Em 1952, Harry Markowitz publicou o artigo “Portfolio Selection” (Seleção de Portfólio) no Journal of Finance (Jornal de Finanças). Sua teoria sugeria que, em vez de simplesmente olhar para o retorno esperado de um único ativo, os investidores deveriam considerar o retorno de todo o portfólio. Mais importante, Markowitz introduziu o conceito de diversificação, afirmando que ao diversificar, os investidores poderiam alcançar retornos com menor risco. Na vida, isso implica que colocar todos os nossos esforços em uma única área aumenta o risco. Ao diversificar nossos esforços nas diferentes áreas da vida, podemos alcançar um equilíbrio mais saudável.
William Sharpe, em 1966, introduziu o “Ratio de Sharpe” (Índice de Sharpe), uma medida que avalia o retorno ajustado ao risco de um investimento. O raciocínio é simples: para qualquer nível de risco, deveríamos buscar o máximo retorno. Traduzindo isso para a vida, implica que para qualquer sacrifício ou esforço que fazemos (risco), deveríamos buscar a máxima compreensão e dedicar a nossa máxima atenção, mesmo que sem esperar algo em troca. Isso porque, nas palavras de Philip Stanhope, “tudo o que vale a pena ser feito merece e exige ser bem feito”. Essa abordagem pode ser aplicada ao avaliar decisões de carreira, relações pessoais e até a vida espiritual.
Robert Merton, por sua vez, em 1973, com seu trabalho sobre preços de ativos em tempo contínuo, expandiu a teoria de precificação de ativos para contextos mais complexos, considerando opções e derivativos. Assim como na complexa teoria de Merton, a vida frequentemente nos apresenta situações complexas e imprevistas.
O aprendizado aqui é que, assim como os ativos financeiros têm opções que podem ser avaliadas, nós também temos opções em nossa vida (sempre temos) – seja uma carreira para a qual nos sentimos mais vocacionados e realizados, uma pessoa com quem iremos nos relacionar amorosamente e que entendemos que nos inspira e nos traz paz – que podem ser valorizadas em diferentes circunstâncias. Sempre temos opções.
Em 1990, Markowitz, Sharpe e Merton foram agraciados com o Prêmio Nobel de Economia com esta conclusão, em síntese: o risco de um portfólio de investimentos não é primariamente determinado pelo risco individual de cada ativo, mas sobretudo pela forma como esses ativos interagem entre si.
No "portfólio da vida", o risco de não encontrarmos nossas vocações e não nos sentirmos realizados não é primariamente determinado pelos riscos que assumimos em cada área da nossa vida, mas principalmente pelo equilíbrio entre elas ou pela forma como elas se relacionam entre si.
Neste artigo, apresento como a lógica do mercado de capitais pode ser aplicada à vida.
Em outras palavras, assim como os investidores buscam otimizar seus retornos ajustando seus portfólios de investimentos, poderíamos nós também otimizar nossas vidas ao equilibrar cuidadosamente os diversos “ativos” da nossa existência?
1. Entendendo a Teoria do Portfólio
A teoria do portfólio centra-se na otimização de retornos com base na diversificação de ativos. Ao espalhar investimentos em uma variedade de ativos que não estão correlacionados (ou que possuem correlação negativa), é possível alcançar um melhor equilíbrio entre risco e retorno.
Nesta perspectiva, a interação entre os ativos pode ser mais influente na performance do portfólio do que o desempenho de um único ativo.
2. A Vida como um Portfólio
Ao analisarmos nossa vida sob a lente da teoria do portfólio, começamos a ver que cada aspecto dela - seja família, carreira, saúde, espiritualidade, entre outros - pode ser tratado como um “ativo” distinto.
Cada um desses “ativos” tem seu próprio conjunto de riscos e retornos associados. Por exemplo, dedicar excessivo tempo à carreira pode oferecer retornos financeiros maiores, mas pode também apresentar riscos para a saúde e relacionamentos. Analogamente, um foco exclusivo em lazer pode trazer satisfação imediata, mas corre o risco de negligenciar responsabilidades profissionais e pessoais. O desafio, portanto, é equilibrar esses diferentes aspectos da vida de forma que a soma total resulte em uma vida mais significativa.
3. Correlações entre os Ativos da Vida
Assim como no mercado de capitais, onde diferentes ativos têm diferentes correlações que afetam o desempenho geral de um portfólio, os aspectos de nossa vida também se inter-relacionam de maneiras distintas.
Por exemplo, consideremos a saúde física e o bem-estar mental. Há uma correlação positiva entre os dois: um corpo saudável pode frequentemente promover uma mente saudável. No entanto, em outras áreas da vida, podemos encontrar correlações negativas, como entre o excesso de trabalho e a vida familiar. Ao trabalhar excessivamente, pode-se ter menos tempo e energia para dedicar à família, o que pode afetar a qualidade dos relacionamentos.
Portanto, assim como um investidor busca equilibrar seu portfólio com ativos que se movem em direções opostas em diferentes circunstâncias, pode ser benéfico equilibrar nosso investimento de tempo e energia entre áreas da vida que não estão perfeitamente correlacionadas, assegurando uma vida mais harmoniosa e resiliente diante das adversidades.
4. Rebalanceamento do Portfólio da Vida
Os portfólios são frequentemente reavaliados e rebalanceados para garantir que estejam alinhados com os objetivos do investidor. De modo semelhante, nossas vidas necessitam de avaliações periódicas para garantir que estamos no caminho certo em relação aos nossos objetivos pessoais. Talvez, em um determinado momento, tenhamos que dedicar mais tempo à carreira para atingir um objetivo profissional. Em outro momento, pode ser mais benéfico focar na saúde ou nos relacionamentos. O importante é reconhecer que a vida, assim como os mercados, está em constante mudança. Ter a capacidade de adaptar-se, avaliar e recalibrar nosso “portfólio de vida” é crucial para manter o equilíbrio.
5. Medidas de Risco e Retorno no Portfólio da Vida
Cada decisão que tomamos tem suas próprias recompensas e riscos associados. Por exemplo, perseguir uma carreira altamente exigente pode oferecer grandes recompensas financeiras e profissionais, mas pode vir com o risco de esgotamento ou estresse. Da mesma forma, dedicar tempo à família e amigos pode não ter retornos tangíveis imediatos, mas proporciona benefícios emocionais e psicológicos a longo prazo. Avaliar e entender essas "taxas de retorno" nos ajuda a melhor compreender o sentido da vida e as nossas vocações.
Conclusão
Ao explorar o conceito do “Portfólio da Vida” por meio das lentes do mercado de capitais, busquei neste artigo introduzir uma abordagem inovadora ao planejamento das nossas vidas. Em vez de tratar aspectos da vida de forma isolada, propus uma análise holística, levando em consideração as correlações entre diferentes domínios da nossa existência.
A ideia central é que o sentido da nossa vida e nossa própria alegria podem ser influenciados pela maneira como equilibramos e integramos espiritualidade, profissão, família, etc.
Ao entender e aplicar tais correlações de maneira salutar, tem-se o potencial de produzir uma densidade de vida maior, alinhada à nossa vocação e propósitos mais profundos.