Após a terça-feira que havia revelado maior tranquilidade dos investidores e retomada a formação do preço dos ativos mais alinhados com a realidade, na quarta-feira as tensões em torno do suspense sobre o desenlace da questão orçamentária americana, e mais especialmente, a problemática em torno do teto do endividamento do governo americano que poderá atingir o seu limite no próximo dia 17, voltaram a ganhar impacto nos mercados que esperam uma solução rápida para a questão, já que a despeito do aparente acirramento entre o governo democrata e os republicanos ser mais focado no embate político não se espera que extrapole a ponto de colocar em risco a capacidade de pagamento do país.
Este ambiente de disputa que provoca certo nervosismo na formação dos preços não tem potencial para provocar apreciação tão intensa no real.
O Brasil tem um quadro bastante desconfortável nas contas externas que sugere uma NFE (necessidade de financiamento externo) em torno de US$ 20,0 Bi somente pela diferença das projeções de déficit em transações correntes em torno de US$ 80,0 Bi versus o total dos IED´s, investimentos estrangeiros projetados em US$ 60,0 Bi, e ontem divulgou os dados da balança comercial ainda negativa em US$ 1,6 Bi no ano e hoje divulgou o fluxo cambial fechado em 27 de setembro com saldo negativo em setembro de US$ 2,988 Bi, que sugerem que a posição vendida dos bancos esteja naquela data em US$ 7,1 Bi, que vem sendo ancorada em linhas de financiamentos concedidas pelo BC em torno de US$ 5,6 Bi.
Com este quadro que sugere grandes dificuldades para que o país consiga angariar fundos externos suficientes para o financiamento do déficit em transações correntes, a tendência natural do preço da moeda americana no nosso mercado seria de alta, podendo estar neste momento em patamar muito acima do R$ 2,20.
Contudo, face à probabilidade do FED americana postergar ainda mais a vigência intacta em sua operacionalidade e volume do programa de incentivo monetário, convive-se com a expectativa de que fluxos de capitais externos especulativos possam migrar para o Brasil atraídos pela oportunidade de arbitragens que a nossa taxa de juro proporciona, e este é um fator que se opõe a uma alta mais acentuada, considerando-se ainda que o BC, com sua estratégia de oferta de liquidez mínima diária, neutralizou o ímpeto especulativo que este presente até 22 de agosto passado, principalmente a partir do mercado futuro.
Resulta então um quadro prospectivo onde a situação de deterioração das contas externas é efetiva e a perspectiva de melhora de ingressos de recursos especulativos que atenuaria a necessidade do país, em parte ou no todo, é uma suposição.
Mas agora, com o impasse ocorrido nos Estados Unidos no que tange ao orçamento e a elevação do teto de endividamento, surge um fator novo que pode conspirar contra os interesses do Brasil.
Se a solução para o problema for “arrastada” é possível que os investidores de capitais especulativos percam o ímpeto em direcionar recursos para o Brasil e outros países emergentes por entenderem que poderá haver riscos no contexto internacional.
Inegável também que eventos como o que envolve neste momento a OGX podem afetar o direcionamento de recursos externos especulativos para o Brasil.
Desta forma, não vemos razões que possam fundamentar uma apreciação maior do real no contexto atual, onde a situação real das nossas contas externas é efetiva e a perspectiva de melhora de fluxos de recursos externos é tão somente uma suposição, agora com um complicador novo que é o impasse político nos Estados Unidos.
A primeira leitura que vem à mente é que agora temos os “vendidos” forçando uma apreciação irreal do preço do dólar no mercado futuro, o que distorce a formação do preço e, em última análise, prejudica o BC nas operações de “swaps cambiais”.
No nosso entender o equilíbrio da taxa cambial está no intervalo entre R$ 2,20 a R$ 2,25, enquanto se mantém a expectativa de que os fluxos de recursos externos melhorarão para o país, com seu ponto de estabilidade no entorno de R$ 2,23.
Se este movimento tiver sequência, entendemos que o BC não deva alterar o seu programa de oferta mínima de liquidez diária, mas sim deixar de efetuar a rolagem de posições vincendas até que da mesma forma que baniu a especulação que focava a alta, elimine também movimentos indutores de baixa artificial.
Na nossa visão, o Copom deveria deliberar uma alta de 0,75% na próxima reunião elevando a Selic para 9,75%, dando um choque mais imediato na inflação num ambiente que o preço do dólar está em torno do adequado, ação que ao mesmo tempo provocaria maior atratividade do investidor estrangeiro especulativo, já que estamos precisando otimizar o mais possível, e rapidamente os fluxos de recursos para o Brasil.
Dólar ao preço de R$ 2,20 não tem suporte e nem fundamento no contexto atual do país.