Em continuação ao meu artigo anterior, onde exploramos a vida através da lente da teoria do portfólio, gostaria de aprofundar em alguns princípios relevantes e sobre como podemos aplicar estes princípios do mercado de capitais para vivermos uma vida mais significativa e equilibrada.
O Princípio da Fronteira Eficiente
No mercado de capitais, a fronteira eficiente é uma ferramenta que ajuda os investidores a entender a relação entre risco e retorno. É a linha que representa os portfólios que dão o maior retorno possível para um dado nível de risco.
Na vida, podemos interpretar a fronteira eficiente como a busca pelo ponto ideal entre nossos esforços (risco) e nossas recompensas (retorno). Para encontrar nosso próprio equilíbrio, precisamos avaliar constantemente nossas ações, garantindo que estamos obtendo o máximo valor das nossas escolhas.
Pense em um indivíduo que trabalha 80 horas por semana em um trabalho de altíssima remuneração. O retorno financeiro é alto, mas o "risco" ou custo é o esgotamento, a falta de tempo livre e o possível distanciamento de amigos e família. Em contraste, alguém que trabalha 20 horas por semana pode ter mais tempo livre e menos estresse, mas talvez não esteja maximizando seu potencial de ganhos.
A fronteira eficiente pessoal pode estar em algum ponto intermediário, onde a pessoa equilibra adequadamente trabalho e lazer para produzir mais densidade de vida.
A chamada “Teoria do Set-Point da Felicidade” sugere que cada pessoa tem um nível base de felicidade que é relativamente estável ao longo da vida, mas eventos ou escolhas de vida podem desviar temporariamente a pessoa desse ponto. certos eventos ou escolhas podem desviar alguém de seu set-point de felicidade. Por exemplo, eventos traumáticos, decisões profissionais equivocadas podem influenciar temporariamente nosso nível base de felicidade. Encontrar o equilíbrio ideal entre esforço e recompensa (satisfação) pode ajudar a manter a felicidade mais próxima ou até mesmo acima deste set-point. (Fonte: Lykken & Tellegen, 1996).
Na economia existe a chamada “Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes”, segundo a qual à medida que um fator de produção (como o trabalho) aumenta, mantendo outros fatores constantes, o acréscimo na produção resultante desse fator adicional diminuirá. Em outras palavras, após um certo ponto, colocar mais esforço em uma atividade (como trabalhar horas extras) pode resultar em recompensas cada vez menores (como dinheiro ou satisfação).
Além disso, se estudarmos algumas pesquisas sobre trabalho e bem-estar encontramos estudos que demonstram que, após atingir um certo limiar de renda, o aumento adicional na renda tem um impacto diminuto no bem-estar e na satisfação com a vida. Isso ressalta a importância de encontrar o equilíbrio ideal. (Fonte: Kahneman & Deaton, 2010).
Nesse contexto é que desenvolvi o conceito de “PORTFÓLIO DA VIDA”, abordando três aspectos:
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Profissional: Nossas vocações, pontos fortes, relacionamentos interpessoais, realização e satisfação no trabalho, etc.
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Espiritual: Nossa fé, nossas esperanças, nossa comunhão com Deus e com nossos semelhantes, etc.
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Financeiro: Organização financeira, dívidas, planejamento financeiro familiar, controle emocional, hábitos de consumo, etc.
É fundamental realizarmos autoavaliações regulares, refletindo sobre o equilíbrio de nossas atividades diárias, riscos e recompensas associadas. O que não podemos nos permitir é viver uma vida na qual investimos desproporcionalmente em uma única área, negligenciando outras que são igualmente vitais.
Precisamos desenvolver nossas habilidades e encontrar nossas vocações em cada área. Precisamos entender e considerar outros "ativos" na vida além do trabalho, como relacionamentos, hobbies e saúde, e como eles se encaixam no portfólio da vida.
Caros leitores, concluir que a vida é, em muitos aspectos, semelhante a um portfólio de investimentos não é apenas uma metáfora cativante, mas também uma ferramenta prática para avaliar o nosso dia a dia. Cada decisão que tomamos, consciente ou inconscientemente, adiciona ou subtrai valor ao portfólio da nossa vida pessoal.
Abaixo, apresento o esboço do meu primeiro conceito gráfico do "Portfólio da Vida", uma representação visual que busca ilustrar a relação entre risco (esforço, tempo, energia) e satisfação em diferentes áreas da nossa vida. Esta imagem é um convite à reflexão sobre como estamos distribuindo nosso tempo, energia e recursos nas diversas esferas da vida.
Como você pode observar no gráfico, existem diferentes tipos de portfólios que representam diferentes níveis de risco e satisfação. O "Portfólio Equilíbrio", por exemplo, representa o ponto de equilíbrio ideal entre risco e recompensa em todas as áreas da vida. Não necessariamente significa o máximo de satisfação, mas é o ponto onde sentimos que os riscos que assumimos valem a pena.
Não é apenas sobre quanto nos esforçamos em cada área da nossa vida, mas o quão significativo é o nosso esforço. Convido você a refletir sobre o “portfólio da vida”. Quais áreas estão assumindo riscos sem um retorno satisfatório? Quais estão negligenciadas? E mais importante, como você pode rebalancear para viver uma vida mais significativa?