Definitivamente essa não foi uma semana para celebrações no mundo do açúcar. Todas as bruxas foram soltas e todos os cisnes negros rondaram os céus escuros do mercado.
Primeiro, a China com o imposto de importação sobre o açúcar de determinadas origens, entre elas o Brasil. Como o preço do mercado interno chinês está o dobro do preço no mercado internacional, o ágio incentiva o aumento do fluxo de açúcar da Tailândia para Myanmar, que depois ingressava na China. A China quer evitar isso e colocou um imposto de 95%. O Brasil é o país mais prejudicado.
Depois disso, a Petrobras (SA:PETR4) anunciou de maneira inesperada, na quinta-feira, dia 25, uma redução de 5.4% no preço da gasolina para as refinarias. Numa semana em que o real se desvalorizou fortemente em relação ao dólar por conta da turbulência política que atinge Brasília e, em que o petróleo se recuperava lentamente no mercado internacional, a atitude da Petrobras pode ter parecido ilógica.
Alguns cálculos comentados pelo mercado dão conta de que a empresa deveria aumentar o preço ao invés de reduzí-lo. No entanto, efetivamente, havia espaço para a redução no preço da gasolina pelo critério que usamos que compara o preço interno ao consumidor com o preço médio da gasolina em 100 países. Por esse critério, pelos cálculos da Archer, o preço justo da gasolina na bomba em São Paulo, deveria ser de R$ 3,1500 o litro. Na semana passada, o preço médio negociado na cidade de São Paulo, segundo a ANP foi de R$ 3,3570 o litro. O problema, no caso da Petrobras, foi o timing.
A estatal brasileira do petróleo, preocupada com a queda nas vendas de combustível, entendeu que o melhor momento era agora. Essa alteração, no entanto, fez com que grande parte dos analistas, inclusive este humilde escriba, mordesse a língua. Em especial quando o anúncio da empresa vem um par de horas após termos enviado aos nossos clientes um relatório em que dizíamos acreditar “que já vimos a baixa do açúcar este ano (15.12 centavos de dólar por libra-peso dia 27 de abril) e, apenas em condições extremamente desfavoráveis no campo político e econômico no Brasil fariam com que NY negociasse abaixo de 15 centavos de dólar por libra-peso”. O problema, no caso desse escriba, foi o timing.
Evidentemente, quando diferentes critérios apontam para direções diferentes, o problema reside na transparência da formação de preço. Quem pagou o pato, mais uma vez, foi o setor sucroalcooleiro: redução no preço da gasolina afeta o preço do etanol e aumenta a possibilidade de um mix de produção mais açucareiro possível, pressionando os preços do açúcar na bolsa de NY.
Por último, a UNICA divulgou a moagem e produção do Centro-Sul na primeira quinzena de maio e os números foram menores do que o ano passado, mas o mercado não gostou. Se o clima permitir, o mercado trabalha com uma moagem em torno de 586 milhões de toneladas de cana e uma produção de 35.5 milhões de toneladas de açúcar. Se o tempo permitir !!! A capacidade máxima de moagem, assumindo 85% de aproveitamento, está em torno de 629 milhões de toneladas de cana. O Centro-Sul deve moer 2.5 milhões de toneladas de cana por dia. Se tivermos um inverno chuvoso como em 2010, a produção pode ser comprometida.
Bem, o mercado em NY ainda não negociou abaixo dos 15, mas fez novas baixas: na sexta-feira, o vencimento julho/2017 bateu 15.02 centavos de dólar por libra-peso, fechando “heroicamente” nos 15.05 centavos de dólar por libra-peso.
E agora? O que fazer? É tentador, para as usinas, recomprarem seus hedges (desde que tenham suas contas de futuros próprias) pois, da mesma forma que não existe mercado que permanece indefinidamente dando altos retornos sobre o custo de produção, como ocorreu no período de outubro do ano passado até o início deste ano, não existe mercado que fica indefinidamente abaixo dele, num cenário de médio e longo prazo que é fundamentalmente construtivo.
Os consumidores industriais podem estar diante de uma excelente oportunidade de compra de insumos ou de fixação de preços.