Motivos os mais diversos não faltam para justificar o derretimento intenso do real ante o dólar, ancorados nos fundamentos amplamente fragilizados da economia brasileira que temos quase que cotidianamente exposto em nossos comentários, e agora potencializados pelo clima frenético em torno das eleições de domingo e suas tendências.
O fluxo cambial até o dia 26 aponta um saldo positivo da ordem de US$ 3,561 Bi, sendo que na última semana de 22 a 26 deste mês, logrou tão somente um saldo positivo de US$ 131,0 M.
A leitura deste comportamento deixa evidente que até 26 não havia ainda um volume intenso de saídas de recursos do país de forma descompensada, deixando claro que a queda brusca do real ante o dólar não decorreu a partir do mercado à vista.
Então, a pressão ocorre a partir do mercado futuro ancorado em movimento de posições especulativas, por isso, não sensíveis às ofertas adicionais de contratos de “swaps cambiais” pelo BC.
Esta não sensibilização às ofertas do BC no mercado futuro sinaliza que não há grande demanda pelos “swaps cambiais” como instrumento de “hedge”, aparentemente acomodada no estoque “em ser” destes instrumentos no mercado futuro de quase US$ 100,0 Bi, e mais, com o preço da moeda americana neste patamar atual reduz acentuadamente o interesse de alguma eventual demanda residual ainda presente.
Desta forma, o BC certamente não aumenta a sua oferta destes instrumentos por sabê-la inócua no contexto atual e não por concordar com a taxa cambial nos parâmetros atuais, que já tem potencial de contaminar os preços da economia e colocar pressão na inflação, que corre o risco de vir a superar o teto máximo da meta.
Para outubro, a autoridade monetária manterá a oferta diária de 4.000 contratos de swaps cambiais novos e procederá a rolagem do montante de US$ 8,84 Bi vincendo em 3 de novembro, com ofertas diárias de 8.000 contratos.
Então temos presente um “corner” que praticamente inibe as ações do BC para conter esta contínua apreciação do dólar frente ao real.
E mais, como ainda não houve intensificação do volume de saídas de recursos do país até o dia 26 ou 24 se considerarmos que a estatística é feita pela liquidação que é normalmente D+2, quando ocorrer haverá mais pressão de desvalorização do real.
Os dados macroeconômicos do Brasil cada vez mais agregam indicadores e números ruins, sugerindo que possam ganhar intensidade os volumes reversivos de recursos externos que ingressaram no país e recuo brusco dos ingressos, inclusive de IED´s.
A deterioração da política fiscal agregada a um contingente de indicadores ruins da economia coloca presente a probabilidade do país ter reduzida a sua nota de crédito pelas agências de rating, o que passa a ser mais uma perspectiva ruim para o país, que já vislumbra impactos severos caso o FED americano altere sua política monetária.
Inúmeras vezes ressaltamos que o BC deveria ter permitido a apreciação gradual do dólar para evitar alterações abruptas do preço, mas a autoridade necessitando utilizar o preço da moeda americana como instrumento de contração inflacionária não o fez, por isso, agora, há o risco destas mudanças abruptas no preço e de grande impacto, já ocorrida em setembro, vir a se repetir também neste mês de outubro.
Não se pode atribuir esta depreciação do real somente a questão eleitoral, até porque soluções para o câmbio no Brasil se tudo for feito certo em 2015 só serão possíveis em 2016, pois há fundamentos macroeconômicos que a sancionam e dará sustentação a estes parâmetros de preço mesmo depois de superada a fase de eleições.
A questão eleitoral lastreia a especulação e agiliza a consumação da tendência de forma mais rápida com base nos fundamentos.
A desvalorização do real ontem foi muito discrepante para pior em relação as demais moedas de países emergentes. Não nos parece ousada uma projeção do preço da moeda americana para o final do ano entre R$ 2,50 a R$ 2,60.