Preço do dólar no mercado de câmbio brasileiro está simétrico com os fundamentos, assim uma melhora do fluxo cambial poderia colocá-lo até abaixo de R$ 2,25.
Tendo o BC com sua estratégia de liquidez, programada para os mercados futuro e à vista de dólar, obtido sucesso no expurgo do valor agregado ao preço da moeda americana em decorrência de ação especulativa, a formação da taxa cambial nos dois segmentos está atrelada aos fundamentos predominantes no seu entorno.
Desta forma, consideramos o preço na faixa de R$ 2,25 a R$ 2,30 ancorado nos fundamentos atuais que envolvem o momento desfavorável para o país no setor externo, com insuficiência de ingressos para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes, fato que está blindado pelo programa de oferta de liquidez instituído pelo BC.
Evidentemente, não se pode deixar de considerar, ainda que baixa, alguma precificação embutida nesta faixa de preço da moeda dos eventuais reflexos que poderiam vir a ser causados por uma decisão do FED americano de iniciar o desmonte do seu programa de incentivo monetário à retomada da sua economia, que, em tese, deveria provocar a saída de recursos estrangeiros do país na direção dos Treasuries americanos, que tenderiam a perder preço e abrir seus “yelds”.
A decisão do ex-secretário do tesouro americano Lawrence Summers de retirar sua postulação à presidência do FED, em que era o favorito, condição assumida por Janet Yellen, presidente regional do FED, mudou a perspectiva sobre o posicionamento da autoridade monetária americana, sugerindo que o desmonte do programa de incentivo monetário seja postergado, o que conduziu o dólar a perda generalizada ante as demais moedas ao redor do mundo.
É importante destacar que este comportamento de despreocupação ocorre na antevéspera da reunião do FED, que abordará a taxa de juro, declaração do FOMC e discurso do Presidente do FED, Ben Bernanke.
No Brasil, além da perspectiva de que, se assim for, recursos permanecerão por maior tempo no país, vislumbra-se agora a possibilidade de que ingressos de capitais especulativos possam vir a ocorrer, o que melhoraria o fluxo cambial para o país. A tendência é de que os Treasuries se valorizem e seus “yelds” sejam em consequência reduzidos tornando, portanto, interessante a arbitragem no Brasil.
Este fato repercutiu na formação do preço da moeda americana no nosso mercado, tendo ocorrido apreciação do real até o entorno de R$ 2,25, mas que não se sustenta devido à carência de fluxo satisfatório, levando o preço a flutuar dentro do parâmetro entre R$ 2,25 e R$ 2,30.
Hoje o BC realiza o leilão programado de 10.000 contratos de “swaps cambiais” e mais 40.000 contratos de “swaps cambiais” a título de rolagem. Este movimento é contributivo a sustentação da taxa cambial nos parâmetros atuais.
À margem do contexto vivenciado atualmente pelo mercado de câmbio é imprescindível que o governo brasileiro desenvolva as licitações/concessões/privatizações, focando a recuperação da infraestrutura do país dando extrema preferência àqueles investidores que poderão carrear volumosos investimentos estrangeiros para o país, de forma a fortalecer os fluxos cambiais que serão relevantes para cobrir futuramente as posições “vendidas” dos bancos no mercado à vista, que estão sendo ancoradas nas linhas de financiamentos (venda à vista com recompra futura), que o BC vem fornecendo via leilões.
Entendemos ainda que o BC/MF poderia, também, reduzir o prazo para os empréstimos externos sujeitos ao IOF, retornando-os em 90 dias ao invés de 1 ano, como vigente na atualidade, visto que o país deverá procurar otimizar todas as possibilidades de fluxos externos, já que neste momento é clara a insuficiência de ingressos externos para fazer face ao financiamento do déficit em transações correntes.
Consideramos ainda muito expressivo os gastos com turismo, que, na realidade, são muito mais despesas com consumo de bens do exterior do que turismo propriamente dito, portanto, não sendo justificável que os cartões de débito carregados no país e que se prestam a gastos no exterior continuem gozando de isenção do IOF de 6,0%, já que têm as mesmas características do consumo com os cartões de crédito tradicionais, que são tributáveis, mesmo quando utilizados no exterior realizando compras em reais.
A respeito deste tema especifico merece destaque a decisão dos grandes bancos vetando a compra no exterior em real com cartões de crédito, um claro cerceamento à liberdade de escolha por parte dos consumidores, e um desserviço à conversibilidade do real no mercado externo.
Portanto, ainda há algumas janelas que poderão ser reordenadas pelo BC/MF, de forma a estimular ingressos de recursos e conter gastos excessivos.
Continuamos com a convicção de que a taxa normal do nosso mercado de câmbio está no parâmetro entre R$ 2,25 a R$ 2,30, e que a estratégia do BC poderá contê-la nestes níveis para o final do ano, agora também favorecida pela perspectiva de postergação do início de mudanças no programa de incentivo monetário do FED americano.
Se o FED vier a adotar alguma medida de redução do seu programa poderá atingir R$ 2,35, mas mesmo assim o programa do BC poderá ser ampliado em seus volumes com a concordância dos bancos em elevar seus posicionamentos “vendidos” e a retroceder a R$ 2,30.