Publicado originalmente em inglês em 30/08/2021
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, parece ter conseguido atravessar bem a corda bamba das expectativas do mercado com seu discurso em Jackson Hole, na sexta-feira, ao reconfortar quem deseja que o Fed comece a reduzir seu estímulo monetário e apaziguar quem não quer ver uma alta de juros em breve.
Powell declarou que o banco central americano começaria a reduzir suas compras mensais de ativos no valor de US$120 bilhões no fim do ano, e não em outubro, como alguns chegaram a dizer. E ele disse ainda:
“O momento e o ritmo da próxima redução das compras de ativos não pretendem fornecer qualquer sinal em relação ao momento da elevação da taxa de juros, para a qual estipulamos um teste diferente e muito mais rígido”.
O presidente do Fed dedicou bastante tempo explicando por que acredita que o atual número de inflação será transitório, o qual está relativamente alto, a mais de 4%, com base na medição do Fed. Ele se esforçou para demonstrar como é complexo o entendimento dos formuladores da política monetária americana quanto à inflação.
Os investidores do mercado ficaram otimistas com tudo isso, e economistas ajustaram suas previsões para a primeira elevação de juros para o início de 2023.
Powell pode estar certo sobre a inflação ser transitória e a economia precisar de estímulo em meio às incertezas da Covid, mas não estamos acostumados com o otimismo por parte do presidente do Fed.
Movimento habilidoso antes de novas indicações ao Fed
Mas seu bom desempenho na corda bamba pode ter favorecido sua renomeação. Já surgem notícias de que o pessoal da Casa branca responsável pelas tomadas de decisão no governo Biden decidiu nomear Powell para um segundo mandato como presidente do Fed, e a governadora Lael Brainard, único democrata no conselho, como vice-presidente de supervisão, em substituição a Randal Quarles, indicado republicano cujo mandado expira em outubro.
Isso deixará felizes aqueles que acham que Powell está fazendo um bom trabalho e garantirá a continuidade e a estabilidade da política monetária em momentos ainda turbulentos. A nomeação de Brainard ao posto de supervisão colocará uma pessoa com rígido histórico de regulação no cargo e tranquilizará progressistas que consideram que Powell vem sendo negligente com os bancos.
Brainard, que inicialmente esperava ser Secretário do Tesouro e, depois, presidente do Fed, deverá continuar sendo uma coadjuvante, satisfeita com seu papel secundário.
A Casa Branca pode, então, preencher o assento vago no conselho com algum progressista certificado, inclinando o órgão cada vez mais em direção a um sucessor ideal para o vice-presidente Richard Clarida, outro republicado cujo mandato como governador convenientemente termina em janeiro.
Assim, teríamos um conselho com sete membros, três dos quais com visões progressistas e um presidente maleável, devendo favores ao governo por mantê-lo no cargo. Ainda não se sabe se essa mudança de ênfase ensejará uma política monetária sensata ou uma boa regulação bancária.
Summers alerta que inflação pode não ser transitória
Larry Summers, ex-secretário de Tesouro que também esperava ser presidente do Fed, alertou novamente, em artigo publicado no Washington Post, sobre os perigos dessas compras de ativos, comparando as decisões de mantê-las mês a mês à visão de curto prazo que resultou nas débâcles militares do Vietnã e Afeganistão.
Summers argumenta que as razões para a reintrodução da flexibilização quantitativa no início da pandemia deixaram de existir, de modo que as compras de ativos estão reduzindo as maturidades da dívida governamental de forma insensata. Ele se opõe à inflação dos preços dos ativos, na medida em que favorece os mais ricos e cria bolhas.
E, uma vez mais, esse economista de Harvard alerta que a inflação pode não ser transitória, na medida em que crescem as evidências de que os aumentos de preço no mercado de trabalho e imobiliário podem ser sustentados, e até mesmo a escassez de insumos na cadeia de fornecimento ameaça durante mais do que o previsto.
Pode ser apenas ressentimento da parte de Summers, mas é importante ter em mente que ele é um economista, e Powell não.