O comportamento do mercado financeiro global, a despeito de cada economia conviver com sua realidade, sugere que, nos últimos dois dias, vislumbra a possibilidade mais efetiva do democrata Joe Biden vir a ser o novo Presidente dos Estados Unidos, e desta forma vem ajustando os preços dos seus ativos eliminando o conteúdo “psicológico” que causou movimentos defensivos no momento pré-eleitoral.
Evidentemente, caso ocorra, a mudança da gestão republicana ao estilo Trump para gestão democrata implicará em mudanças dantescas em setores relevantes, mas certamente menos conflituoso e antagônico, portanto mais alinhados com a coerência.
Nem tudo serão “flores” para o mercado financeiro, mas a sinalização é de que poderão ser resgatados comportamentos mais simétricos com as aspirações do mercado.
A ocorrência de judicialização poderá causar perturbações e estressamentos nos mercados.
E no Brasil, houve naturalmente um movimento defensivo, já necessário devido a severa fragilidade do quadro fiscal do país, que o coloca num “corner” num momento em que a economia dá sinais de melhora da dinâmica da atividade econômica, acentuado pelas incertezas em torno das eleições americanas que se somaram as preocupações locais.
Estranhamente à reação, a perspectiva com Biden no governo americano é um endurecimento nas relações com o Brasil, com pressões as mais diversas em inúmeros aspectos, e isto é sugestivo de tensão e não de distensão como ocorre no mercado.
Mas, enfim, o preço do dólar e a B3 (SA:B3SA3) se recompõe a comportamentos “descontaminados” das pressões imediatas decorrentes da cena internacional, e tendem a voltar aos seus quadros antecedentes, quais sejam dólar no entorno de R$ 5,60 e B3 rondando os 100.000 pontos, sem perspectivas de grandes afastamentos destes pontos, mas sempre com muita volatilidade, até porque a situação fiscal do país é estimulante a esta ocorrência.
Após estes ajustes não vemos expectativas maiores, visto que falta homogeneidade à recuperação gradual da economia, com a ausência maior do principal fator de dinamização qual seja o setor de serviços que ainda é claudicante, enquanto o dólar continuará sendo o “porto seguro” para a preservação de valor.
Riscos há à farta, como as circunstâncias que cercam o governo e o colocam num “corner” que impõe a continuidade dos programas assistenciais sem que disponha de fontes de financiamento, o que aponta para o risco de eventual rompimento do teto orçamentário, agravando sobremaneira o expressivo risco fiscal já presente.
Outro risco é o de recaída significativa do consumo com a redução dos programas assistenciais do governo, ainda não bem aferidos em seus impactos na demanda.
O “câmbio alto” dá suporte aos preços inflacionados dos produtos alimentares, e, a tendência é de que as elevações dos preços sejam permanentes e não temporários na economia como sugere o BC/COPOM e ainda, que desta vez o juro precisará ser ajustado não para combater a inflação diretamente, mas para melhor equacionamento de preço do dólar, e desta forma reduzir o impacto nos preços dos produtos exportáveis no mercado interno.
O governo e o Congresso nacional precisam ser ágeis no andamento das reformas, sem o que o país pode “travar” e ficar sem condições de sair das retóricas em torno de ideias que se constituem meros anseios e não se consolidam.
A derrubada do veto do Presidente à desoneração de encargos trabalhistas de alguns setores da economia, ocorrida ontem, pelo Congresso foi positiva, mas certamente, vai haver pressão política para que ocorra como sugerida pelo Ministro Guedes, se der para alguns deve dar para todos. E isto só faz piorar o quadro fiscal.
Na margem, passa a ganhar foco maior a 2ª onda da pandemia do coronavírus afetando economias relevantes e impondo “lockdown” das atividades, menos letal, segundo afirmam, mas tão ou mais paralisante do que antes, e, embora o Brasil tenha números sugerindo que está saindo da 1ª onda, não deixa de ser preocupante, pois a ocorrência de uma 2ª onda no país encontrará o governo sem condições financeiras de dar suporte às populações carentes.
A tendência é que tenhamos “mais do mesmo” do quadro antecedente, ou seja, dólar em torno de R$ 5,60 com viés de alta e B3 em torno dos 100.000 pontos, ambos ativos com muita volatilidade e muito “day trade”.
Não há pressão efetiva de demanda de dólares no mercado futuro, e isto está evidente no saldo do fluxo cambial de outubro fechado negativo em tão somente US$ 1,31 Bi.
A demanda que afeta o preço é por proteção, hedge comercial e não hedge comercial, e cabe ao BC atuar, o que não tem feito recentemente, com oferta de contratos de swaps novos ao invés de venda de dólares no mercado à vista.