Depois de quatro meses em queda, a prata, também chamada “ouro de pobre", conseguiu virar o jogo e registrou seu melhor desempenho desde maio.
A questão, evidentemente, é se esse movimento terá vida curta ou acelerará ainda mais.
Os aspectos técnicos sugerem que esse rali precisa vencer alguns pontos de resistência para ganhar força.
Além disso, o ouro, primo mais “ilustre” da prata, está mostrando sinais de possível rompimento que já o fizeram voltar ao patamar de US$1800 por onça, abrindo espaço para uma valorização até US$1900.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
A prata pode ter sólidos fundamentos industriais para subir, mas tem sido preterida pelo ouro nos últimos anos, evidenciando que um ralo solo sem o metal amarelo raramente sobrevive.
Mais de 50% da demanda da prata vem do seu uso industrial. Como metal maleável, a prata é tão boa quanto o ouro para confecção de joias. Mas também é uma boa condutora de eletricidade, extensivamente usada na fabricação de componentes eletrônicos.
A transição para a energia limpa deve impulsionar a demanda física da prata nos próximos anos, já que ela é usada em conexões de veículos elétricos e componentes de painéis solares. A implementação da tecnologia 5G também deve aumentar seu consumo. Mas esses fatores devem exercer grande impacto na prata no futuro, e não imediatamente.
Por enquanto, o uso da prata em diversas aplicações industriais tem efeito sobre seu preço: quando a atividade industrial cresce, seus preços sobem, e vice-versa.
Por essa razão, o índice mensal de gerentes de compras da indústria, ou PMI industrial, é uma importante métrica da demanda da prata, já que fornece um indicativo da atividade industrial.
O PMI global compilado pelo JP Morgan e IHS Markit atingiu sua mínima de seis meses de 54,1 em agosto de 2021, contra 55,4 em julho, devido à perda de força da produção em diversos mercados importantes. Um número acima de 50 indica uma expansão na atividade manufatureira, enquanto um número abaixo disso sinaliza contração. Isso pesou significativamente sobre a prata nos últimos meses.
Para aumentar ainda mais esse fator baixista, desde junho há especulações de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) está prestes a retirar seus generosos estímulos mensais que vêm dando suporte à economia americana desde março de 2020.
Ambas as nuvens se dissiparam neste momento, e a leitora do PMI global do JPM se estabilizou em 54,1 em setembro.
O Fed também confirmou, nesta semana, através da publicação da ata da reunião de setembro do seu comitê de política monetária, que o início do tapering, ou retirada de estímulos, provavelmente começaria em novembro ou dezembro, com conclusão em meados do ano que vem.
O banco central americano sugeriu uma redução sucessiva de US$15 bilhões até encerrar o programa mensal de US$120 bilhões em oito meses, voltado à compra de títulos e outros ativos para dar suporte à economia em meio à crise da Covid-19.
O anúncio do Fed deu clareza e garantia aos investidores de que a redução do suporte monetário seria gradual. O mais importante é que o Fed ressaltou que não estava com pressa para elevar as taxas de juros mantidas entre zero e 0,25% desde o início da pandemia.
Diante desses elementos de suporte ao risco, o ouro à vista saiu da região intermediária de US$1700 e adentrou o nível de US$1800 na quinta-feira.
Já a prata à vista saltou para US$23,63 por onça-troy, nível mais alto desde meados de setembro. Até agora em outubro, sua valorização é de 5,7%, maior avanço desde os 8,3% de maio. Entre junho e setembro, acumulou uma desvalorização de 21%.
O próximo alvo da prata seria um fechamento no nível de US$24,80, o qual vem rondando há algum tempo, declarou Sunil Kumar Dixit, estrategista-chefe do site skcharting.com. Como explica Dixit:
“O gráfico mensal da prata reflete uma intrigante combinação de esperança e desespero, com os preços confinados em um nível de suporte de US$21 e o nível de 38.2% de Fibonacci, a US$ 24.80, há algum tempo”.
No médio prazo, o gráfico semanal mostrou uma zona de confluência formada pela média móvel exponencial de US$24,30, o meio da Banda de Bollinger de US$24,60 e o nível de 38,2% de Fibonacci a US$24,80, declarou Dixit.
“O metal vem sendo negociado acima da média móvel simples de 100 semanas a US$22,42 e um avanço maior pode permitir um teste de todos os níveis de confluência", complementou.
Mas Dixit também alerta que se a corrida altista da prata se encerrar prematuramente, ela pode colapsar para baixo de US$20.
“Dada a indecisão da volatilidade, não se pode descartar a chance de marcha a ré a partir da zona de confluência”, afirmou o analista, dizendo ainda que a rejeição de 24,30-24,80 pode fazer a prata testar o suporte imediato da MMS de 100 semanas a 22,40 que se estende até a MMS de 200 semanas de 19,20.
Ele afirmou que uma queda no ouro também pode desencadear uma desvalorização da prata.
“O ouro, no entanto, demonstra otimismo acima da MMS de 100 semanas a 1765 e ganhou o suporte da MME de 50 semanas a 1790 para testar 1800", explicou Dixit.
“No entanto, a menos que o ouro feche acima de 1800 nas próximas sessões, é bastante provável que ressurjam pressões de venda a cada rali".
Como sempre, a tendência é sua amiga e não perca a moderação ao operar.
Bom fim de semana a todos!
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.