Depois de dois meses seguidos de desvalorização, a prata parece estar prestes a encerrar junho no azul. Mas, para progredir a partir daí, o metal precisa romper e se firmar acima da resistência de US$ 22 por onça-troy, onde tem enfrentado dificuldades nos últimos tempos.
Desde o pico de março acima de US$ 27, tocado na esteira do rali das commodities gerado pela invasão da Rússia na Ucrânia, a prata derrapou de forma constante em abril e maio, registrando máximas menores (de cerca de US$ 26 e 23) e mínimas mais baixas (de cerca de US$ 22 e 20).
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Para quem acompanhou a prata nos últimos anos, o metal foi relegado ao segundo plano no conjunto de metais preciosos. Na maioria dos pregões, a prata raramente gera tanta euforia como o ouro que, apesar do seu desempenho irregular nos últimos dois anos, é considerado o porto-seguro por excelência entre os metais.
Conhecida como “ouro de pobre”, já que é negociada a um valor 84 vezes menor do que o do metal amarelo, a prata vem decepcionando seus investidores, que acreditam nas suas aplicações como metal precioso e industrial. Por ser maleável, a prata é tão boa quanto o ouro para confecção de joias. E também é uma boa condutora de eletricidade, extensivamente usada na fabricação de componentes eletrônicos, o que explica por que mais de 50% da sua demanda é destinada ao uso industrial.
Além disso, a transição para a energia limpa deve impulsionar a demanda física da prata nos próximos anos, já que ela é usada em conexões de veículos elétricos e componentes de painéis solares.
E a demanda industrial pela prata tem sido um pouco lenta neste ano, já que setores da economia americana e mundial continuam sofrendo com os distúrbios na cadeia de fornecimento provocados por dois anos de crise do coronavírus.
Cabe lembrar ainda que os preços da prata geralmente seguem a tendência do ouro, subindo ou caindo em conjunto com o metal amarelo. No mercado, a prata é oficialmente inserida no grupo dos metais preciosos, ao lado do ouro, paládio e platina, onde seu brilho para aplicações industriais não é tão intenso quanto deveria ser.
Apesar de tudo isso, o movimento da prata para o território positivo em junho é encorajador, sobretudo porque ocorre após a maior alta de juros promovida pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) em 28 anos, o qual elevou suas taxas em 0,75% neste mês.
A prata acumula alta de 1% em junho no mercado futuro de Nova York, após uma queda de 6% em maio e 8% em abril.
O primeiro trimestre do metal foi mais forte, com uma valorização de 3% em março e de quase 9% em fevereiro. No acumulado do ano, a prata continua no vermelho, com uma desvalorização de 6%.
Para ficar no positivo, a prata precisa romper a resistência dos US$ 22, em especial US$ 22,50, com vigor, segundo o analista técnico Sunil Kumar Dixit.
“O metal pode continuar registrando pressão baixista no médio prazo, com chances de retornar aos níveis de US$ 19,50 e US$ 18,50, a menos que um fechamento semanal e mensal supere US$ 22,50 e progrida para US$ 23,70", explicou Dixit, que se baseia nos preços à vista da prata em suas análises.
A marca de US$ 22 também foi citada como importante patamar por Christopher Lewis, analista de metais preciosos do portal FX Empire.
“Se nada mudar, é uma marca que continua registrando forte pressão baixista, principalmente após a formação de um grande padrão H”, escreveu Lewis em uma análise emitida na quinta-feira.
Ele disse ainda:
“Se superar a média móvel exponencial de 50 dias, o metal pode continuar subindo e romper o nível de US$ 23, mudando completamente o cenário. No entanto, o mercado deve ser bastante influenciado pelos títulos de renda fixa e, evidentemente, pelo dólar. Preste atenção ao Índice Dólar, que possui uma enorme correlação negativa com a prata na maior parte do tempo”.
O dólar influencia os preços de todas as commodities, principalmente o ouro, considerado seu antônimo.
Mas a prata vem tendo uma correlação bastante inversa com o dólar neste ano, na medida em que vem sendo negociada como um ativo de risco, segundo os analistas da BMO Capital Markets. Isso "não é um bom presságio para os preços se os ventos contrários da economia aumentarem", afirmaram os analistas em um comentário divulgado pelo portal de notícias Kitco.
Dixit disse que o atual preço da prata indicava que o nível de US$ 20,88, que acaba de ser superado, tornou-se suporte.
“Ele está bem em cima da média móvel simples de 200 semanas, a US$ 20,38", declarou Dixit.
“Um rali acima desse patamar pode fazer a prata atingir a média de 200 dias a US$ 23,50 e a de 100 dias a US$ 23,70.”
O analista afirmou ainda que as leituras do estocástico semanal e mensal de 24/23 e 17/16, respectivamente, podem fornecer um impulso limitado de alta para a prata, enquanto a leitura do estocástico diário de 60/56 indica um repique de curto prazo até US$ 23,70.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.