dependência das diretrizes do novo governo, tendo como fatores opositores a elevação da taxa de juro no mercado americano e a atratividade de retenção de investimentos e até refluxos de investimentos em outros países para os Estados Unidos consequentes da reforma tributária implementada pelo governo Trump.
E este é um aspecto relevante se o Brasil buscar reorganizar-se a partir de privatizações.